Numa cerimónia singela, foi feita a doação simbólica da biblioteca particular de Maia Alcoforado à Câmara Municipal de Mira.
A doação foi realizada pelos netos do conhecido republicano, D. Carmina Paula Tavares dos Santos e Sr. Ulisses Paulo Tavares dos Santos, ao presidente do município, Dr. Raul Almeida, conforme vontade expressa dos falecidos pais, herdeiros do conhecido republicano. No momento, o Dr. Raul Almeida agradeceu a doação, enalteceu os valores dos herdeiros fazendo valer a vontade dos pais falecidos e reconheceu o valor de Maia Alcoforado como homem, político e intelectual tão estreitamente ligado a Mira.
Maia Alcoforado foi casado com D. Carmina Moreira da Silva, professora primária de Mira até ao final dos anos 60, tendo o casal adotado como filha D. Ana Maria Pereira Tavares dos Santos que, anos mais tarde, casaria com o Sr. Ulisses dos Santos Reigota, herdeiros que manifestaram vontade em doar a biblioteca ao município.
Os herdeiros de Maia Alcoforado, conhecedores e apreciadores do talento e da obra do familiar, desde sempre valorizaram a sua biblioteca particular, compostas de obras emblemáticas da sua ideologia na geração em que viveu.
A biblioteca em questão ficará, depois de totalmente tratada e recuperada, disponível ao público na Biblioteca Municipal de Mira, enriquecendo, deste modo, a cultura gandaresa.
Sobre Maia Alcoforado
Maia Alcoforado é o nome por que ficou conhecido o republicano e antifascista José Francisco de Paula da Ressurreição Oliveira Maia Alcoforado, nascido em Panóias, localidade do concelho de Ourique a 2 de abril de 1899 e falecido em Mira em janeiro de 1974.
Maia Alcoforado veio residir para Mira na sequência do casamento com a professora primária D. Carmina Moreira da Silva, tendo adotado como filha Ana Maria Pereira Tavares dos Santos.
Em 1916 começou a trabalhar como jornalista no jornal “A Capital” e, ao longo da vida, colaborou com diversos jornais portugueses com relevo especial para O Século, O Primeiro de Janeiro e O Diário de Coimbra. Em Mira foi o diretor do jornal A Razão.
Com um percurso político revolucionário, manifestamente republicano e antifascista, esteve exilado em Espanha tendo acabado por ser preso, em Portugal, em 1932. Esteve preso pela PIDE entre 30 de julho de 1937 e 17 de julho de 1938.
Defendeu a participação de Portugal, e participou, na 1ª Guerra Mundial tendo, por isso, sido condecorado. Por essa razão, em Mira, foi um dos responsáveis pela realização do Monumento aos Mortos da Grande Guerra.
Foi autor dos seguintes livros: “Cartas que Vogam” (1923),”Crónicas de Qualquer Dia” (1925),”Poalha Doirada” (1926),”Ílhavo Terra Maruja, Marujos da Terra dos Ílhavos” (1933), “À Boca Pequena…” (1935) e “A Corografia e o Desporto” (1946).
Desempenhou funções na Fundação Calouste Gulbenkian, no setor das bibliotecas e da leitura.