Três meses depois do fogo, seguir em frente com feridas ainda abertas

Três meses após os incêndios de 15 de outubro, cinco pessoas ainda recuperam com queimaduras extensas de segundo e terceiro grau, milhares de lesados ainda não receberam ajuda, há ainda várias aldeias e zonas em perímetro urbano onde não há acesso à rede fixa ou à internet, mas faz-se um esforço por olhar em frente, por continuar.

Os incêndios de outubro de 2017, que atingiram 36 concelhos da região Centro, provocaram 45 mortos e cerca de 70 feridos e destruíram total ou parcialmente perto de 1.500 casas e cerca de meio milhar de empresas. Duas pessoas foram ainda dadas como desaparecidas, nos concelhos de Gouveia (Guarda) e Sertã (Castelo Branco). Cinco feridos dos incêndios de outubro de 2017 na região Centro continuam internadas no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) com queimaduras extensas de segundo e terceiro grau.

Segundo fonte hospitalar, trata-se de quatro adultos e uma criança que não correm risco de vida, mas que apresentam lesões “muito complicadas de tratar” e, por isso, “bastante morosas”. “Dois dos adultos e a criança ainda estão entubados e ventilados e assim vão manter-se”, acrescentou. As extensas lesões no corpo obrigam os feridos a deslocarem-se ao bloco operatório “uma a duas vezes por semana”.

Três dos feridos adultos estão internados no serviço de queimados e outro no serviço de cirurgia plástica do polo do Hospital da Universidade de Coimbra, enquanto a criança se encontra no serviço de queimados do Hospital Pediátrico.

“Vamos deixar as paredes no ar à espera que o vento as derrube?”

Ao assinalar “três meses da maior tragédia em destruição material que a região sofreu em séculos”, a Associação das Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal (AVMISP) insurge-se contra “a distância do poder político”, quando “a falta de esperança cresce” no interior devastado pelos fogos de 15 e 16 de outubro de 2017.

“Sobra sempre a sensação de que continuamos entregues à nossa sorte”, afirma à agência Lusa o empresário Luís Lagos, presidente da AVMISP, com sede em Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra.

Opinião idêntica tem o Movimento Associativo de Apoio às Vitimas dos Incêndios de Midões (MAAVIM), no vizinho município de Tábua, liderado por Fernando Tavares Pereira. Numa nota enviada à Lusa, o empresário de Midões reitera que “a população está rigorosamente ao abandono, com medidas avançadas e sem estarem aplicadas”, e reporta a existência de “milhares de lesados ainda sem ajuda”.

“São empresas que lutam para voltar à normalidade e encontram discriminação nos apoios, pessoas que querem reconstruir a sua casa, as suas vidas, e a quem falta proximidade e celeridade do poder executivo”, declara, por sua vez, Luís Lagos. O líder da AVMISP testemunha queixas dos “agricultores que ficam embrulhados em burocracia” e adianta que a população “tem a sensação de que vive num país onde o Governo está de férias para o Interior”.

A associação pergunta, por exemplo, “por que não se pagou, de imediato e sem burocracias, o valor indemnizatório mínimo aos familiares das vítimas mortais” e realça que, “se algum familiar não concordar com o valor final da indemnização e quiser recorrer aos tribunais, continuará a não receber o valor mínimo, de 70 mil euros”, anunciado pelo Estado.

“Isto não passa de uma forma encapotada de pressão” para levar as pessoas a aceitar esse valor, considera Luís Lagos, realçando ser “todo um território que fica em causa, um conjunto de vidas que ficam hipotecadas e uma região que perde o comboio do futuro”, se o Governo não promover “a discriminação positiva” de municípios do Interior “que todos os dias pagam o preço da distância” do poder central.

Questiona ainda, entre outras críticas, “onde está o Fundo Revita para a tragédia de outubro”, lembrando que, “se as ajudas dos portugueses, em junho”, com o incêndio de Pedrógão Grande, “mereceram a criação de um fundo para as fazer chegar de forma justa e equitativa ao terreno, em outubro é a bandalheira total”. Por outro lado, “a diferenciação ao nível da comparticipação do apoio às empresas, entre os incêndios de junho e de outubro, é gravíssima”, na sua opinião.

Por seu turno, o MAAVIM insiste que “ainda não existe um único parque de recolha” de madeira queimada e alerta que “os rios estão cheios de lixo e lama”. A organização liderada por Fernando Tavares Pereira recomenda que os planos diretores municipais (PDM) “devem ser suspensos urgentemente para reorganizar todas as áreas agrícolas, florestais, industriais e urbanas”.

As duas associações defendem que o Governo deve avançar com um sistema de ajudas que permita também a reconstrução das casas de segunda habitação destruída pelo fogo. “Falamos do tipo de habitação que dá vida ao Interior”, salienta a AVMISP, presidida por Luís Lagos. Igualmente, o fundador do MAAVIM valoriza estes edifícios, usados pelos emigrantes nas férias e pelos trabalhadores agrícolas.

“Vamos deixar as paredes no ar à espera que o vento as derrube?”, conclui Fernando Tavares Pereira.

Isolados do mundo

Três municípios do distrito de Coimbra (Arganil, Góis e Pampilhosa da Serra) e quatro do distrito de Viseu (Tondela, Vouzela, Carregal do Sal e Oliveira de Frades) confirmaram que há aldeias que continuam sem qualquer acesso à rede fixa, havendo ainda problemas nas comunicações nas vilas de Oliveira de Frades e da Pampilhosa da Serra.

“Continua a haver falhas na rede da Pampilhosa da Serra. A Altice terá dito que iria resolver tudo até ao dia 15, mas não estou certo de que tal aconteça. Continuamos com falhas em muitas povoações e até na vila e na zona industrial”, afirmou o presidente da Câmara, José Brito, frisando que já recebeu queixas de vários empresários que “não têm forma de enviar e-mails ou fazer movimentos comerciais”.

No distrito vizinho de Arganil, também “há várias freguesias e aldeias (muitas) sem ligação”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara, Luís Paulo Costa, referindo que a Altice se comprometeu “a ter tudo ligado até ao final de janeiro”.

Em Góis, o problema também se verifica.

“Demos uma volta pelas aldeias, na altura do Natal, e as únicas críticas que ouvi foi a desilusão com a rede fixa”, contou à Lusa a presidente do município, Lurdes Castanheira, referindo que o problema afeta a União de Freguesias de Cadafaz e Colmeal. As reclamações quanto às falhas na rede fixa são “sistemáticas”, frisou, sublinhando que a população afetada é maioritariamente idosa.

Os problemas nas comunicações continuam a sentir-se também em concelhos do distrito de Viseu. Em algumas povoações do concelho de Tondela verificam-se “fortes constrangimentos no acesso à internet e ao telefone”, de acordo com o município, e no de Oliveira de Frades há “muitas áreas que ainda não sofreram intervenção”. “Mesmo no centro da vila, ainda não existe acesso às telecomunicações, sendo que a população (particulares e coletivos) sentem impacto no seu quotidiano para solucionar as suas necessidades”, referiu à Lusa fonte da Câmara de Oliveira de Frades.

Também nos concelhos de Vouzela e de Carregal do Sal há ainda problemas de comunicações por resolver.

Numa resposta enviada à agência Lusa, a Altice prevê “que a reposição total dos serviços esteja feita a muito breve trecho”, explicando que a operação foi dificultada pela tempestade Ana, “pelas condições topográficas do terreno e pela afetação dos ‘stocks’ (concretamente postes) da Altice Portugal, já que alguns fornecedores foram também afetados”. A Altice continua, “neste momento, com 800 operacionais em todo o país centrados nos trabalhos de âmbito da rede local, com especial incidência na rede fixa de acesso nas povoações mais remotas e isoladas”, acrescentou fonte oficial da empresa. No entanto, a empresa sublinhou que a rede física se encontra “reposta em praticamente todos os concelhos do país” afetados pelos incêndios, salientando que em algumas regiões ocorreu “uma migração de cobre para fibra”. “Releva-se ainda que a Altice Portugal anunciou que todos os concelhos afetados verão duplicada a rede de fibra no seu território”, frisou a mesma fonte.

Um empurrão

Na Pampilhosa da Serra, há dezenas de aldeias quase desertas, onde as segundas habitações garantem a pouca dinâmica que lhes resta. Se não houver ajuda para estas casas, muitos acreditam que se pode decretar a morte do concelho.

São casas dos pais, avós e bisavós, que se enchem no verão, no Natal, na Páscoa, em feriados e fins de semana. São também espaços de memórias, como as fotografias de família, a máquina de costura centenária ou as recordações dos tempos de meninice.

Houve 57 aldeias afetadas pelo incêndio de outubro neste concelho do distrito de Coimbra e muitas delas não chegam a ter sequer dez pessoas no inverno, apesar das várias dezenas de casas que compõem as localidades, parte delas de segunda habitação.

São os cerca de 30 mil descendentes da Pampilhosa da Serra que maioritariamente moram em Lisboa que dinamizam as comissões de melhoramentos e que enchem de vida as aldeias quase desertas.

“Há aldeias com oito pessoas no inverno, algumas com duas ou até zero, mas a maioria tem 200 a 300 habitações”, sublinha Ludovina Lopes, que vive em Lisboa e que é dirigente da comissão de melhoramentos da aldeia de Maria Gomes, na Pampilhosa da Serra, desde os seus 16 anos.

No verão, sublinha, as aldeias enchem-se de vida, com descendentes, muitos dos quais nascidos já em Lisboa, sendo que a população do concelho quintuplica nessa altura.

A razão, explica Ludovina, é a “terrafilia”, o “amor à terra”.

Carlos João perdeu para o fogo grande parte da casa na aldeia de Praçais que era dos seus avós e bisavós e que tinha reconstruído há nove anos.

O que se salvou no rés-do-chão começa agora a estragar-se com humidade e infiltrações, sublinha, alertando para a necessidade de um apoio rápido para se poderem minimizar os estragos.

Apesar de ter nascido em Lisboa, passava o verão todo em Praçais. Foi essa ligação que o levou a reconstruir a casa, que era usada por toda a família.

“Eu não quero ficar aqui na selva [Lisboa]. A minha ideia era ir para lá viver, passar a reforma na província. Eu adoro aquilo e tinha conseguido arranjar a minha casinha, à maneira. Agora, está tudo preto”, sublinha, considerando que, sem apoio, não terá qualquer possibilidade de reconstruir a casa de xisto centenária.

De acordo com o presidente da Câmara da Pampilhosa da Serra, José Brito, as casas de segunda habitação são um eixo fundamental na economia e dinâmica do concelho.

“Temos cerca de 80 comissões de melhoramentos, todas sediadas em Lisboa e que se mantêm muito ligadas às suas terras. Não podemos deixar de apoiar estas pessoas”, disse à agência Lusa o autarca, referindo que está a ser trabalhado com o Governo um instrumento de apoio para a reconstrução das casas de segunda habitação.

Segundo José Brito, se não se ajudarem as pessoas que já estão “muito ligadas ao concelho”, Pampilhosa fica ainda “pior”.

“Na minha aldeia, que teria sete pessoas na noite do incêndio, em agosto é capaz de ter 50 a 60 pessoas e, ao fim de semana, 80”, sublinha o presidente da Casa da Pampilhosa da Serra em Lisboa, José Ferreira.

É naquela associação situada em Alfama que estão sediadas muitas das comissões de melhoramentos que em tempos garantiram luz, água, telefone e escola em muitas das aldeias. Hoje, dinamizam festas e convívios.

“Já é a terceira ou quarta geração que está à frente das comissões. Há bisnetos de pessoas que vieram para Lisboa e que continuam interessados na terra”, sublinha José Ferreira, considerando que, “se não houver uma ajuda significativa”, muitos não terão hipótese de reconstruir.

“Fica mais barato ir para um hotel e ir lá uma ou duas vezes por ano, do que estar a gastar 50 mil euros na reconstrução. É preciso haver algo que motive as pessoas a recuperar as casas”, defendeu, considerando que, se nada for feito, as aldeias vão ficar “completamente abandonadas”.

Nuno Baptista, de 50 anos, também perdeu a casa dos seus pais, na aldeia de Praçais. “Tudo o que era memórias ardeu: fotografias, uma máquina de costura que era do meu bisavô, colchas antigas. Ardeu tudo”.

Apesar da desgraça, a casa tinha seguro e Nuno vai conseguir reconstruir a casa para onde vai nas férias e aos fins de semana.

“Felizmente, temos seguro. Agora, para quem não tem, será muito complicado”, vaticina.

José Reis, que vive em Lisboa, tinha recuperado recentemente a casa onde ganhou os seus primeiros calos, aos 15 anos, a construí-la com os pais, na Aldeia Cimeira.

“Era para os meus filhos usarem agora nas férias de verão. Só que, de repente, o incêndio devorou a casa”, conta o reformado a viver em Lisboa, mas que passava regularmente temporadas no concelho da Pampilhosa da Serra.

“É a segunda habitação que mantém viva a Pampilhosa. No verão e até ao fim de setembro, não há sítio onde estacionar, os restaurantes estão sempre cheios. Espero que haja ajuda para estas casas, porque se a Pampilhosa viver só das pessoas das casas de primeira habitação morre”, alerta.

Vagos e Mira regressam à normalidade com “o luto feito”

“O luto está feito e a vida começa a regressar à normalidade” em Mira e Vagos, graças ao “esforço concertado da população e das autoridades”, garantem responsáveis dos dois concelhos.

“Sem o esforço de todos e o apoio das autoridades locais e nacionais não teria sido possível retomar o caminho, depois do terrível golpe que sofremos no dia 15 de outubro [de 2017]”, frisa o presidente da Câmara de Mira, Raul Almeida, cujo concelho, no distrito de Coimbra, teve prejuízos, por causa dos incêndios, superiores a 30 milhões de euros.

O incêndio não provocou vítimas mortais, mas deixou desalojadas dezenas de pessoas, consumiu 60 por cento da mancha florestal do concelho e praticamente reduziu a cinzas a zona industrial.

Mais a norte, no concelho vizinho de Vagos (mas já no distrito de Aveiro), a situação foi semelhante. O fogo percorreu todo o concelho, destruiu mais de 50 habitações de primeira residência e de férias, e atingiu uma dezena de empresas. Tal como em Mira, não há a registar vítimas mortais.

Em ambos os concelhos, as populações tiveram de se organizar desde o primeiro minuto. As corporações de Bombeiros dos dois concelhos dispersaram-se no combate a dezenas de focos de incêndios e coube aos habitantes de muitas aldeias o combate às chamas com o recurso a maquinaria agrícola e água dos poços.

Esse espírito de solidariedade perdurou e tem servido de inspiração. Desde os incêndios realizaram-se nos dois concelhos eventos solidários de arrecadação de fundos para os Bombeiros locais. A Igreja Católica tem mantido no terreno voluntários que apoiam psicologicamente os mais afetados pela tragédia, um exemplo seguido pelas autarquias, que criaram equipas de suporte com psicólogos.

A Caritas Diocesana, tal como tem feito noutros concelhos do Centro do país, tem apoiado com recursos a reconstrução de habitações. Em Mira, fez donativos a pequenos agricultores, havendo casos em que financiou a substituição de alfaias agrícolas e tratores.

“Já se fez o luto, agora a aposta passa por retomar a normalidade”, avança Silvério Regalado, presidente do município de Vagos.

Nos dois concelhos foram criados gabinetes de apoio aos cidadãos que, numa primeira fase, fizeram o levantamento dos estragos. Numa segunda fase ajudaram a preparar candidaturas aos fundos de apoio disponibilizados pelo Governo, sobretudo na área agrícola. Neste setor, foram já despachados dezenas de processos de indemnizações de prejuízos até cinco mil euros.

Mas é precisamente no setor agrícola que existem, nos dois concelhos, mais queixas. Não só sobre o processo burocrático, mas sobretudo sobre o valor das indemnizações, que são mais baixas do que para a reconstrução de casas ou de empresas.

Silvério Regalado junta-se ao coro de protestos que se tem feito ouvir no Centro, nomeadamente através da Associação de Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal. “Não se percebem as razões que levam a que os empresários do setor agrícola tenham o apoio a fundo perdido limitado a 50 por cento do valor dos estragos que sejam superiores a 50 mil euros, mas inferiores a 400 mil euros, ao contrário do que se passa na indústria”, refere, pedindo ao Governo que corrija rapidamente a situação.

É precisamente no setor industrial que os efeitos da recuperação são mais visíveis. Mira, sobretudo, foi muito afetado neste setor, mas a tenacidade dos empresários surpreendeu até o Presidente da República, que durante uma visita às zonas industriais manifestou surpresa e agrado pela recuperação.

Nos dois concelhos, os responsáveis autárquicos concordaram em agilizar os processos de reconstrução e relocalização de algumas empresas, tendo sido feitas alterações pontuais nos respetivos Planos Diretores Municipais. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) “tem sido incansável”, segundo os autarcas, na elaboração das candidaturas a fundos de apoio.

O objetivo, frisam, é criar rapidamente condições para manter todos os postos de trabalho nas empresas afetadas pelos incêndios. Esse objetivo terá sido, até agora, alcançado, mas, como frisa um empresário de Mira que prefere não ser identificado, “todo esse esforço pode ir água abaixo” se houver demoras na entrega dos apoios financeiros e nas indemnizações dos seguros. “Não podemos ser derrotados pela burocracia”, frisa.

O fogo obrigou Nelas a um esforço maior na promoção do território

A Câmara Municipal de Nelas está a olhar para o incêndio de outubro de 2017 como uma oportunidade “para o território” e quer aproveitar as medidas de apoio para valorizar e promover o turismo naquele concelho do distrito de Viseu.

No meio das cinzas, é possível encontrar “uma oportunidade para o território”, argumenta a vice-presidente da autarquia, Sofia Relvas, considerando que é preciso usar este momento também para promover a região do Dão, marcada pela produção de vinho.

Em Nelas, os processos de reconstrução de 13 casas de primeira habitação já foram indicados à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), a autarquia acompanha os familiares da única vítima mortal no processo de indemnização e os apoios aos agricultores abaixo dos cinco mil euros já começaram a ser pagos.

Segundo Sofia Relvas, houve cerca de 550 candidaturas de agricultores no regime simplificado (até cinco mil euros) e oito acima dos cinco mil euros, duas das quais de vinicultores.

Na área empresarial, registam-se poucos danos, visto que “foi feita uma salvaguarda efetiva das áreas de segurança à volta das zonas industriais com um corredor muito superior ao exigido”, garantindo a salvaguarda das empresas no incêndio de 15 de outubro de 2017, realçou.

Agora, há que olhar em frente, visto que a região, apesar da tragédia, “ainda tem muitos fatores para ser atrativa”, sublinhou a vice-presidente da autarquia.

“Há linhas de apoio interessantes e estamos a estruturar algumas candidaturas para a promoção territorial e apoiar candidaturas de entidades privadas”, disse à agência Lusa Sofia Relvas.

Para a vice-presidente de Nelas, esta é “uma região com forte dinâmica turística, com turismo gastronómico e turismo de natureza”, querendo “atrair eventos” para o concelho.

“Queremos atrair para cá as atenções que são precisas”, frisou.

Segundo Sofia Relvas, há que “agarrar as oportunidades”.

Penacova defende ajudas à recuperação de segundas habitações

A falta de um apoio do Estado para recuperar as casas de segunda habitação destruídas pelo incêndio de outubro de 2017 preocupa a Câmara de Penacova, cujo presidente, Humberto Oliveira, alerta para o risco de abandono.

O autarca do PS junta-se a outros eleitos e associações de vítimas dos fogos que reclamam uma ajuda financeira do Estado, a fundo perdido, para as segundas habitações atingidas pelas chamas.

“Não há nenhuma solução”, sendo “preciso ir um pouco mais além” no apoio público a estas situações, defende.

Humberto Oliveira, que cumpre um terceiro e último mandato no município, considera que a linha de financiamento para a reconstrução de segundas residências, criada pela Caixa Geral de Depósitos, “não resolve” o problema.

O presidente da Câmara de Penacova realça que “muitas famílias”, que moram e trabalham em diversas localidades, sobretudo em Coimbra, mas igualmente emigrantes, utilizam com regularidade as casas que têm no concelho de origem.

Em dezembro, também o seu homólogo da Pampilhosa da Serra, o social-democrata José Brito, disse que tem vindo “a sensibilizar o Governo” e o próprio primeiro-ministro, António Costa, para esta dificuldade.

“Se estas pessoas não tiverem casa, deixam de vir ao concelho”, explicou à Lusa José Brito, ao preconizar que será necessário o Estado, em articulação com as autarquias, desbloquear “ajudas também nestes casos”, a fim de minimizar impactos negativos, tantos sociais como económicos.

Das mais de 600 casas deste concelho montanhoso, no distrito de Coimbra, atingidas pelos fogos no ano passado, a maior parte delas em outubro, cerca de 250 são de primeira habitação.

Há “muitas outras” que não “são bem de segunda habitação”, mas sim de famílias naturais da Pampilhosa da Serra que vivem fora, maioritariamente na zona de Lisboa, e “regressam frequentemente” à terra natal ao longo do ano.

Neste ponto, idêntica posição é defendida pela Associação das Vítimas do Maior Incêndio de Sempre em Portugal, com sede em Oliveira do Hospital, e pelo Movimento Associativo de Apoio às Vitimas dos Incêndios de Midões, no concelho de Tábua.

A recuperação destas habitações em Penacova tem sido, segundo Humberto Oliveira, “uma preocupação apresentada pelas pessoas” que continuam a demandar os serviços camarários três meses após o incêndio.

Os fogos de outubro causaram cinco mortos neste concelho e destruíram 56 casas de primeira habitação, além de outras de segunda residência ou devolutas, de acordo com o levantamento da autarquia.

“Já temos algumas recuperações concluídas” a nível dos imóveis de primeira habitação, mas noutros casos “há um apoio que tarda” devido ao processo burocrático, refere.

Alguns produtores de Penacova que praticam uma agricultura de subsistência “já receberam ajudas” até 5.000 euros a que têm direito.

Só que “isso não possível” relativamente a uma habitação: “É um tempo demasiado longo para quem foi afetado”, lamenta o presidente da Câmara.

Em outubro, o fogo originou prejuízos na ordem dos três milhões de euros em 29 empresas locais.

Humberto Oliveira antevê ainda dificuldades no setor florestal, com eventual “impacto no emprego nos próximos anos”.

No imediato, está em causa “a capacidade de se poder ou não absorver toda a madeira” queimada, com o autarca a manifestar-se preocupado com o futuro da atividade dos madeireiros, quando a matéria-prima estiver esgotada.

Fonte: Lusa

Foto: Hugo Delgado/LUSA