Catarina Lavrador, uma das mentoras da “Bem te quero” dá o seu testemunho sobre onde podem chegar as “pequenas e grandiosas” ideias do amor ao próximo…
Quem conversa, mesmo que ao telemóvel, com Catarina Lavrador, consegue ver um brilho nos olhos, apenas através da sua voz. A forma como fluem as palavras vindas da sua boca, denota que, antes de tudo… saem do coração!
Professora, mãe de três filhas, esta cidadã residente em Mira colocou em marcha, sempre em conjunto com outras amigas, um plano de auxílio que pudesse contribuir para amenizar o sofrimento de muitas pessoas, ainda durante o primeiro confinamento… há um ano atrás!
“Nosso objetivo principal, numa fase inicial, foi a de pedir, receber e entregar a quem necessitasse, doações de roupas, calçados e outros bens” diz, ela… que é quem acredita, e assume frontalmente, que “mesmo que desconhecêssemos, havia muita pobreza escondida ou envergonhada, que acabou por sobressair com a chegada desta malfadada pandemia!”
Assim sendo, abrir uma página no Facebook e partilhar a ideia, foi – literalmente falando – a parte mais visível e a mais fácil de ser feita. Difícil, mesmo, foi reconhecer, através de muitos pedidos “tantas vezes, desesperados, de mães a pedir leite para os filhos” que era preciso, ainda e urgentemente, passar para um nível superior, um patamar acima nas nessidades prementes.
“A alimentação não era, de todo o nosso primeiro objetivo, o nosso foco inicial”, diz Catarina, para ir, posterioremente, ainda mais além: “Mas, sermos contatados por pessoas em extremas dificuldades no que se refere a colocar um prato de comida na mesa, acabou por ser algo que transformou o “Bem te quero” em algo muito mais importante que uma página de rede social que pretendia cooperar com a sociedade de uma forma discreta, sem alardes, sem querer projetar as pessoas, em algo que contribuísse, também, para matar a fome”.
O tempo foi passando e, durante o período do Natal, surgiu a ideia de serem produzidos cerca de vinte cabazes. Porém – flizmente – acabaram por ser elaborados trinta cabazes “francamente, muito bons, com um grande bacalhau, por exemplo, em cada um deles” conta, para dar a saber que, desta ideia, veio outra e mais outra. A partir daí, “começaram a ser produzidos cabazes mensais e, agora, no período da Páscoa, fizemos mais cinquenta…”
Por isso tudo e, contando com as preciosas contribuições de inúmeros particulares e do Agrupamento Escolar de Mira, cujos professores têm passado a palavra e conquistado ajudas importantes, o “Bem te quero” ultrapassou, já há bastante tempo, a fase inicial, do aprendizado, do “não saber como as pessoas iriam reagir” para um patamar, onde a certeza de que a solidariedade está sempre presente – muito mais ainda, nos momentos mais difíceis – extrapolou as fronteiras de Mira e de concelhos muito próximos, uns aos outros. Basta saber que, por conta desta ideia de solidariedade, já existem elementos a contribuir para que pessoas e famílias carenciadas sejam atendidas o mais rápido possível, em muitos locais, tais como a Tocha, a Figueira da Foz, Pombal, Cantanhede, Coimbra, a Bajouca (Leiria) ou Oiã (Oliveira do Bairro), numa verdadeira rede de apoio solidário arquitetada e construída por pessoas comuns, sem estarem a espera de reconhecimentos da sociedade, nem de títulos honoríficos.
O que se pretende, nesta que é apenas uma das muitas redes nascidas, para e pelo bem comum, é que nunca lhes faltem os apoios que vão recebendo diariamente. Que nunca lhes faltem as dádivas que, humildemente – como meros colaboradores – vão repassando a quem precisar de algo. Os “Bem te quero” nascidos da dificuldade alheia, são grupos compostos, antes de tudo, por seres humanos. O que os “Bem te quero” desejam, é que o futuro seja mais risonho e que, rapidamente, cada vez menos famílias – compostas de seres humanos – deles necessitem…
Jornal Mira Online
Imagens: Bem te quero