Secretário de Estado do Ambiente veio à Assembleia Municipal de Cantanhede

O secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, esteve em 29 de junho na reunião da Assembleia Municipal de Cantanhede, onde se pronunciou sobre as descargas de águas residuais do “Intercetor Sul” da Águas do Centro Litoral (AdCL) que têm ocorrido regularmente na Vala da Vela e em áreas adjacentes a este importante recurso hídrico que atravessa o território dos concelhos de Cantanhede e Mira.

Na sua intervenção, aquele membro do Governo respondeu às questões suscitadas pela presidente da Câmara Municipal, Helena Teodósio, no âmbito de uma análise detalhada do problema decorrente da incapacidade do coletor da AdCL para transportar e elevar os caudais recolhidos pelas redes em parte do concelho de Cantanhede e no concelho de Mira, “um problema que já se arrasta há tempo demais e que nos suscita as maiores preocupações”.

Entretanto, Helena Teodósio põe “sérias reservas à solução definitiva que tem vindo a ser apontada como a mais viável, designadamente a construção, na freguesia da Tocha, de uma ETAR com descarga do efluente tratado no solo por infiltração, uma vez que os estudos já realizados indicam que o nível freático na zona prevista é demasiado alto, além de que, segundo me dizem, tal solução não está suficientemente testada no nosso país. Ou seja, não queremos que a resolução do problema ambiental com que estamos confrontados deixe margem para que outro venha a ocorrer, eventualmente ainda mais grave”, sublinhou.

Outra grande inquietação da líder do executivo camarário cantanhedense tem a ver com o facto de a “implementação de uma solução definitiva demorar pelo menos três anos a ser implementada, o que nos coloca perante a necessidade de serem tomadas medidas efetivas para evitar que as descargas do “Intercetor Sul” da AdCL ocorram”.

A presidente da Câmara de Cantanhede diz que durante algum tempo alimentou “a expetativa de que o problema fosse mitigado com as obras executadas pela AdCL no seu coletor, obras essas que, segundo a empresa, representariam um aumento da capacidade de bombagem na ordem dos 15% a 20%, mas infelizmente o problema subsiste. Até que haja uma alteração estrutural no sistema que resolva definitivamente a situação, alguma coisa tem que ser feita, pois não podemos aceitar que as descargas de efluentes continuem com a regularidade e o volume a que temos vindo a assistir, quer em Cochadas, na freguesia da Tocha, quer em Pisão, na freguesia de S. Caetano”.

Na resposta às questões levantadas por Helena Teodósio, o secretário de Estado do Ambiente reconheceu que “apesar do aumento de 20% da capacidade de transporte do sistema, a verdade é que os coletores têm trabalhado praticamente quase como se fosse uma conduta de água em vez de ser uma conduta de saneamento 24 horas por dia e ainda assim o número de descargas para o meio recetor aumentou relativamente a tudo o que era histórico até 2016 e 2017”.

Carlos Martins referiu que “para além dos estudos que a AdCL tem estado a realizar, vão ser efetuadas inspeções vídeo para encontrar a razão por que os caudais se mantém praticamente constantes, para determinar se é por afluências indevidas ou por infiltrações, pelo que, pese embora todos os riscos ambientais e até sociais que estas questões colocam, vamos ter de passar mais um mês ou dois a fazer uma avaliação mais minuciosa”.

Depois de afirmar que “a construção de uma ETAR não demorará menos de dois a dois anos e meio”, o Secretário de Estado respondeu á preocupação de Helena Teodósio sobre o que fazer até lá manifestando a esperança de que, entretanto, “venha a ser descoberta alguma anomalia que possa ser resolvida rapidamente de modo a repor o caudal no padrão de 2014 ou 2015, quando ocorriam um ou outro episódio de descarga, mas nada como agora, que está a acontecer quase todos os dias. A minha expetativa é que se possa encontrar uma ligação que esteja a perturbar o normal funcionamento do coletor”.

Quanto à construção de uma ETAR com tecnologia de infiltração, Carlos Martins considera que, apesar de não ser muito corrente em Portugal, se trata de uma boa solução, mas “se for inibida pelo nível freático é evidente que não se pode avançar para isso sem estudos mais apurados. E isso é algo que vamos pedir à AdCL para fazer em paralelo à avaliação que está a fazer no coletor”, concluiu.