Abastecimento de Água… Como juntar água e qualidade?!
A água potável disponível para as populações é um direito dos cidadãos. Ora, para que esta verdade se cumpra é necessário que as autarquias, neste caso as câmaras municipais, cumpram o seu dever de instalar e manter operacionais as estruturas – as captações e canalizações de água até junto das pessoas, casas e serviços.
Quando, no ano de 1974, se deu a revolução dos cravos – o 25 de Abril – apenas nas cidades e em algumas, poucas, vilas deste país existia o abastecimento de água canalizada. Mira, em 1974, não tinha cobertura de água potável ao domicílio. Foram precisas cerca de duas décadas para que a água canalizada chegasse à generalidade das casas do nosso concelho. Em Mira, como todos sabemos, temos muita água.
As instalações e condutas de água, ainda em utilização, têm várias décadas e encontram-se em muito frágil estado de conservação e muitas em fim de vida útil. Sempre que qualquer obra, com movimento de solos, é feita perto destes tubos espalhados por todas as estradas do concelho, acontecem ruturas que obrigam a reparações. Estas intervenções levantam as lamas no interior dos tubos e, assim, o que chega a casa dos consumidores é um líquido escuro e estranho. Temos uma rede de abastecimento de água ao domicílio velha, assente em tecnologia velha e sem manutenção. Sem manutenção, nada dura e pouco bem funciona!
Como deve a Câmara atuar para resolver um problema dramático, urgente e que perturba a vida das pessoas? Como podemos melhorar a imagem de boa terra quando recebemos os nossos turistas e visitantes e lhes damos uma água suja e inadequada?
É necessário rever todo o sistema de abastecimento, promovendo um diagnóstico de todas as suas fadigas, fragilidades e outros pontos fracos. Constituir um plano de vigilância e de intervenção começando por atualizar os pontos de recolha, as origens da água. Depois, deve ser dirigida a atenção para as captações de água. A água que é captada na nossa terra e a água que chega ao concelho vinda do sistema de Cantanhede deve ser completamente monitorizada de acordo com os padrões determinados pela lei e pelas boas práticas do sector. Devem ser corrigidos todos os parâmetros que não estejam de acordo com as exigências de uma água de qualidade e, só então, esta deve ser injetada na rede de distribuição. A qualidade da água deve, de resto, ser explicada aos consumidores e como boa prática ser impressa no verso das faturas.
A rede de distribuição deve ser igualmente monitorizada desde as captações até às estações de elevação e aos depósitos. Todas as tubagens e equipamentos de controlo e de segurança devem ser permanentemente monitorizados e a água novamente testada, através de controlo e análise, para que ao longo de todo o circuito a sua qualidade se não estrague.
Para sermos eficazes, teremos que fazer um tratamento a sério nas captações com meios de arejamento, de decantação e com os filtros necessários para retirar as impurezas mais visíveis que incluem o ferro, o manganês e outros elementos estranhos e que dão aquele detestável tom e cor amarelo e avermelhado de uma água com lama e com um cheiro inconveniente. Teremos que ajustar o tratamento de desinfeção à base de cloro para que a água saia das captações límpida, sem contaminantes químicos e orgânicos. Teremos que recondicionar e/ou substituir as velhas vias principais do caminho da água como a adução a todos os depósitos do concelho. Teremos que proceder às limpezas constantes a um sistema que nunca foi limpo como devia ter sido. Teremos que ir substituindo as tubagens em fim de vida, especialmente as de fibrocimento, que parece que nos serviços técnicos ninguém sabe ao certo quantas são e com que qualidades funcionam. A seguir a cada intervenção, a cada reparação, a cada substituição, proceder às descargas setoriais de fundo para que os resíduos produzidos ou libertados nessas intervenções não cheguem ao consumidor produzindo uma desconfiança e mal-estar completo quando se vê sair das torneiras tão duvidoso líquido.
Se este modelo for implementado, aplicando-se desde a sua origem ou mãe, que são as captações, furos, estações e depósitos de elevação, adufas e finalmente a tubagem mais fina de distribuição, teremos o problema de má qualidade da água quase completamente resolvido. Dizem-nos, opiniões técnicas experientes, que em cerca de um ano, com moderados investimentos e um plano técnico eficaz assim será. Mas sejamos mais modestos e vamos dar dois anos para que estas situações fiquem sanadas e a água de Mira, fornecida pela nossa Câmara Municipal seja um orgulho da Nossa Terra….
José Carlos Garrucho, Vereador Independente do MAR