1-
a)- António Bahia
b)- Advogado
c)-Coimbra
2-JM- Como se define em termos de ser humano?
Tenho procurado estar presente e ser solidário com o homem/humanidade em todas as vertentes que abarcam os direitos da vida humana, que é inquestionável e inalienável. Sempre vi no Homem um ser supremo, com virtudes e defeitos, que questiono, contrario e acuso pela falta de liberdade, aos outros, homens e mulheres que devem e têm que ser livres para possuírem a capacidade de exercerem os seus direitos como humanos. Ser solidário é também mostrar aos homens que existem valores, direitos e princípios pelos quais não podem deixar de ser exercidos por si próprios. Como homem/solidário pretendo nunca ficar acomodado e muito menos sentir-me castrado perante a injustiça, os medos, os tabus que amordaçam o homem.
3-JM- Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos ou outros? Mencione dois ou três.
Na altura da idade académica, devorei quase todos os clássicos das literaturas russa, francesa, italiana, brasileira e claro os clássicos/realistas portugueses. Confesso que não sei dançar o tango, mas passeei com milhares de personagens e jantei em muitas estalagens com lindas mulheres ( direi, no entanto,não haver mulheres feias – há umas que têm o pó de arroz e outras que não o têm ) Dos livros que li, há dezenas de autores que são igualmente bons poetas e que me marcaram. Mas, há três escritores residentes, na cabeceira do catre – Eça de Queiroz ; Aquilino Ribeiro e Miguel Torga, que também cultivaram a poesia. A poesia de Torga é magnânima, é soberba como mensageira de uma esperança que nos envolve, que nos acalenta. No entanto, não posso e não quero esquecer os poetas e poetisas que têm estado mais perto de mim; F. Espanca; F. Pessoa ; H. Heldert ; Mourão Ferreira ; N. Correia ; Mia Couto, Alda Lara, Ary, M. Teresa Horta ; J.Pessoa e…. tantos outros.
4-JM- De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.
Comecei a escrever poesia por deleite, pelo prazer de escrever para mim e aglutinar palavras, que ditas depois tinham uma outra ressonância/dimensão. Um rapaz de aldeia que não jogava a bola, não ía a bailes, não jogava a bisca na taverna, apenas esperava com ansiedade a chegada da biblioteca itinerante, era considerado um anormal pelos seres normais. Todo o tempo era para mim. A poesia servia-me como escape da veia anarcoliterária, sobretudo quando tomei contacto com a pintura e escrita surrealista. Daí não poder dizer que um determinado autor me marcou. Todos seguramente me marcaram muito e não estou arrependido.
5-JM-A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “ meios “? ( Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e /ou outros )
É sempre difícil definir aceitação. No passado havia meia dúzia de pessoas instruídas/letradas que sabiam da poda e nos faziam a crítica aos poemas, sem qualquer embaraço. Actualmente é dificil achar uma crítica credível. A sociedade está numa do politicamente correcto, há medo de criticar e de ser criticado. A comunicação é enorme, através do Facebook, mas este meio não é o melhor barómetro para sabermos que o nosso poema é de qualidade. Impera o politicamente correcto e lá colocam “ gosto “ . Em 2014 colaborei em 8/9 antologias. Destaco duas antologias de que gostei imenso : Terra Luz , colectânea da Casa do Algarve para poetas algarvios e algarvianos e a antologia Poetas de Hoje, do grupo de poesia da Beira Ria. O objecto e o objectivo social destas antologias satisfazem-me.
6- JM- Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus prórios livros.
A poesia, lato senso, sempre foi o parente pobre da literatura, salvo para algumas vacas sagradas. Quem escreve e às vezes com talento, tem sempre alguma dificuldade que a sua poesia seja legível ao som do euro. A dificuldade é sempre de índole economicista. Os recursos são escassos, para as partes e são normalmente os amigos que ajudam e compram o livro. É legitimo que o poeta queira o seu livro editado e aqui é que devia haver as parcerias/mecenas/instituições/autarquias que ajudassem o poeta/ poesia.
7-JM- O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado ?
Com o devido respeito, não consigo sequer imaginar que possa vir a ser um autor consagrado, na poesia. Faço poesia pelo prazer de amaciar uma ideia, de poder transmitir o aroma dos lábios que beijam, da sombra que sacia a dor da entrega. É como um porto velho que nos adormece e ao amanhecer nos fustiga ao aconchego da mão que amacia. Isto chega para mim.
8-JM- Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de Poesia.
Mãos de mãe
Ainda não vos contei
mas minha mãe tinha um dom
retinha o tempo nos dedos
e alterava as coisas da vida.
Junto ao tanque no quintal
via-a derreter a geada em água de rego e
converter a chuva em sol de eira.
Da janela do quarto no alpendre
em noites de trovões em céus negros
vi luares a nascerem de muitas luas
em lustres de cores azuis.
Na praia do mar de cerejas e de muitos sóis
minha mãe era uma sombra enorme de muitos
palheiros que abrigavam os peregrinos.
O dom de minha mãe
sei-o agora
era o medo que tinha de eu não ser feliz
nas suas mãos de regaço…
9- JM- Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente. Incentivaria uma escola para declamadores?
Espero ter compreendido a pergunta porque quem tem o poder tem medo da poesia, sempre teve. Mas julgo que se referem aos leitores. A poesia não é lida pela razão, ad hoc, de as pessoas inicialmente não a entenderem. Há, além de muita iliteracia, pouca sensibilidade para compreenderem os versos, as pessoas têm que pensar e actualmente há outros meios de comunicação, ligeiros, apelativos e não fazem cansar o cérebro. Reconheço que os novelinhos cor de rosa das Margaridas são muito mais atractivos para algumas, senão para a maioria, das pessoas que os poemas de um poeta consagrado. Os saraus de poesia não tem público, é verdade. Julgo, com o devido respeito, que o problema não é do público, é de quem ordena o sarau. Está na capacidade de ordenar e o povo é quem ordena. Então escute-se o povo. Talvez uns acepipes possam ajudar o povo a escutar poesia. Incentivo, evidentemente, mas já há tertúlias de poesia bastante consagradas com belíssimas vozes, a dizerem poesia, a declamarem.
10-JM- Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?
Faltam canais próprios para a divulgação da poesia, com execepção de algumas rádios, que teimam, com a abnegação e ajuda de muitos profissionais, nada mais existe. A televisão pública há muito que virou costas à poesia. As ideias para a cultura são um bem escasso no país, como se sabe.
11- JM- Verifica-se que hoje em dia existe uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números.
Conheço alguns casos em que as editoras exploram até à exaustão o culto da personalidade do autor para editar a obra. Referem sempre que a obra vai ser um sucesso, que o autor vai ser conhecido. O custo ronda os 1500 €. Fazem uma primeira apresentação, sem qualquer critério e as pessoas que assistem são os amigos e familiares do autor. Depois vem o abismo, não há qualquer distribuição. O que já receberam paga a edição e desligam-se. Desilusão para o autor e lucro para a editora.
12- JM- Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?
Fiz uma pequena edição de autor em 1969, cujo livro a cultura do dr. salazar, os carreiristas, os lacaios, os pides, os homens que usavam brilhantina e óculos de tartaruga, retiraram do mercado. Disse-me, o regedor, que não tinha estatuto e perfil para tal.
13 – JM- Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma página ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?
Não tenho qualquer página ou site para divulgar a minha poesia. Talvez num dia certo dia apareça de bengala.
Sobre mim não pretendo falar. Sobre a poesia julgo ser uma arte que simboliza uma enorme flor muito bela que nos espanca todos os dias e a toda a hora.