A morte aos 84 anos do empresário Elísio Alexandre Soares dos Santos, antigo presidente da Jerónimo Martins, ocorrida na sexta-feira, retirou da cena económica e pública nacional um dos seus mais relevantes protagonistas, empreendedor, frontal e polémico.
Nascido no Porto, em 1934, Soares dos Santos começou a carreira profissional em 1957, ingressando na Unilever. Entre 1964 e 1967 assumiu funções de diretor de marketing da Unilever Brasil. Em 1968 entrou para o conselho de administração da Jerónimo Martins (JM) como administrador-delegado, cargo que acumulou com o de representante da JM na ‘joint-venture’ com a Unilever.
Em fevereiro de 1996 passou para a presidência do conselho de administração da JM, cargo que ocupou até abril de 2003, quando passou a presidente não executivo (‘chairman’), até 18 de Dezembro de 2013.
A sua liderança empresarial ficou marcada pela transformação de um negócio familiar, iniciado com uma loja no Chiado, em Lisboa, em 1792, num dos maiores grupos de distribuição em Portugal, êxito que contribuiu para ser considerado um dos homens mais ricos do país.
O crescimento e a internacionalização do grupo levaram-no para a Polónia e Colômbia, depois de uma primeira experiência problemática no Brasil.
Já a mudança da sede social para a Holanda, em 2012, que foi associada a planeamento fiscal, motivou polémica, que se estendeu inclusive à atual legislatura parlamentar.
Quando participou no lançamento do projeto empresarial na Colômbia, em março de 2013, ao lado do presidente colombiano da altura, Juan Manuel Santos, Soares dos Santos considerou que a Colômbia poderia ser o centro operacional do grupo para a América Latina “dentro de cinco anos”.
Declarou então à agência Lusa: “Já cá não estou para ver isso, mas digo-lhe que esta possibilidade existe daqui a cinco anos”.
Na mesma altura, realçou à Lusa um traço estrutural do grupo, a saber, o caráter familiar: “A Jerónimo Martins é a continuação de um sonho, de uma família e de um ‘management’ [equipa de gestão]”. Um dos seus filhos, Pedro Soares dos Santos, sucedeu-lhe à frente do grupo.
Além da obra empresarial, Soares dos Santos deixa também presença no panorama sociopolítico, designadamente através da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e dos juízos críticos que fazia com frequência sobre a conjuntura político-económica e os seus protagonistas.
A Fundação, criada em 2009, gere o portal “Pordata”, Base de Dados do Portugal Contemporâneo, e uma coleção de livros de ensaio sobre temas da atualidade, além de organizar debates sobre temas da atualidade.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou-o, em abril de 2017, com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Empresarial.
Em março deste ano, foi distinguido com o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Aveiro (UA), tendo-se mostrado “muito feliz” e adiantando que esse era o culminar de uma carreira e que nunca pensou que alguma vez teria este título.
Lusa / Madremedia