Águias, Ala-Arriba, Febres (que, no entanto, desistiu de participar na competição), Marialvas, Sepins e Touring: equipas dos Concelhos de Cantanhede, Mira e Montemor-o-Velho não percebem o início dos seus campeonatos em “tempos difíceis”…
Não foi uma espécie de rebelião mas, em Setembro, as equipas mencionadas inciaram uma série de reuniões que visavam conseguir, junto da Associação de Futebol de Coimbra, uma plataforma de entendimento no sentido de haver um “adiamento das competições Distritais”. Certo é que, este ajuntamento de ideias e vontades dos clubes não colheu frutos, mas uma espécie de revolta silenciosa permanece no ar…
O Jornal Mira Online recolheu algumas impressões junto de alguns dos clubes em causa e ouviu dos seus diretores palavras de desalento pela decisão tomada pela AFC.
“Começa a ser difícil conviver com esta Associação, uma vez que a sua diretoria não demonstra sensibilidade suficiente para esta pandemia, forçando o início de campeonatos “esquecendo-se” que coloca em causa a saúde de muitas pessoas ao mesmo tempo”, dizem. Num tom mais agreste, os clubes em causa acusam a Associação de Futebol de Coimbra de “querer salvaguardar interesses financeiros, desvalorizando a saúde pública que deve ser sempre, a preocupação fundamental em todas as áreas de atividades, num momento tão complexo!”
Entretanto, por mais força interior que estes dirigentes tenham e por mais que procurem fazer pelos seus clubes e pelo futebol do Distrito de Coimbra, neste caso a união não fez a força, uma vez que “a postura paternalista existente na AFC desde há muitos anos, acaba por fazer de muitos clubes, reféns do contexto em que estão inseridos”. A opinião generalizada é a de que “os clubes, cada um deles, são o elo mais fraco da cadeia, o que dificulta sobreaneira tomadas de decisões que revertam este modelo que vai acabando com o futebol em Coimbra”.
Exemplificando algumas das preocupações mais marcantes destes clubes que deram a cara à luta, os seus dirigentes não percebem “como o índice de contágio cresceu bastante desde a altura em que o Governo impediu o começo dos campeonatos e, ainda assim, desta feita, fomos obrigados a entrar em campo? como podemos dar condições aos atletas ao mais simples que existe, que é o de equiparem-se nos balneários? Quantos clubes têm condições de fazê-lo com garantia de segurança?”. E aqui reside uma crítica ao próprio Governo: “desde quando é possível equiparar-se jogadores amadores a profissionais? Isto é de uma estupidez que chega a dar dó… e, a Associação aproveitou esta “lacuna” para dizer que, quer queiramos ou não, os campeonatos tinham de ter início!”, afirmam.
Garantindo não terem “a mais pequena ideia sobre se existirão condições para que os Distritais possam chegar ao final”, a única “certeza que temos”, afirmam em tom de desalento, “é a de que queriam, e começaram, os campeonatos à força toda por mera questão monetária… querem que os clubes tenham condições sem que haja público, sem que haja quem queira patrocinar, sem que consigamos receitas mínimas para suportar os custos, mas o “deles”, as incrições, estas estão lá, garantidas!”.
Horácio Antunes: o “rosto” de quem está do “outro lado da barricada”
O Jornal Mira Online ouviu o Presidente da Associação de Futebol de Coimbra, Horácio Antunes, que acusa os clubes de terem “feito tudo por tudo” para que os campeonatos não tivessem início mas que, no fim, acabou por prevalecer “a sensatez”.
Para ele e a sua diretoria, “certamente que haviam condições para que as competições tivessem início em Setembro ou Outubro, uma vez que não haviam grandes casos, naquele momento”.
Confirmando ter conhecimento de “um caso de um atleta do Touring e do massagista do Sepins” para o Dirigente máximo da AFC, “sendo tomadas as devidas precauções – e a AFC está atenta a isto – nada justifica a interrupção ou adiamento dos jogos e, por isso, estamos certos de que, a partir de agora, a normalidade vai imperar”.
Garantindo que a sua Associação “desde a primeira hora tem colocado a saúde de todos em primeiro lugar”, Horácio Antunes rebate a ideia de aproveitamento da AFC no caso da equiparação entre jogadores profissionais e amadores. “percebo bem o que eles consideram uma injustiça mas, nós estamos aqui para cumprir a lei e não para considerá-la mais ou menos conveniente! a AFC, mesmo não concordando com esta equiparação, limitou-se a seguir “as regras” que foram impostas a todos”.
Para finalizar, o Presidente da AFC respondeu à reportagem, se existiu ou existe, algum plano B em caso de paragem decretada pelo Governo, se as condições sanitárias se degradarem?: “não tenham dúvidas que temos um plano “B” e teremos um plano “C” ou “D” caso isso aconteça… queremos é que o desporto se faça de forma segura!”
Francisco Ferra / Jornal Mira Online