O auditório do renovado edifício da antiga Incubadora esteve repleto de pescadores, autarcas e cientistas, para além ter recebido, também, a presença do Secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu.
A mesa de honra contava, para além do Secretário de Estado do Mar, também com Raul Almeida, Presidente da CM Mira, Miguel Pardal, representando a Universidade de Coimbra e Miguel Miranda, em representação do IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera..
Mas, afinal, do que tratava esta reunião que trouxe pessoas desde a Costa da Caparica até Espinho, a Mira?
Na verdade, o assunto era (e, é!) por demais importante: o que está em causa, no fundo, é a sobrevivência da Arte-Xávega, este meio de captura de peixes que, desde algum tempo, é utilizado apenas em Portugal, em “regime de exceção”.
Por isso, o “ESTUDO CIENTÍFICO DA PESCA COM A ARTE-XÁVEGA” que foi ontem explicado em detalhe, “olhos nos olhos” aos pescadores, está imbuído de uma enorme responsabilidade da parte de todos, já que será entregue em mãos da Comunidade Europeia até ao final deste ano, e dele sairão todas as informações necessárias para tentar obter dos parceiros comunitários a aprovação da continuidade deste “trabalho que já dura há séculos”, como foi dito durante a reunião.
Raul Almeida afirmou que a reunião preparatória serviu de exemplo da importância dada pelos autarcas reunidos, ao estudo em causa, e que esta “arte” pode potenciar, e potencia, todos os que a ela estão ligados.
Já o Secretário de Estado,Manuel Pinto de Abreu, disse que Portugal tem de demonstrar neste estudo, de forma “séria e inequívoca” aos seus parceiros que o estatuto especial de que a Arte-Xávega goza atualmente é merecedor da sua continuidade, pois deve deixar claro que “esta prática não põe em risco a sustentabilidade das espécies”.
Miguel Miranda, a representar o IPMA afirmou este ano é o da primeira fase deste estudo mas, acima de tudo, é o mais importante, devido à importância que existe em todos os dados serem fidedignos, pois somente desta forma as autoridades dos outros países entenderão que podem confiar nesta prática.
E, por falar em “confiança”, este foi um termo, muitas vezes, usado na sala. Os promotores do estudo, incluindo Miguel Pardal, da Universidade de Coimbra, enfatizaram que a “relação entre pescadores e cientistas e cientistas e pescadores deve ser total, pois quando um cientista chegar à praia para verificar os dados existentes, irá somente nesta função, e não na função de um fiscal. Não somos fiscais. Somos cientistas a elaborar um documento fundamental para que os vossos filhos e netos possam continuar nesta atividade!”.
Mais ainda, Manuel Pardal garantiu que a “Universidade de Coimbra tem a obrigação de ajudar a sociedade portuguesa e este relatório é exemplo desta nossa disponibilidade. Onde a Universidade de Coimbra entra, é para ganhar… por isso, cá está ela a fazer todos os esforços, em conjunto com todos os parceiros deste projeto, para que tudo termine de forma satisfatória”.
Por fim, antes da natural sessão de perguntas e respostas, Manuel Pardal deixou um desafio no ar. Desafio este que foi bem aceite por todos os intervenientes e presentes, apesar da consciência geral de que este só deverá ser implementado dentro de, no mínimo, cinco anos, devido à sua complexidade: “Por que não utilizar este estudo como rampa de lançamento para uma candidatura da Arte-Xávega a Património Imaterial da Humanidade, à Unesco?”
Ficou o desafio que requer uma enorme responsabilidade e complexa documentação. Mas, por ora, o que fica é da maior importância:que este estudo seja feito com a lisura necessária para que, no fim, seja premiado com o pleno êxito que merece e necessita.
É que, como foi dito, “o estudo deve ser feito de forma calma” mas ficou explícito a urgência do seu papel aglutinador de vontades e dos resultados que precisam levar à aprovação comunitária. É que, trata-se do que foi várias vezes enfatizado nesta reunião: da sobrevivência desta forma de vida, desta “arte” e desta “cultura” que envolve quantidades enormes de pessoas e famílias de norte a sul do país…