Trump recusou-lhe um aperto de mão e ela rasgou-lhe o discurso do Estado da União

No fim do discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Estado da União no Congresso dos Estados Unidos, a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, rasgou uma cópia do que foi proferido.

Esta cena foi o desfecho de um clima nada amistoso que começou assim que Trump chegou ao púlpito da Câmara, quando quebrou o protocolo ao cumprimentar apenas o vice-presidente do país, Mike Pence, e ignorou a democrata, que lhe tinha estendido a mão.

Responsável pela abertura do processo de impeachment de Trump, Pelosi ficou sentada atrás do chefe de Estado durante todo o tradicional discurso anual, o qual acompanhou franzindo a testa e rindo de forma incrédula durante vários trechos, diz a AFP.

Enquanto Trump era aplaudido, Pelosi levantou-se e rasgou diante de todos o que seria uma cópia do discurso, pode ver-se nas imagens.

Ao ser questionada por um repórter sobre a razão do gesto, Pelosi respondeu que “era a coisa mais cordial a fazer, considerando as alternativas”.

Logo depois, Pelosi publicou no Twitter uma foto do momento em que foi ignorada por Trump enquanto estendia a mão para o cumprimentar.

“Os democratas nunca deixarão de estender a mão da amizade para fazer o trabalho pelas pessoas. Vamos trabalhar para encontrar um campo comum onde for possível, mas permaneceremos firmes onde não for”, descreve o texto que acompanha a foto da publicação na rede social.

Trump afirma que “anos de decadência económica terminaram”

O Presidente dos Estados Unidos afirmou, no seu terceiro discurso sobre o Estado da União e o último do primeiro mandato, que “anos de decadência económica terminaram”.

“Os anos de decadência económica terminaram. Os dias daqueles que usavam o nosso país, aproveitavam-se dele, estando até desacreditado junto de outras nações, ficaram para trás”, declarou Donald Trump, na terça-feira, num discurso recheado de críticas à administração de Barack Obama (2009-2017), que não mencionou, e que deixou entusiasmados republicanos, mas não democratas.

Para Trump, se “as políticas económicas falidas do Governo anterior” não tivessem sido revertidas, “o mundo agora não estava a ver esse grande êxito económico”, com criação de emprego, descida de impostos e de luta “por acordos comerciais justos e recíprocos”.

“A nossa agenda é implacavelmente pró-trabalhadores, pró-família, pró-crescimento e, sobretudo, pró-Estados Unidos”, sublinhou o chefe de Estado norte-americano, acrescentando ter dado início, há três anos, “ao grande regresso” do país.

“Inacreditavelmente, a taxa média de desemprego durante o meu Governo é menor do que durante qualquer outra administração na história do nosso país”, afirmou Trump.

Sobre o comércio, um dos pilares da administração Trump, o Presidente dos Estados Unidos afirmou ter prometido aos cidadãos norte-americanos que ia impor “taxas alfandegárias à China para resolver o roubo maciço de empregos”, proclamando: “A nossa estratégia funcionou”.

Depois de quase 18 meses de “guerra” comercial, Trump assinou em dezembro uma trégua parcial com Pequim.

O Presidente norte-americano falou ainda da substituição do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, na sigla em inglês), assinado com o México e o Canadá durante a presidência de Bill Clinton, pelo renegociado T-MEC.

“Muitos políticos vieram e foram com a promessa de mudar ou substituit o NAFTA, mas no fim não fizeram absolutamente nada. Ao contrário de muitos outros antes de mim, eu cumpro as minhas promessas”, destacou.

Donald Trump garantiu ainda que, no início do próximo ano, o muro na fronteira com o México terá mais de 800 quilómetros construídos. Por outro lado, o chefe de Estado norte-americano disse apoiar “as esperanças” de cubanos, nicaraguenses e venezuelanos “para restaurar a democracia” nos seus países.

No discurso, a situação do coronavírus também não ficou de fora: Donald Trump disse que estava a cooperar com Pequim para contar a propagação da doença.

“Proteger a saúde dos norte-americanos também significa combater as doenças contagiosas. Estamos a cooperar com o Governo chinês e a trabalhar estreitamente em relação ao surto do novo coronavírus na China”, afirmou.

“O meu Governo dará todos os passos necessários para proteger os nossos cidadãos desta ameaça”, acrescentou Trump.

A Casa Branca proibiu temporariamente a entrada no país de estrangeiros que tenham visita a China nos últimos 14 dias e anunciou uma quarentena obrigatória de duas semanas para os norte-americanos que tenham estado na província chinesa de Hubei, no centro da China, e onde foi detetado em dezembro passado o novo coronavírus (2019-nCoV).

O impeachment

Horas depois do discurso do Estado da União, o Presidente norte-americano vai conhecer o desfecho do processo de destituição, levantado em dezembro passado pela oposição democrata.

O Senado dos EUA vota o veredicto do julgamento político de Trump, sendo previsível que a maioria republicana aprove a sua absolvição pelas acusações de abuso de poder e de obstrução ao Congresso.

A maioria republicana no Senado (53-47) deverá ser suficiente para garantir a absolvição do Presidente, depois de quase duas semanas de discussão à volta de dois artigos para destituição que foram aprovados pela maioria democrata na Câmara de Representantes.

Contudo, vários senadores não indicaram ainda o sentido de voto, deixando em aberto todos os cenários para o desfecho daquele que foi o terceiro julgamento de destituição na história dos Estados Unidos (para além dos de Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998).

Se Trump for considerado culpado de uma das duas acusações (abuso de poder e obstrução ao Congresso), o veredito levará à demissão, o que seria inédito, já que os outros dois processos de destituição absolveram Johnson e Clinton.

O Presidente Dos EUA pode ainda ser absolvido mas com a aprovação de uma resolução de censura, como foi sugerido pelo senador democrata Joe Manchin, da Virginia Ocidental.

Nas alegações finais, esta semana, os democratas insistiram na versão de que Trump abusou do cargo, ao pressionar o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a investigar a atividade da família de Joe Biden, rival democrata, junto de uma empresa da Ucrânia envolvida num caso de corrupção, e que tentou perturbar a investigação pela Câmara de Representantes.

A equipa de advogados do Presidente voltou ao argumento de que não houve pressão junto de nenhum líder estrangeiro (invocando mesmo declarações de Zelensky nesse sentido) e disse que o Presidente atuou sempre em função do interesse público, preocupado com o alastrar da corrupção na Ucrânia, negando igualmente qualquer ato de obstrução ao Congresso.

Ao longo do processo, Donald Trump tem repetido que tudo não passa de uma “caça às bruxas” destinada a prejudicar a campanha para reeleição nas presidenciais de novembro próximo.

Fonte: MadreMedia/AFP

Foto: Twitter