Tal como o mais comum dos lápis, o diamante é composto por carbono no estado puro. Ao contrário da grafite, o diamante é composto por carbono puro no estado cristalino que, nas mãos de um lapidador experiente pode emitir um brilho raro. Ora, o que gera o valor do diamante não é então a sua composição química mas a raridade do seu brilho que lhe advém do seu estado cristalino e da arte de quem lhe dá a forma que lhe permite um brilho único. Dito de outra forma mais simples, depende da sua raridade.
De forma figurada, estamos a falar da Barrinha cuja importância para o nosso Concelho advém da sua beleza e sobretudo da sua raridade. Objetivamente outras praias situadas ao longo da nossa costa dispõem das mesmas condições que a Praia de Mira em termos de areal, sol e até floresta. Raras são as que dispõem de sistema hídrico associado de que a Barrinha é a jóia da coroa. Efetivamente é o seu sistema lagunar que diferencia a Praia de Mira de todas as outras. Nesta diferenciação reside a sua mais valia.
Para além da paisagem repousante que proporciona ao visitante, a Barrinha proporciona há muito tempo a prática de atividades tão diversas como lazer, prática de desportos náuticos, observação da natureza, pela riqueza da sua fauna e da sua flora, que no seu conjunto proporcionam um importante fomento da atividade económica concomitante no setor hoteleiro.
Como habitat de excelência de aves, peixes e plantas a Barrinha desempenha um papel quase único na conservação de certos ecossistemas.
Seguindo a analogia do diamante, dependendo da face através da qual olhemos a Barrinha encontrar-lhe-emos sempre algo de importante na nossa qualidade de vida e no nosso desenvolvimento. O mesmo vale para todo o sistema hídrico que lhe está associado: cursos de água e a própria Lagoa de Mira. Não podemos esquecer que a Lagoa é desde há muito a razão de ser de uma importante unidade hoteleira do concelho e que muito poderá ainda ser feito na sua utilização como fator de desenvolvimento económico do concelho nomeadamente no capítulo do eco-turismo.
É consensual que há mais de três décadas que não se intervém na Barrinha e que a sua dimensão e qualidade das suas águas estão fortemente degradadas. Por um lado, há que assumi-lo, foram cometidos erros a montante, isto é, não fomos capazes de prevenir eficazmente. Por outro lado, não é necessário conhecer muito de ciência para saber que a tendência de qualquer lago é eutrofisar e desaparecer. Aqui chegados é fácil percebermos que só há duas escolhas: ou intervir ou deixá-la morrer, sendo que a última nem sequer deve ser ponderada. Tendo o cuidado de preservar a sua biodiversidade urge requalificar a Barrinha. O esforço financeiro para o conseguir é claramente incompatível com a capacidade financeira do Município e ainda que o fosse há ainda a barreira que significa o facto de estar completamente de fora da jurisdição municipal. Compete à Agência Portuguesa do Ambiente a gestão de todos os recursos hídricos nacionais. Tudo isto não impede que o Município, através dos seus eleitos enquanto seus representantes diretos, se envolvam na sua defesa ativa e condicionem a sua gestão. Também não impede o seu envolvimento direto, de que é exemplo toda a requalificação do sistema hídrico do concelho levado a cabo pelo Município com a prestimosa ajuda do Exército Português através do Regimento de Engenharia 3 de Espinho a quem publicamente agradecemos.
Neste contexto, temos lutado essencialmente em duas frentes: junto da Agência Portuguesa do Ambiente em contexto da requalificação da bacia hidrográfica da Ria de Aveiro à qual pertencemos através do Programa Polis II aproveitando os fundos dos programas do próximo Quadro Comunitário 2020; através da intervenção do Senhor Secretário de Estado do Mar que, dadas as boas relações institucionais e pessoais que mantém com o Executivo Municipal se tem mostrado sensibilizado e empenhado na resolução do problema, sendo que há já uma Instituição de Ensino Superior convidada a estudar a questão: a Universidade de Coimbra. Há neste momento uma intensa e persistente ação junto das entidades governamentais para resolução rápida e eficaz deste problema. Os ecos dos contactos e das conversações encetadas permitem-nos encarar a sua resolução em prazo razoável.
Em tempos não muito longínquos a Barrinha constituía a piscina natural do concelho dada a excelente qualidade das suas águas. Queremos que volte a sê-lo. Temos consciência que a Barrinha constitui hoje um problema. Resolvê-lo constitui um enorme desafio. Mas sabemos que os grandes problemas e os desafios a eles associados constituem grandes oportunidades de superação comunitária que dão sentido à nossa existência. Por isso, estamos confiantes que em prazo razoável, vamos conseguir!
PSD