Os concessionários da Barrinha da Praia de Mira andam “bastante preocupados” com a diminuição do nível de água daquela que é uma das maiores atrações turísticas do Concelho de Mira.
O Jornal Mira Online conversou com duas das pessoas, cujas famílias dependem diretamente da normalidade do local. Adélia e Ana Saborano, que deram voz à preocupação dos cinco concessionários do local.
Segundo Adélia Saborano, a água da Barrinha “terá descido cerca de 40 centímetros, pois anda sempre a sair e acaba por não entrar, ficando retida no Casal e nos Olhos da Fervença”. Ainda segundo a concessionária, “quando isto estava a cargo da Junta de Freguesia, nunca aconteceu mas, agora, vivemos uma situação bastante complicada e tememos que durante o mês mais forte, que ajuda a garantir o nosso sustento durante o ano, não possamos trabalhar devidamente ou, pior ainda, teremos de parar o trabalho!”
Garantindo que “em 66 anos nunca vi nada assim” Adélia Saborano é corroborada pela sobrinha Ana, que assume compreender que “neste ano tem havido pouquíssima chuva” mas, garante “estar bastante preocupada também, pois a Barrinha é procurada por muitos turistas que são confrontados com a dificuldade de poder utilizar os nossos equipamentos por conta do absurdo de… não haver água suficiente!”
Francisco Reigota: “Com a falta d´água, era necessário haver o dobro da boa gestão dela!”
Contactado pelo Jornal Mira Online, o Presidente da Junta de Freguesia da Praia de Mira afirmou que o momento atual deve ser visto “em duas vertentes: primeiro, devemos ser intelectualmente honestos e reconhecermos que este é um ano atípico por conta das condições climatéricas mas, em segundo lugar, por isso mesmo deveria haver o dobro da boa gestão da água, um bem de extrema necessidade para todos!”
Segundo Francisco Reigota, “deveria ter acontecido atempadamente a limpeza das entradas da Vala Real. O assoreamento ali existente dificulta imenso a que todo o processo de entrada da água se faça em condições aceitáveis”. Reigota reconhece a “colocação de sacos de areia por parte da Proteção Civil, mas isso ainda não foi feito na plenitude o que, para além da algumas pessoas estragarem o que está feito, contribui para que a situação não seja devidamente acautelada”. Mais, o Presidente da Junta deixa a mensagem de que “a saída de água dos Parques de Campismo e do Lago do Mar deviam estar devidamente detalhadas… em suma, se isso tudo não for muito bem feito, poderá ser colocado em causa o ecosistema local.”
O autarca afirma ter alertado “a cerca de dois, três meses a Proteção Civil, o senhor Presidente da Câmara Municipal e os Vereadores sobre esta situação, inclusive, novamente, no dia do hasteamento da Bandeira Azul” sendo que “todos reconheceram o problema afirmando que iam tentar intervir da melhor forma possível para minimizar as dificuldades.”
Bruno Alcaide: “Esta é uma situação bem mais complicada do que parece!”
Convidado pela reportagem a dar a visão da Câmara Municipal de Mira sobre este assunto melindroso, o Vereador Bruno Alcaide mostrou-se “bastante preocupado com esta situação” mas, garantiu que o problema é bastante “mais complicado do que aquilo que parece, a primeira vista”.
Segundo o autarca, “Portugal está assolado por uma seca extrema e na nossa região, infelizmente, é já bem perceptível a falta de água.”. Entretanto, disse o Vereador, “a Proteção Civil fez um açude para conseguir reter alguma água e estamos a acabar de fazer a limpeza na Vala das 4 Entradas, no sentido de tentar melhorar o fluxo d´água”.
Bruno Alcaide deixa, ainda, uma adenda à complexidade do problema: “A falta d´água está a influenciar em tudo, incluindo as regas para os alimentos e esta situação não pode ser descurada de maneira alguma, pois elas são fundamentais para que o trabalho agrícola se faça de maneira normal e completa!”. “Os açudes estão autorizados pela APA – Agência Portuguesa do Ambiente – para fazer-se regas para alimentação” continua, “e temos de compreender que hajam prioridades”.
Entretanto, a Câmara está “a espera de mais uma visita da APA, ainda para esta semana… a ideia é de que os técnicos vejam “in loco”, novamente o que está a se passar, pois é muito preocupante o estado dos recursos hídricos, neste momento. Esta gestão foi assumida pela Câmara faz já alguns anos e isto nunca aconteceu. Acontece agora por ser um ano atípico.”
Garantindo que “continuaremos atentos todos os dias, para podermos tomar atitudes com brevidade por forma a mitigar os efeitos da seca”, o autarca, entretanto, concluiu sem deixar grandes ilusões: “se não houver débito de água na nascente, não há muito o que possa ser feito e, atualmente, as infomações não são nada animadoras neste sentido…”