O ator Alberto Villar, morreu hoje aos 87 anos, em Lisboa, onde estava hospitalizado, confirmou à Lusa fonte familiar.
Nascido em 1933, Villar estreou-se como amador no Grupo Miguel Joaquim Leitão, em Leiria, e, como profissional, em 1959, na companhia itinerante de Rafael de Oliveira, onde se manteve até 1961, e com a qual percorreu o país em sucessivas digressões.
Um convite para participar na peça “O Alfageme de Santarém”, de Almeida Garrett, na RTP, levou-o a decidir encetar pela carreira de ator a tempo inteiro. Seguiu-se na RTP “Carmosina” (1963), ao lado de Alina Vaz, peça baseada na obra do escritor francês Alfred de Musset, numa adaptação televisiva de Ema Paul.
A sua carreira foi marcada por várias digressões, tanto em Portugal como no estrangeiro, nas distintas companhias a que pertenceu, nomeadamente na de Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, Metrul, onde foi também encenador, na de Francisco Ribeiro, ou no Teatro de Todos os Tempos e na Companhia Independente de Teatro e no Teatro Experimental de Cascais (TEC).
Uma das últimas vezes que surgiu em palco foi em 2015, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, na peça “Cyrano de Bergerac”, de Edmond de Rostand, que João Mota encenou.
Em 2016, participou, com Carlos Quintas, na peça “Faz-te ao Largo” , de Carlos Cabral, encenada por Ruy de Matos e levada à cena no Teatro Armando Cortez, em Lisboa.
Alberto Villar era o nome artístico de José Alberto do Espírito Santo, nascido em Leiria a 02 de novembro de 1933.
No Teatro Nacional D. Maria II, desde a sua reabertura, em 1978, participou em várias peças, designadamente, “Auto da Geração Humana”, “O Judeu”, “Pedro, o Cru”, “Auto de Santo António”, “As Fúrias”, “Ricardo II”, “Felizmente Há Luar”, “As Alegres Comadres de Windsor” ou “Os Filhos do Sol”. A sua carreira de mais de 50 anos está muito associada ao D. Maria II, onde esteve em cena quando se deu o incêndio no edifício, em 1968.
“Foi um dia muito triste”, recordou, numa entrevista à agência Lusa, referindo “a força e o ânimo da Sra. D.ª Amélia [Rey-Colaço] para [continuar] como companhia, noutro teatro”.
Estrearam em seguida, no então Teatro Avenida, em Lisboa, “A Invasão”, de Miguel Franco, em que fez parte do elenco. A peça “saiu de cena pouco depois da estreia, proibida pela Censura, após uma ida ao teatro do almirante Américo Thomaz”, então Presidente da República.
“Ficámos todos arrasados, mas seguimos em frente pois a companhia dependia da bilheteira, já que era muito curto o apoio do Estado”, afirmou.
Não foi a primeira vez que Villar sentiu a repressão da Censura. Em 1973 fez parte do elenco da peça “Fonte de Ovejuna”, de Lope de Vega, segundo versão de Natália Correia, pelo TEC, numa encenação de Carlos Avilez.
“A estratégia era apresentar a peça em Espanha e, confiando numa boa apresentação e recolher boas críticas, como aconteceu, e apresentá-la depois em Portugal, contornando a Censura Prévia”.
A peça em que no final as atrizes despiam as blusas e de peito nu se dirigiam à plateia foi apresentada em Portugal, mas com advertência das autoridades de “apenas o ser no concelho de Cascais”, contou numa entrevista à agência Lusa.
No Teatro Nacional D. Maria II exerceu ainda as funções de diretor de cena, tendo trabalhado com Filipe la Féria, nomeadamente em “A Casa do Lago”, com Ruy de Carvalho, Eunice Muñoz, Maria de Lima, Luís Zagalo, Gustavo Gaspar e Pedro Lima.
Com La Féria participou nos musicais “Amália” e “Love Story”, entre outros.
Como bolseiro do Ministério da Cultura efetuou, em 1985, um curso de encenação e ‘régie’ no Teatro Nacional de Chaillot, em Paris, sob a orientação de Antoine Vitez (1930-1990).
Alberto Villar contracenou, entre outros, com os atores Raul Solnado, Camilo de Oliveira, Eunice Muñoz, Catarina Avelar, Guida Maria, Rita Ribeiro e Alina Vaz, com quem codirigiu o projeto “Viagens ao Teatro”, que esteve em cena, em Lisboa, durante 25 anos.