A aldeia da Pocariça fica a escassos quilómetros de Cantanhede. Naquela pacata localidade existe uma enorme residência, cujo busto instalado em sua frente não engana: ali viveu e morreu um dos nomes maiores da arte da Gândara, um dos maiores talentos da época, que deixou uma vastíssima obra musical apesar de ter vivido apenas vinte um anos: António de Lima Fragoso!
E, foi ali que a reportagem do Jornal Mira Online encontrou com três pessoas intimamente ligadas a Lima Fragoso por estes tempos: Eduardo Fragoso (sobrinho do músico), Dina Lopes (pintora que idealizou a capa do livro que será lançado no próximo Sábado) e António Canteiro, nome grande da atual literatura Gandaresa, que estudou, compilou, e escreveu sobre um artista que, na sua genialidade, deixou marca indelével.
Cento e três anos após a sua morte, António Fragoso teve a sua vida descrita em forma de ficção e, principalmente, de realidade por um António Canteiro que entregou anos da sua vida a dedicar-se de corpo e alma a um projeto que orgulha a família do homenageado e engrandece, ainda mais, o seu vasto currículo literário.
Sob o som leve nascido das partituras de Lima Fragoso, a conversa com os três desenrolou-se de maneira alegre, onde cada um soltou a alma à reportagem. Se Eduardo Fragoso, antigo editor literário de casas como Bertrand e Lello, cuja vida profissional durou 40 anos, se confessava “maravilhado com a obra de António Canteiro desde o primeiro manuscrito”, Dina Lopes deu conta da “enorme felicidade de ter sido convidada para este projeto” apesar de ter nele entrado um pouco mais tarde, por conta de um convite endereçado pelo autor para que resumisse a grandeza de uma vida, ainda que curta, na ponta de um pincel.
Ali, naquela casa, onde morreram sete pessoas – incluído o músico – num curtíssimo espaço de tempo, por conta de uma pandemia (sim, a primeira pandemia…), habitam os familiares daquelas pessoas, que tratam de perpetuar a imagem e a obra, através da Associação António Fragoso. E, o livro que agora será apresentado ao público faz parte desta estratégia de manter viva a qualidade do artista, nascido em 1897, que ali morreu em 1918.
Mas, o livro não será a única estrela do próximo Sábado, dia 30 de Outubro: na Sede da Associação Musical da Pocariça, pelas 16:30 horas, também será apresentada a Pintura a Óleo “Nocturno” de Dina Lopes, que, é capaz de fixar os olhos de quem a vê de perto, tamanha é a qualidade que a artista lhe emprestou ao longo do tempo em que se debruçou sobre a tela. E, como não há duas sem três, também será apresentado um CD com três obras de Lima Fragoso – a segunda faixa ficou por terminar (a Sonata Inacabada), devido à sua morte, que já foi editada na vizinha Espanha.
Os apreciadores da grande arte, seja ela qual for, estão convidados, portanto, a juntarem-se a um evento ímpar da cultura da região da Gândara e da Bairrada. Um excelente escritor do Concelho de Cantanhede e uma excelente pintora do Concelho de Anadia revelarão, aos presentes, muito da genialidade que o músico deixou como herança. O CD será, o acréscimo, o sublime toque composto por músicas que parecem ter sido produzidas com mãos de veludo.
Comparecer, portanto, mais que um ritual, será, aproveitar a beleza artística no seu melhor e saborear um momento sublime…
Jornal Mira Online