O termo política, tem a sua origem na palavra grega, polis, que significa tudo o que diz respeito ao funcionamento da cidade. É, por isso, legítimo e saudável que a questão da água seja tratada no âmbito do debate político. Essencial à vida no planeta, a cada vez maior procura de água potável e a sua cada vez maior escassez, face à sua utilização indevida, colocam-na no fulcro de debates locais, regionais, nacionais e internacionais. Existem hoje conflitos no mundo cujo rastilho foi a posse da água. As práticas da sua boa utilização são hoje ensinadas nas escolas de todo o mundo mas esquecemos frequentemente que o melhor método de ensino é o bom exemplo.
Feita esta introdução falemos então de Mira. Segundo dados tornados públicos pelo atual executivo municipal, pelo menos em Assembleias Municipais, o abastecimento de água e a recolha e tratamento de águas residuais constituem hoje os maiores desafios à gestão municipal. Desnecessariamente. Chegámos a esta situação devido a uma política de laxismo, de deixa andar.
À sua entrada em funções os serviços de águas encontravam-se completamente desarticulados por falta de orientação e falta de materiais. Efetuados os ajustes mais urgentes e proporcionados materiais e ferramentas a tempo e horas, o serviço de águas hoje apresenta-se com equipas dinâmicas formadas por trabalhadores motivados que temos visto a trabalhar fora de horas. E como este, outros setores do pessoal operário do Município.
Depois vale a pena refletirmos os números disponibilizados num estudo efetuado por empresa especialista no ramo com a colaboração dos serviços de águas do município para, facilmente, concluirmos que a água que captamos nas nossas estações da Lagoa e da Praia de Mira chegariam à vontade se não fosse o seu desperdício exagerado. Do mesmo estudo ressalta que no ano passado as estações de captação de água da Lagoa e da Praia de Mira contribuíram para o sistema de abastecimento com cerca de 1.700.000m3 deste precioso líquido ao qual se juntaram cerca de 300.000m3 de água comprada ao concelho de Cantanhede. No total 2.000.000 de m3 disponibilizados, dos quais foram faturados pouco mais de um terço, o que faz com que o fornecimento de águas e saneamento representem cerca de um milhão de euros de passivo para o Município. Para os padrões atuais de consumo com uma média estimada de 150 m3 por habitante, 700.000 m3 chegariam, não havendo, portanto, necessidade de comprar água a Cantanhede a 50 cêntimos/m3 que são depois vendidos a uma tarifa de 25 cêntimos. Logo, tem de haver muito desperdício e muita utilização indevida. A este respeito convém dizer-se que o comportamento da gestão municipal não foi propriamente exemplar. Há muitos jardins públicos que foram sendo abastecidos da água da rede pública e terão de deixar de o ser. A relva agradece e as contas municipais também. Depois há os consumos ilegais: foram às centenas os contadores substituídos por se encontrarem avariados, algumas ligações ilegais e muitas faturas de água por pagar situações a combater porque todos os munícipes devem ter igual tratamento.
A questão da qualidade é outra vertente da questão. Asseguraram todos os executivos municipais, até hoje, que a água que consumimos é própria para o consumo e não temos razões para duvidar. Possui no entanto um grau de ferro e manganês que lhe confere uma coloração castanha e que provoca diversos inconvenientes aos consumidores. É uma questão a atacar desde já, até porque o ferro e o manganês acumulados nas tubagens demoram anos a desaparecer. É um problema que o executivo diz estar na água de superfície captada na estação da Lagoa e que será resolvida através de novo furo de captação ou de uma estação de filtragem. O grau de degradação a que chegaram as estações de captação da Lagoa e da Praia era, à chegada do atual executivo, impressionante. Na estação da Praia os maciços de suporte das bombas de elevação ameaçavam ruir a qualquer momento tornando-as inoperacionais. Em poucos dias os trabalhadores do Município corrigiram o problema. Não havia bomba de reserva no furo. Colapsada a bomba de captação a Praia correu o sério risco de ficar sem água. Em quatro dias os serviços municipais solucionaram a situação. Na Lagoa o panorama era semelhante. Neste momento está normalizado. O depósito elevado de Carromeu recebia água bombada a partir da Vila, sendo que nos momentos de maior consumo a água não chegava àquele reservatório, tendo culminado com a falta de água por altura da Páscoa. Através de alterações efetuadas na rede exclusivamente por trabalhadores municipais que sacrificaram grande parte dos feriados pascais, a água chega hoje ao depósito de Carromeu simplesmente por gravidade e em quantidade. Paralelamente foram desativados 4km de condutas de fibrocimento entre a Lagoa e o centro da Vila. No Cabeço ligaram-se os ramais à nova conduta que os esperava havia oito anos. Outros vão seguir-se. Num ano recuperou-se o atraso na ligação de ramais pedidos pelos munícipes desde 2008 e o executivo afirma que todos os ramais pedidos até ao final de 2014 já se encontram ligados.
Muitos dos problemas estão a ser resolvidos pelos trabalhadores do município que têm trabalhado arduamente. Não lhes exijamos que façam num ano o que não foi feito em oito.
É certo que depois de uma fase de diagnóstico o Município vai ter de fazer grandes investimentos. Todos temos consciência que o dinheiro fácil dos fundos comunitários passou. Sabemos também que não existe património municipal vendável que gere receita a grandes investimentos. É tempo de gerir racionalmente, definir prioridades e executar. Os concelhos ao nosso redor souberam aproveitar no tempo certo. Aqueles que tiveram oportunidade de gerar receitas com a venda da totalidade do Miraoásis e das areias do Montalvo e que tiveram à sua disposição milhões de fundos comunitários não podem agora gritar ao sete ventos que o dinheiro gasto no Centro da Vila poderia ter servido para investir na água. Porque o não fizeram? Ou será que acham que as gentes da Vila não merecem os seus espaços requalificados. Ou será que têm medo que os munícipes gostem…
Em todo o caso, para descansar as consciências em sobressalto, sendo financiada por fundos comunitários sobrantes do anterior quadro de apoio, a obra do arranjo urbanístico no centro da Vila vai representar uma fatia muito pequena do orçamento municipal. Tal como o saneamento do Bairro Novo e da Ermida.
A Comissão Política do PSD