Trinta e três anos de idade. Filho de pescador e neto de pescador. Eis, António Reis, um homem que “apanhou o vício do avô” e descobriu que é “incapaz de largá-lo” (e, que adora peixe no prato, também)…
António Reis participou em um Grupo de TT, jogou futebol no Touring e no Seixo, mas foi na pesca que este simpático rapaz mirense encontrou o seu habitat natural. A fazer a sua 6ª época desportiva, atualmente, primeiro no Sepins (para onde foi convidado por Messias Oliveira) e depois pelo Clube de Campismo de São João da Madeira, ele já conquistou posições a nível regional e nacional que, se calhar, ao iniciar a carreira, nem sequer lhe passava pela cabeça!
António Reis é daquelas pessoas que se orgulham daquilo que fazem. Sem falsas modéstias, vai desfiando um rol de classificações dignas de se registar. “Eu, até ser desafiado pelo Messias, só praticava a pesca lúdica. Mas, quando assumi o compromisso com ele, com o clube e comigo mesmo, foi para tentar ir o mais longe possível” , diz ele.
“Tendo conquistado um 3º lugar no Regional e que dava acesso à 3ª divisão nacional na zona norte, tive um excelente incentivo pessoal para quem estava em início de carreira. Participei na 1ª divisão de clubes, onde fui vice-campeão, fui chamado para a seleção nacional que participou no Mundial em Espanha e obtivemos o 3º lugar… pedir mais, era impossível!”.
Desde 2015 a concorrer pela equipa de São João da Madeira, António conquistou – naquele ano – o acesso ao escalão principal a nível nacional. Apesar do mau arranque naquela competição, ainda assim conseguiu “garantir a manutenção com um honroso 8º lugar” tendo ficado somente a 2 pontos do Mundial que ser realizaria na Irlanda.
Mas, 2017 foi o ano da consagração definitiva deste mirense: A disputar provas em Tavira, na Costa Nova e em Tróia, António Reis conseguiu “chegar ao ponto mais alto em que um pescador pretende chegar”: ao título de Campeão Nacional!
“Indescritível” – afirma – “A minha chegada até ali foi construída com muito trabalho e aprendizado. Não foi ao acaso, e isto me deixa orgulhoso e agradecido a todos os que me incentivaram a ir sempre mais longe!”.
Daí a partir para a África do Sul a representar Portugal, numa seleção recheada de bons valores foi um ápice… mas, desengane-se quem pense que era só entrar no avião e partir! “Cada um de nós, tirou do próprio bolso, 370,00 euros para poder participar, uma vez que o que foi angariado não cobriu as despesas”. Puro amor ao desporto!
Com a seleção a terminar em 8º lugar no Campeonato, cuja taça foi levantada pelo Brasil, António, que foi o 2º melhor português da competição, tendo ficado na 31ª posição individual, trouxe “a grande lição de conhecer um ambiente extremamente competitivo, porém, repleto de companheirismo e excelente interação entre os competidores que vinham de 20 países diferentes… o desporto pode ser isso mesmo: competição e amizade entre todos!”.
OBJETIVOS
Mesmo tendo atingido o topo, António Reis sabe que, a cada ano a cada competição, a concorrência é mais forte e quer crescer. Por isso, não desarma: “Meu objetivo é sempre o de conseguir a manutenção… não importa se ganhamos num ano, pois no ano seguinte podemos descer de divisão se as coisas correrem mal”. E, sabedor das dificuldades que existem para chegar ao topo, ele também sabe que “manter-se é ainda mais difícil que conseguirmos chegar a um lugar cimeiro”. Esse é, seguramente, um dos motivos pelo qual ele gosta mais do mar do sul de Portugal, que do norte: “Para dizer a verdade, as condições lá para baixo são melhores, o que acaba por se traduzir numa maior verdade desportiva” Desta forma, as possibilidades de manter-se no TOP são ainda maiores…
Coletivamente, a subida de divisão é o objetivo a seguir pelos atletas de São João da Madeira: “Chegarmos ao escalão mais alto e conseguirmos ficar por lá é o nosso sonho. Para isso o clube vai tentando se reforçar, como é exemplo, a contratação de outro mirense, o Fernando Regateiro, da Lentisqueira, que também faz parte, a partir de agora, dos nossos quadros!”.
O “SONHO” DO RECONHECIMENTO
“Nossa maior tristeza é o Estado dar muito pouco apoio a este desporto”, fala com amargura, este atleta. “No fundo, o que tentamos é lutar dia após dia para dar a conhecer ainda mais a modalidade. Temos poucos atletas jovens a competir na Zona Norte e isto é um claro sintoma de falta de investimento!”. Mais grave é, segundo António Reis, o facto de que “as mulheres foram campeãs do mundo naquela altura, e as pessoas darem muito pouca importância a isto pelo facto de que pouco ou nada foi divulgado. Podem não acreditar, mas esta é uma modalidade que traz muitos títulos a Portugal!”
APOIOS
A Câmara Municipal de Mira, a Junta de Freguesia da Praia de Mira, a Mafipro, o Salgaboca e a Cormoura “Que acreditou em mim e no meu valor desde o princípio” são entidades e empresas que “estão no coração e a quem muito agradeço”. Sem elas, sem apoios de vária ordem, António Reis seria apenas um pescador a mais à beira do mar a fazer o que gosta: pescar.
Sem apoios, sem incentivos, sem uma lógica de reconhecimento, os atletas dificilmente conseguirão mostrar ao mundo e aos mais próximos todo o seu potencial.
Eles necessitam de quem confie nas suas capacidades (principalmente aqueles que praticam desportos com menos impacto na sociedade). É isso o que eles pedem: que empresas privadas, o governo central e outras entidades públicas lhes dê a mão para que possam aprimorar mais e mais o talento já adquirido.
Em Portugal há muito talento ainda escondido longe dos holofotes. É só o que eles necessitam para sair da escuridão: que não lhes falte apoio!
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