Vírus nenhum vence tanta solidariedade!

A Associação de Solidariedade Social de Carapelhos e Corticeiro de Baixo e o Centro Social e Paroquial de Mira, localizado na Lentisqueira são as duas últimas IPSS´s de Mira a contarem-nos quais as consequências da pandemia no dia a dia de cada uma. Tanto elas, como as outras já retratadas em reportagem anterior, são exemplos vivos do trabalho exercido por muitíssimas pessoas que dedicam suas vidas em prol de quem deles necessita… todos os dias!

Associação de Solidariedade Social de Carapelhos e Corticeiro de Baixo

Ali, naquela casa que dava respostas a três valências (Creche, ATL e Centro de Dia) e que foi encerrada por Decreto Governamental em Março, hoje mora o silêncio e muita das muitíssimas saudades que utentes e funcionárias sentem daquele espaço. A algazarra natural dos mais pequenos compensava, tantas vezes, a dor que a solidão dos seniores é capaz de impingir-lhes.

Vânia Henriques (Diretora Técnica) e Sónia Patarra (Chefe de Serviço) foram as duas encarregadas que deram à reportagem (e, consequentemente, aos leitores) uma visão mais abrangente do momento delicado que se vive por estes tempos em instituições como esta. Para ambas, “felizmente vivemos no tempo dos meios digitais, o que permite uma aproximação maior das crianças que, de repente, tiveram de ir para as suas casas, com educadoras e auxiliares… foi importante não haver um “rompimento” das relações que a todos prejudicaria”, confirmam as responsáveis.

Já os utentes do Centro de Dia, passaram “todos a receber apoio domiciliário, tais como a alimentação, a higiene e o tratamento de roupas” diariamente, de forma que estes não ficassem “sem qualquer tipo de apoio” rompendo-se, também ali, a relação existente há tantos anos entre a Instituição e os que dela fazem uso. “Trabalhamos para que todas as necessidades sejam abrangidas para que nada lhes falte”, garantem… incluindo o (sempre) necessário “carinho para estas pessoas que fazem parte da “família” que constituímos na casa!”.

Com 10 pessoas a trabalharem no apoio domiciliário e mais 3 a trabalharem na cozinha, a equipa completa-se através de um elemento preponderante: a interação. Segundo Vânia Henriques, “estão, todas, a serem extraordinárias nesta batalha que travamos conjuntamente! Apesar do medo de saírem à rua para irem às casas dos idosos, fazem-no com um espírito de missão que é impossível descrever com exatidão…”

As saudades, estas “são enormes, daqueles dias “normais” da rotina dos nossos trabalhos” admitem e, mesmo estando “um bocado assustadas com o que o futuro nos reserva” continuam a colocar em primeiríssimo lugar, o bem estar dos que atendem afincadamente “alguns deles com incapacidades causadas pela demência” e que tiveram a vida “virada do avesso da noite para o dia”.

Há, ainda, um outro ponto que toca profundamente a todas as pessoas que tratam com as crianças que seriam finalistas neste ano de 2020. “Temos de gerir emoções”assumem frontalmente, “uma vez que este é um momento muito importante na vida das crianças”.

Saber que até podem não ver “reabertas as portas da Instituição” é um fator bastante difícil de encarar, mas elas sabem que poderão sempre contar com o apoio incondicional da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal, para quem só têm rasgados elogios a fazer. “Gabriel Pinho é um “paizão”… tem sempre uma palavra, uma mão amiga para nos dar e a Câmara Municipal, através do Dr. Raul Almeida e a sua equipa, nunca nos tem faltado agora, como nunca nos faltaram antes… é encorajador saber que temos quem nos contacte permanentemente e coloque à nossa disposição tudo o que necessitamos, dentro das possibilidades do momento” concluem com a certeza, porém, de que esta fase acabará por passar e, quando isso acontecer, todas estarão prontas para dignificar o nome da Instituição com a mesma galhardia de sempre… mas agora, com a extrema experiência de um aprendizado obrigatório, em nome do maior dos bens: a vida de cada um!

Centro Paroquial de Solidariedade Social de Mira

Célia Cainé abriu as portas (virtualmente falando) desta honrosa IPSS localizada na pacata localidade da Lentisqueira e assumiu que “tal como acontece pelo mundo fora, também o CPSSM está a viver um tempo de inquietação constante” por conta de “algo invisível e maléfico”.

Tendo encerrado o Centro de Dia a 16 de Março – há um mês exato, portanto – foi imediatamente ativado o Plano de Contingência, ao mesmo tempo que começaram a ser seguidas as diretrizes governamentais para a área social, procurando salvaguardar, desta maneira, o bem estar de todos os utentes da casa.

Tendo como objetivo primordial “a proteção de todos – utentes e colaboradoras – para que ninguém seja infetado” a responsável pela Instituição deixa claro que “tivemos de manter, e vamos mantendo, a serenidade, a vigilância, sem nenhum tipo de facilitismos” a fim de que as coisas pudessem correr da melhor forma possível.

Tendo como maior preocupação numa fase inicial, a falta de EPIs, pois a casa possuía um stock muito reduzido de máscaras por não prestar cuidados de saúde, naquilo que classifica como “uma pandemia sem precedentes” foi possível constatar que era possível “acontecer, também ele, um apoio sem precedentes da Câmara Municipal, da Proteção Civil que acabou por não nos deixar faltar nada a nível de EPI´s como luvas, batas, fatos descartáveis, viseiras desinfetantes e, claro, as máscaras que tanta falta nos faziam! Um muito obrigado a todos por este apoio importantíssimo…”.

Tornando-se imperioso reorganizar serviços “para que os nossos utentes não ficassem privados da prestação de cuidados básicos” tudo foi rapidamente introduzido no dia-a-dia da casa no sentido de que, mesmo a estarem em casa junto dos seus familiares, os utentes pudessem continuar a receber o apoio necessário da Instituição.

Por fim, Célia Cainé, sempre atenciosa para com a reportagem, não quis deixar de o ser para quem com ela, enfrenta esta guerra sem tréguas“Em nome do CPSSM, quero fazer uma agradecimento muito, muito especial às nossas colaboradoras que dão tudo por tudo para que tudo ande dentro da maior normalidade… possível”. Não esquecer de referir um agradecimento “muito forte à Câmara Municipal e à Junta de Freguesia de Mira” é, para ela, muito mais que uma mera necessidade formal… antes de tudo, diz, “é tratar de, com honestidade e, em nome da mais elementar justiça, dizer a todos que não nos tem faltado nada, por conta dos que conduzem o município e a localidade e isso tem feito toda a diferença…”

Francisco Ferra / Jornal Mira Online