Associação portuguesa distribui sopa a carenciados de Caracas

A “sopa sorriso” é um projeto de origem portuguesa que alimenta os pobres do centro da capital venezuelana, vocacionado para sem-abrigo e idosos que vivem na solidão.

Com a ajuda de voluntários, a Organização Não-Governamental (ONG) luso-venezuelana “Regala una sonrisa” (Dê um sorriso) implementou o programa Anjos Lusitanos, que distribui gratuitamente, uma vez por semana, sopa a carenciados.

O programa, que surgiu há alguns meses, estava inicialmente destinado à comunidade portuguesa, mas tem ganho visibilidade, em San Juan (centro de Caracas), onde aos domingos duas centenas de pessoas esperam pela sopa que tem como ingredientes principais feijões e grãos de vários tipos, lentilhas, ervilhas, acompanhados com plátano (banana tropical) verde e “temperados” com cebolinho, pimentão, cebola e tomates.

“A ‘sopa sorriso’ é parte do programa Anjos Lusitanos da ONG ‘Regala una sonrisa’ (RUS), que atende pessoas sem abrigo, lusodescendentes e portugueses em situação de abandono. Também a idosos que vivem em casa e que estão sozinhos”, explicou Francisco Soares, presidente de RUS à Agência Lusa.

“Mas, não ajudamos apenas a lusitanos, também venezuelanos e outras pessoas que vivem na rua. Aos domingos fazemos sopa para ajudar a quase 200 pessoas da paróquia de San Juan, aqui em Caracas, no município Libertador. Chegam a comer um pouco de sopa que fazemos com muito amor”, disse.

Francisco Soares explicou que muitos dos beneficiários fazem fila desde as 08:00 horas da manhã, apesar de a sopa ser distribuída apenas ao meio-dia, porque será a única refeição do dia.

“São pessoas da comunidade que, no meu caso particular, viram-me crescer. São a comunidade onde trabalho e onde tenho vivido desde há muito tempo”, explicou.

Filho de madeirenses e a gerir uma padaria, Francisco Soares insiste que a comunidade lusa tem de ajudar mais, lamentando que a Venezuela ter muitas riquezas naturais, é “doloroso ver como há muita gente a passar fome”.

“Que a comunidade lusa se una, não apenas para ajudar os venezuelanos, mas também à própria comunidade que tem muitos idosos em casa, sozinhos, a passar fome. Há muitos filhos de portugueses a viver nas ruas, por distintas situações, como comunidade temos de ajudar-nos uns aos outros”, sublinhou.

Por outro lado, a situação na Venezuela “é muito complicada” principalmente na área económica, que se agravou nos últimos meses.

“A pandemia agravou a situação que já tínhamos, mas não é só isso. O dinheiro não rende, há pessoas que não conseguem arranjar dinheiro para comer e só contam com isto aos domingos, e com instituições como a nossa, que dão uma refeição por dia”, disse.

A ONG “Regala una sonrisa” surgiu em 2015 e foi registada legalmente em 2016, desde então, uma vez por mês, os seus voluntários, fazem uma jornada à procura de pessoas sem-abrigo, que ainda não foram identificadas, às quais levam alimentos e fazem um exame médico.

Estas pessoas são depois convidadas a passar pela ONG, onde podem tomar banho e têm à disposição um “banco de roupa” doado pela comunidade lusa e venezuelana, e instituições locais.

Em janeiro de 2020, durante uma visita à Venezuela, a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, anunciou que a ONG “Regala una sonrisa”, contaria com o apoio da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas para identificar “muitos idosos (portugueses) que não estão na rua, mas que estão sozinhos em casa, em situações muitas vezes de abandono e até de indigência” e “começar a trabalhar essas situações”.

Fonte da ONG disse à Agência Lusa que a implementação do programa Anjos Lusitanos e a atenção a carenciados lusitanos, tem sido possível, em parte, devido a apoio que receberam de Portugal.
Lusa