Conta com mais de 27 anos de carreira e já marcou presença em mais de mil concertos. Zézé Fernandes faz da música tradicional portuguesa o seu modo de vida e foi este género musical que, no passado dia 2 de Agosto, levou ao Festival das Francesinhas, em Peso da Régua. Alguns dias após o concerto, o artista deu uma entrevista ao Jornal Mira Online onde não só falou do concerto como do seu percurso profissional.
Fotografia gentilmente cedida por Zézé Fernandes
Que balanço faz da noite passada em Peso da Régua?
Foi a primeira vez que subi a um palco na Régua e sinto que fui um pouco vítima dos 30 graus que se fizeram sentir na hora do espetáculo. Apesar de tudo, gostei da experiência e sempre pronto para ir animar a região.
Costuma adaptar os concertos à cidade onde atua ou ao tipo de público?
O repertório poderá ser mais curto ou mais longo, consoante o contratado, mas por norma, sou eu e a minha banda quem se tem que adaptar ao público, seja da aldeia, vila, cidade, motard, estudante, emigrante, etc.
Como surgiu esse gosto pela música?
Peguei pela primeira vez num instrumento quando tinha entre 7 a 8 anos. Comecei sozinho por tirar algumas melodias num acordeão. Mais tarde, em 1982, peguei pela primeira vez no cavaquinho do meu amigo João Guimarães. Toquei cavaquinho no Rancho Folclórico e Etnográfico de Ponte da Barca, bateria no grupo de heavy metal Fieís Defuntos, sintetizadores e percussões no grupo punk rock Atacadores Desapertados, bandolim e braguesa com o artista Luís Portugal (Ex-Jáfumega) e percussões no “Ó que som tem” do percussionista Rui Júnior. Desde 1991 que sou músico profissional em nome próprio, e conto já com uma carreira com mais de 27 anos e mais de 1000 concertos.
Pensou em ter outra profissão?
Sim, pensei em ser um “grande artista” (risos) mas, como tenho respeitado na integra a minha “carteira de valores”, isso foi um fator impeditivo. Há coisas horrorosas e desonestas no mundo da música que eu não posso aceitar e me deixam bastante à parte do chamado “circuito normal da música” (editoras discográficas, televisões, rádios, jornais, revistas, etc). Se aceitasse já há muito estaria no top 3 dos artistas da minha área. Já lá estive com muito mérito numa altura em que as editoras discográficas não dominavam o mercado e os media.
Como referiu anteriormente, toca diversos instrumentos musicais. Quanto maior a aprendizagem, mais completo se sente?
Toco cavaquinho, bandolim, cavaquinho brasileiro, braguesa, cuatro venezuelano, guitarra clássica, viola baixo, sintetizadores, flauta de bísel, bateria e diversas percussões. E continuo a tentar aprender outros. Não é que toque todos bem, mas toco os mínimos para poder gravar um cd sozinho.
Chegou a estar ligado à sonoplastia da TSF, o que mostra que o som tem, realmente, importância na sua vida. O que retira desta experiência?
O som e a musicalidade fazem parte da minha vida praticamente desde que nasci. A experiência na TSF, além de me preencher com ensinamentos, foi enriquecedora na parte humana, conhecendo muitos amigos que hoje estão distribuídos pelos media locais, regionais e nacionais.
Já conta com uma carreira de mais de 27 anos. Qual é o truque para se manter neste mercado durante tanto tempo?
Gosto pelo que faço, persistência (tantas vezes tive motivos para desistir) e ter uma legião enorme de fãs que me admiram.
Tem 5 cd’s lançados. Há algum que considere mais especial?
Acho que é a primeira vez que me fazem esta pergunta, logo, não estou propriamente preparado para responder. Mas vou tentar. Talvez o último, “Canções & Ilusões” que é o primeiro e único com 12 músicas e letras, tudo da minha autoria.
Porque é que a música tradicional portuguesa se destaca?
Primeiro, porque é nossa e temos que a valorizar. Já passou o tempo em que se apelidava de música para “parolos”. Considero, entretanto, que atualmente há pessoal em excesso a ocupar este espaço na música portuguesa. Qualquer um que toque mal concertina já se acha no direito de querer ser artista. E o mais grave é que parece que há público para isso.
Acha que devia ser mais valorizada?
Acho, mas para isso é necessário fazer primeiro uma limpeza na casa, retirando do mercado os tais que falei na pergunta de cima.
Onde serão os próximos concertos?
Tenho muitos ainda até terminar esta tour, mas destacaria o dia 18 na Concentração Motard de Góis (a 2ª maior concentração motard do país) e, é claro, o dia 22 numa das grandes romarias deste país, a Romaria de São Bartolomeu em Ponte da Barca… A minha terra.
Fotografia gentilmente cedida por Zézé Fernandes
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Por Cátia Barbosa