A completar 70 anos, a Cinemateca Portuguesa está “numa encruzilhada”, “a lutar pela sobrevivência”, e a solução pode passar pela transformação numa fundação pública, afirmou o diretor, José Manuel Costa, à agência Lusa.
Em entrevista, a propósito da efeméride de celebração dos 70 anos – com uma programação que se estenderá pelos próximos meses -, José Manuel Costa recordou que a instituição vive há vários anos com um “corte orçamental abrupto e devastador” e com constrangimentos administrativos que dificultam o funcionamento.
“Estamos a lutar pela sobrevivência, quando devíamos estar a responder a novos desafios e a uma dinâmica de conjunto que está a evoluir muito depressa. As cinematecas estão a mudar, o contexto digital mudou muita coisa, todo o panorama de trabalho é bastante diferente (…) e não estamos a poder usar o nosso próprio potencial”, lamentou.
Não é de agora a crítica ao subfinanciamento e aos constrangimentos decorrentes do estatuto de instituto público da Cinemateca. José Manuel Costa, diretor desde 2014, recorda que as leis de controlo orçamental limitam e prejudicam a atividade da Cinemateca.
E deu como exemplo a dificuldade de contratar trabalhadores especializados, porque está limitada ao setor da Administração Pública, ou ainda o caso do laboratório de restauro fílmico, uma das mais valias da Cinemateca a nível internacional, ameaçado “a curto prazo de desaparecimento” por esses “constrangimentos administrativos”.
O diretor sublinha que a tutela – o Ministério da Cultura – está a par da situação, a quem foi apresentada uma proposta de modelo de gestão para fundação pública de direito privado, e que há um “diálogo intenso” em curso.
“Nós temos que pensar que Cinemateca é que queremos. A Cinemateca não fechará, mesmo que tenha que parar ou diminuir substancialmente a sua atividade pública, o que já seria grave”, disse.
José Manuel Costa disse que, sem uma mudança estrutural, não haverá condições para cumprir duas das grandes prioridades da Cinemateca: Promover a digitalização do cinema português e ter “um projeto consistente de descentralização”.
Nem será possível avançar com outros projetos propostos, que tiveram “sinal positivo do senhor ministro”: A criação de um polo museográfico e uma estrutura de formação permanente na área dos arquivos de filmes, em parceria internacional.
“Estamos a esticar a corda até a um ponto em que, a muito curto prazo, vai rebentar (…) Isto que estamos a fazer não é sustentável com o quadro que temos. Consigo fazer à custa de uma tensão interna crescente, com serviços que estão altamente desestruturados, que estão muito carentes de pessoal”, disse.
Este ano a Cinemateca contou com um orçamento que ronda os 4,5 milhões de euros, incluindo verbas alocadas do Fundo de Fomento Cultural, precisamente para fazer face ao corte sofrido no começo da década e à quebra de receitas provenientes da taxa de publicidade, a principal fonte de financiamento.
Lusa