A despedida de Jorge Sampaio fez-se hoje entre a “pequenina luz” e a sombra, o silêncio e a música, com intervenções intercaladas por trechos clássicos que ecoaram no claustro do Mosteiro dos Jerónimos.
No início da cerimónia, foi a voz do antigo Presidente da República que os cerca de 300 convidados ouviram, quer num excerto do seu discurso na tomada de posse em março de 1996, quer, em seguida, numa intervenção na CNN sobre Timor-Leste, uma das causas a que dedicou parte da sua vida.
Em vídeo, ouviu-se a música que marcou a causa timorense em Portugal – “Ai Timor”, de Luís Represas – entoada pelo coro da escola portuguesa de Díli.
Os restantes momentos musicais, de trechos clássicos, foram interpretados pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, dirigidos pela maestrina Joana Carneiro.
Numa manhã com mais de 20 graus, parte dos convidados – distribuídos por três ‘ilhas’ para respeitar a distância imposta pela pandemia de covid-19 – e também os músicos assistiram ao sol a toda a cerimónia, com alguns convidados a utilizar o programa da sessão evocativa para se protegerem.
A luz foi também protagonista, quer do discurso do Presidente da República, que se referiu ao poema momentos antes declamado pela atriz Maria do Céu Guerra: “Uma pequenina luz”, de Jorge de Sena.
“Uma pequenina, mas enorme luz bruxuleante”, recordou Marcelo Rebelo de Sousa.
A cerimónia começou antes da hora prevista, 11:00, e terminou cerca de uma hora depois, também adiantado em relação ao guião.
Membros do Governo, líderes partidários, os dois ex-Presidentes da República, Cavaco Silva e Ramalho Eanes, e alguns ex-primeiros-ministros, como José Sócrates ou Pedro Passos Coelho, líderes partidários e deputados compunham a ‘ilha’ onde estava também a família de Jorge Sampaio, bem como os três protagonistas dos discursos matinais: António Costa, Ferro Rodrigues e Marcelo Rebelo de Sousa, além dos filhos Vera e André.
Entre as personalidades internacionais que marcaram presença na última homenagem a Jorge Sampaio estiveram o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o Rei de Espanha, Filipe VI, o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, o presidente do parlamento de Timor-Leste, Aniceto Guterres Lopes, o vice-presidente de Angola, Bornito de Sousa, e representantes de todos os Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Na ‘ilha’ dos convidados internacionais, foram colocados, debaixo das cadeiras, recetores de tradução, que alguns deles colocaram quando começaram os discursos.
Durante a cerimónia, o silêncio da plateia foi a nota dominante, apenas entrecortado pelas intervenções em direto na bancada da comunicação social e pelo ruído de movimentações da organização.
Depois de retirada a urna, os convidados foram instruídos a manterem-se nos seus lugares, e rapidamente o claustro se foi esvaziando.
Os dois ecrãs utilizados na cerimónia exibiram uma fotografia de Jorge Sampaio, da autoria de um fotojornalista da Agência Lusa, tirada no Forte de São Julião da Barra (em Oeiras), com o mar em fundo, e por ocasião de um encontro com estudantes sírios, em junho de 2018, das últimas causas do antigo chefe de Estado.
Do Mosteiro dos Jerónimos, o cortejo fúnebre segue para o cemitério do Alto de São João, fazendo um percurso por várias avenidas de Lisboa junto ao Tejo, e será sobrevoado por cinco caças F-16 da Força Aérea Portuguesa no momento da passagem pela Praça do Comércio.
No cemitério, haverá Guarda de Honra, constituída por 165 militares dos três Ramos das Forças Armadas. À passagem da urna, será executada uma marcha fúnebre e um pelotão de fuzileiros executará três tiros de salva.
No interior do cemitério, e depois de cumpridas as formalidades de um funeral de Estado, inicia-se a cerimónia privada, reservada à família.
Jorge Sampaio, antigo secretário-geral do PS (1989/1992) e Presidente da República (1996/2006), morreu na sexta-feira, aos 81 anos, no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, Oeiras, onde estava internado desde 27 de agosto, na sequência de dificuldades respiratórias.
O Governo decretou três dias de luto nacional, entre sábado e segunda-feira, e cerimónias fúnebres de Estado.
Fonte e Imagem: Lusa