Mário Ribeiro Caiado é um homem de conversa fácil.
“Gandarez de gema” – como se auto-intitula, este professor que já dá aulas há 41 anos – a maior parte do tempo em Vale de Cambra, onde reside – define-se um homem “muito curioso”, que enveredou pela área das línguas, pois a cultura em geral e a “origem das palavras” sempre o apaixonou.
Formado em Filologia Germânica, deu – e ainda dá – aulas de Inglês, Alemão, Espanhol e Português.
Dono de uma biblioteca particular que ronda os sete mil exemplares – “tenho livros até na casa de banho” – este homem assume que os livros são o seu “vício”… e sempre serão!
Mário Caiado não se faz de esquisito: “leio qualquer coisa” e, por isso pode dizer sem hesitar os seus autores preferidos: “Gosto imenso de Jorge Amado, Érico Veríssimo, José Lins do Rego, Clarice Lispector e João Ubaldo Ribeiro, na literatura brasileira. Mas, há mais… muito mais! Eça de Queirós, Carlos Oliveira, Saramago, António Lobo Antunes, José Luís Peixoto e o épico Camões… não, o lírico, mas sim o épico, também fazem parte da minha relação de autores preferidos”.
Tendo encaminhado sua vida no sentido do ensino, Mário Ribeiro Caiado afirma que o que mais gosta é de “estar rodeado de alunos e de falar com eles, sentir o que vai naquelas almas…”. Mais, este professor com uma extensa ficha de trabalho realizado em diversos Concelhos do centro e norte país, deve ser um caso raro, já que – afirma – em todo este tempo de magistério, nunca precisou colocar um aluno sequer para fora da sala de aula!
Mas, como nem tudo são rosas, o que Mário Caiado “menos gosta” é de um “certo grau de indisciplina, permanente, nos nossos dias”. Seu lema de vida ativa é o de que “a escola é para ensinar e a casa, para educar…”. Ele diz compreender que, nos dias que correm os pais estejam muito tempo fora, pois é necessário trabalhar para ganhar a vida. Mas, para ele “é triste demais ver que estes quase nunca seguem o que seus filhos fazem na sua atividade escolar”.
Mário também é um intervencionista ferrenho. Quando gosta e, principalmente quando não gosta, é comum vê-lo a desabafar as suas tristezas da sua pátria, nas redes sociais. Assumidamente um “homem de esquerda”, não assume-se partidário de “nenhuma cor” política. Antes de tudo, afirma sem papas na língua que “geralmente os políticos são pessoas que, despudoradamente e com a maior desfaçatez, só pensam no bem deles! Não interessa se é direita, centro, esquerda ou seja lá o que for: está-lhes no sangue!”.
Profundamente contra as maiorias absolutas, diz preferir que as coisas “continuem a correr como estão, neste momento” a nível económico, mas “não podemos deixar de estar sempre atentos”, diz.
E, por falar em política, é impossível não se falar do atual Presidente da República. Eis a opinião de Mário Caiado: “Considero-o um bocado populista demais, mas reconheço que ele é um homem de afetos e um bom político… daqueles que vêem longe. Por exemplo, no caso dos incêndios, ele fez um bem enorme ao PS ao agir como agiu… António Costa peca bastante por não dar o braço a torcer e a ministra da Administração Interna estava – obviamente – perdida, sem condições de continuar. Ao Primeiro-ministro, falta-lhe humildade para aceitar que algo está correndo menos bem ou, mesmo muito mal!”
Já quanto a José Sócrates, este esquerdista diz ter “cometido o erro de ter votado nele um dia”. Por isso, Mário Caiado prefere o filósofo ou o falecido jogador brasileiro, quando ouve o nome Sócrates! “Foi uma tremenda desilusão… Sócrates deitou fora todo o seu património político e, acredito que só não irá para a cadeia neste país, porque senão teriam de ir muitos outros, de todos os quadrantes políticos!”.
Homem que tem, tantas vezes palavras ácidas, sem papas na língua, o nosso entrevistado mostrou ser um homem que gosta de brincar, também: acedeu a responder à questão sobre qual político convidaria para um jantar em sua casa. Com um ar bonacheirão, garante que convidava Marcelo Rebelo de Sousa… “mas, só se ele trouxesse o vinho verde, já que é da região onde se faz este produto de qualidade!”.
Introspectivo por vezes. Duro nas palavras que pensa e diz. Brincalhão e “de bem com a vida”, em outros momentos. Mário Ribeiro Caiado é um misto de personalidades que fazemos bem em tentar perceber. Longe de ser um intelectual de nariz empinado, é um homem que não declina de ser ativo na sua cidadania. Forte nas suas convicções, gostava de ver o seu país “melhor do que está”, mas dá-se por satisfeito por saber que, por muito que ainda se tenha de fazer para fazer Portugal “estar bem”, sempre tem a vantagem de não haver, por cá, um “Donald Trump, um tipo que sucedendo Barack Obama – o “Mandela” americano – veio mostrar que os americanos têm o que merecem. Um povo que visa o lucro rápido e fácil, ignorando tudo e todos, merece ter um sujeito inqualificável como ele no poder!”
Homem duro, de palavras que saem pela boca mas vêem do coração, Mário Ribeiro Caiado tem sempre uma opinião firmada. E, como homem de luta que é, ele luta bravamente pela liberdade de pensar, falar e transmitir… algo que tanto custou conquistar.
Com ele não há meio-termo: ou é… ou, não é!
Francisco Ferra