Apresentação oficial da candidatura é já na quinta-feira, às 16h00.
Ana Gomes vai mesmo ser candidata à Presidência da República. A confirmação foi dada pessoalmente ao jornal “Público” durante a noite de segunda-feira.
A militante do Partido Socialista, que foi durante vários anos eurodeputada, estará assim na corrida a Belém, tendo pela frente, por enquanto, André Ventura, Tiago Mayan Gonçalves e Marisa Matias, respetivamente do Chega, da Iniciativa Liberal e do Bloco de Esquerda. Marcelo Rebelo de Sousa ainda não confirmou se será novamente candidato ao cargo que ocupa atualmente.
Ainda segundo o “Público” a apresentação oficial da candidatura será feita na quinta-feira às 16h00, na Casa da Imprensa, em Lisboa.
A hipótese de uma candidatura presidencial de Ana Gomes começou a ser lançada na sequência das suas atitudes anti-corrupção, mas Ana Gomes inicialmente recusou essa hipótese. Contudo, em janeiro, a ideia foi relançada por Francisco Assis, também ele socialista e ex-eurodeputado, que disse que não havia melhor nome para congregar a esquerda nas presidenciais, em declarações ao programa Casa Comum, da Renascença.
Passados poucos dias da defesa feita por Assis, Francisco Louçã considerou que tal candidatura seria “oportunismo”. Agora, Ana Gomes e a candidata do Bloco, Marisa Matias, vão apresentar as suas candidaturas presidenciais na mesma semana.
Em maio, a agora candidata disse que estava a pensar no assunto, mas que não tinha ainda tomado uma decisão. Ainda há duas semanas disse à SIC que estava a fazer essa reflexão na companhia do seu marido, que entretanto adoeceu e morreu em julho. “Tive de continuar essa reflexão noutras condições, sozinha”, concluiu.
No PS, a ideia de uma candidatura de Ana Gomes divide opiniões. Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e representante da ala esquerda pode apoiá-la, mas António Costa veio dizer, recentemente, em entrevista ao “Expresso”, que os membros do Governo devem evitar ter posições públicas nas eleições presidenciais. Isto apesar de ele próprio defender publicamente a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. Essa terá sido, segundo o “Público”, uma das razões que levou a ex-eurodeputada a decidir candidatar-se, por considerar que faria falta uma voz de esquerda no debate. Algumas figuras do PS, como Carlos César, disseram mesmo que só numa situação limite votariam em Ana Gomes.
As eleições presidenciais realizar-se-ão, se tudo correr conforme o planeado, em janeiro de 2021. Caso vença as eleições, Ana Gomes tornar-se-á a primeira mulher a presidir à República em Portugal.
Com 66 anos, Ana Gomes, foi eurodeputado até às ultimas europeias, no ano passado. Tornou-se conhecida dos portugueses sobretudo pelo seu papel como diplomata na questão timorense. Primeiro como chefe de missão e, depois, como embaixadora em Jacarta acompanhou todo o processo do referendo e da independência de Timor-Leste.
Antes, tinha passado por vários lugares como diplomata. Genebra, Nova Iorque, Tóquio, Londres fizeram parte do seu percurso nos Negócios Estrangeiros, onde começou a carreira diplomática em 1980.
Licenciada em Direito, fez parte da equipa diplomática do Presidente Ramalho Eanes. Foi aí que conheceu aquele que viria a ser o seu segundo marido, o embaixador António Franco, recentemente falecido. Do seu primeiro marido, António Monteiro Cardoso, também já falecido, tem uma filha.
Depois de terminar a missão em Jacarta, em 2003, Ana Gomes suspendeu a carreira diplomática e aceitou o convite de Ferro Rodrigues, então líder do PS, para fazer parte da direção socialista, com o pelouro das relações internacionais. No ano seguinte, foi eleita eurodeputada, tendo sido reeleita nas duas eleições seguintes e cumprindo 15 anos naquele cargo.
Como eurodeputada, notabilizou-se no combate à corrupção e ao branqueamento de capitais. Chegou a receber ameaças de morte, segundo o social-democrata Paulo Rangel, devido às suas denúncias sobre correpção em Malta. Mas também foi uma voz em defesa de países africanos como a Etiópia.
Nos últimos meses, tem mantido intervenção pública através dos seus comentários semanais aos domingos na SIC, mas também como uma defensora frequente do alegado pirata informático Rui Pinto.
A sua ligação ao PS só se formalizou depois da suspensão da sua carreira diplomática, tendo sido eleita para o Parlamento Europeu em 2004, cargo que manteve em sucessivas eleições, até 2019.
RR