A Barrinha
“Ao lado do areal onde se finca a povoação de Mira (Praia) há um resto da ria de Aveiro, que teve noutros tempos uma saída para o mar e que se chama ainda Barrinha (…) É uma gota de água pensativa a cinquenta metros do mar. Canaviais e areias…, mas a lagoazinha bebe a luz do céu e parece ainda mais melancólica e pacífica ao lado do grande oceano atormentado (…)” (Raúl Brandão)
A Barrinha é um encanto que mora no coração da Praia de Mira. A propósito dos pescadores Alfredo Pinheiro Marques disse que, “é gente calorosa e com um coração do tamanho do Mundo; mas gente abandonada ao seu próprio destino, à sua própria liberdade…; e gente desprezada pelas burocracias oficiais das entidades que nem sequer souberam nunca o que é o mar…e que asfixiaram a atividade produtiva dos pescadores e que quase acabaram com ela. As entidades oficiais do mesmo Estado (de Lisboa) que, durante séculos aqui vieram buscar impostos…”
O caso da Barrinha é um bom (mau) exemplo de abandono, por parte do Estado, seu “dono”. Ao longo dos anos o PS (na Câmara e na Junta de Freguesia) bateu-se por uma intervenção profunda na Barrinha, em centenas de ações quer na capital, quer nos organismos regionais ao nível da Associação dos Municípios da Ria. É verdade que muitas vitórias foram conseguidas, a nível do saneamento e do sistema integrado, a nível da execução de iluminações e pistas clicáveis que valorizaram as margens da Barrinha, quer conquistando mesmo um Prémio Nacional do Ambiente. Não podemos esquecer que a Barrinha recebe água proveniente da Fervença e não basta tratar só a Barrinha, é preciso cuidar de todo o sistema. Todavia, o Estado nunca permitiu uma intervenção cuidada e na dimensão que a Barrinha merecia. Salvou-se o Canal de Mira que esteve completamente moribundo; levou-se o saneamento até Cantanhede para salvar as nossas valas, mas muito falta. Há cerca de 7 anos, na vigência do Governo Socialista foi aprovado o Programa Polis da Ria de Aveiro que visava a intervenção de toda a Ria, desde Ovar à Barrinha e Lagoa de Mira. Abria-se uma nova esperança para a Barrinha e seu leito, aliás o principal objetivo da inclusão do concelho de Mira no Polis prendia-se com a intervenção na Barrinha. Contudo, já com este Governo, em 2012, fechou-se de novo esta “janela”, com a suspensão do Programa Polis, por motivos eleitoralistas (eleições autárquicas). Perdia-se mais uma oportunidade de concluir processos que produzissem uma intervenção séria, nesse momento com o argumento da crise e da austeridade, não faltando, contudo, verbas para opções bem menos justificáveis.
De novo estamos numa fase pré-eleitoral, mas o pior que podia acontecer é partidarizar-se temáticas desta importância. Portugal irá beneficiar de milhões de euros de fundos europeus, devem ser aproveitados, mas não podem servir de desculpa para terem perdido a possibilidade de intervenção com o Programa Polis. Queremos acreditar que seria possível, atempadamente, recuperar projetos credíveis da Barrinha.
O recente anúncio da Câmara Municipal (cedendo ao Governo e à Polis Ria de Aveiro e aceitando que não se farão as obras anteriormente aprovadas e protocoladas) é uma má notícia reveladora da falta de vontade política de quem nos Governa.
O Partido Socialista continuará, como sempre, disponível para colaborar, com as outras forças politicas, no sentido de ainda irmos a tempo de resolver assuntos tão importantes.
A Barrinha anseia. A Praia de Mira merece, porque a vida aqui continua a não ser uma “mentira”.
Partido Socialista de Mira