Um grupo da máfia italiana – os Riviezzi – infiltraram-se no tribunal de uma cidade do Sul de Itália, através da gestão do café do edifício.
As 31 acusações contra um grupo detido na semana passada na cidade de Potenza, no Sul da Itália, incluíam associação de máfia, assassinato e extorsão. No entanto, o que mais surpreendeu o sistema judicial foi a descoberta de que os suspeitos foram acusados de gerir um café dentro do tribunal. Todos os dias, durante mais de três anos, procuradores e investigadores envolvidos na resolução de processos criminais tomavam cappuccino e faziam as suas refeições no restaurante do tribunal. O jornal The New York Times revela que as autoridades italianas acreditam que o posto de café era administrado por um poderoso clã de mafiosos.
O grupo, liderado por uma família local, utilizava o café como uma fachada, de acordo com documentos do tribunal, para “potencialmente lavar dinheiro e ter uma base dentro do tribunal mais importante do distrito para adquirir informações”. Câmaras ocultas instaladas no edifício captaram imagens de funcionários do café a curvarem-se em respeito ao chefe de família e a reconfortarem-se quando um braço direito do clã foi preso por tráfico de drogas.
As revelações em Potenza, capital da região sul de Basilicata, foram recebidas com grande preocupação no sistema judicial. A Justiça italiana teme que as organizações criminosas estejam a tornar-se cada vez maiores e mais ousadas, e que algo esteja a falhar nos controlos antimáfia. A decisão da equipa de acusação, de manter a investigação de três anos em segredo dos colegas, também constituiu um ponto sensível dentro do tribunal. Alguns procuradores tomavam o seu café e conversavam com os funcionários do negócio, mas muitos juristas desconheciam por completo as suspeitas que recaíam sobre os trabalhadores do café.
A equipa de acusação reconhece agora que alguns segredos de investigação, relativos a outros casos, possam ter estado em risco, uma vez que os procuradores e advogados comiam e bebiam com os processos ao seu lado. No entanto, alertar os colegas do tribunal teria prejudicado todo o inquérito, alega também a equipa de acusação.
O advogado Davide Pennacchio e um sócio também tinham competido pelo mesmo contrato para gerir o café dentro do tribunal, e entraram com um recurso quando perderam. Quando recorreram, um membro do clã ameaçou Pennacchio num dos corredores do tribunal, para que recuasse. Foi esse episódio que esteve na origem de todas as suspeitas. Os investigadores da acusação começaram a suspeitar que a propriedade do novo bar era uma fachada.
A polícia instalou então câmaras de vigilância e começou a fazer escutas a suspeitos, de forma a obter um enquadramento esclarecido das atividades da família. As autoridades descobriram então que o clã geria um salão de jogos e que os membros do grupo tinham estado por trás de um assalto a uma joalharia na cidade. Durante três anos, os procuradores deixaram que os mafiosos pensassem que estavam a enganar as autoridades.
Os investigadores acreditam que os membros do grupo mafioso terão desejado o controlo do negócio por “prestígio criminoso”, isto é, para que, quando outros elementos de clãs rivais fossem a tribunal, vissem o quão influente era este grupo. O que a investigação agora defende é que os Riviezzi são “jovens em comparação com outras máfias na Itália, que datam de mais de 150 anos”, mas este grupo também mata, está envolvido em casos de extorsão e causa graves abalos na economia.
Catarina Maldonado Vasconcelos / TSF