Pelos vistos, ir à praia tem mais valor que a vida…

Nem as tristes imagens vindas de todos os cantos do planeta são capazes, algumas vezes, de fazer as pessoas pensarem no bem comum…

Local: Praia de Mira. Dia: Domingo “supostamente” dedicado à quarentena: Horário: cerca de 15:30 horas…

O cenário, é necessário sermos justos, era deslumbrante, com o mar belo e calmo, a areia limpa e bonita e o sol de início de Primavera, mesmo a condizer… acontece, que ninguém ali deveria estar, por conta de um vírus traiçoeiro que apanha a todos sem distinção e, por isso mesmo, é merecedor de todos os receios que grande parte da população tem demonstrado, salvo muitas e terríveis exceções!

Quando o Governo decretou a quarentena, fê-lo baseado em quase 13 mil mortes na altura – já são mais – pelo mundo fora. Fê-lo de uma maneira soft, permitindo “passeios higiénicos” “idas a supermercados e farmácias” para que toda a população portuguesa comprasse “o indispensável” ou pudesse passear o seu animal de estimação…

Porém, o impensável aconteceu: um pouco por todo o país, Praia de Mira incluída, muitas pessoas aproveitaram a benesse do bom tempo para sair de dentro das paredes. Muitas delas, mesmo sem o saber – e, aparentemente sem se preocuparem com isto – podem ser portadoras do vírus, acabando, de uma forma leviana por contaminar – quiçá – os seus e os outros, simplesmente por não cumprirem o básico de uma existência em comunidade: preocupar-se com o outro!

Não eram tão poucos os que estavam na Praia de todas as Bandeiras Azuis. Muitos, julgando-se protegidos, estavam estacionados dentro dos seus carros… com os vidros abertos, dando uma contribuição para que o mal pudesse lhes entrar pela janela dentro!

Outros, tiravam selfies ou, simplesmente passeavam a beira mar, ao longo da Barrinha ou na pista pedonal que liga a Lagoa à Praia – e eram tantos! – … todos bem dispostos, ancorados na esperança de que estas coisas só acontecem aos outros

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Francisco Reigota

A reportagem do Jornal Mira Online convidou o Presidente da Junta de Freguesia da Praia de Mira, Francisco Reigota, para ver in loco o que se passava e dizer de sua justiça.

O autarca, visivelmente incomodado, confidenciou estar “muito preocupado, pois esta é uma situação extraordinária e deve haver o dobro das nossas responsabilidades como cidadãos”. O lema um por todos, todos por um é, na opinião do autarca, mais que atual e, aquilo que esteve a ver deixou- o “tristemente admirado e esperançado de que a Proteção Civil Municipal encerre a Avenida Arrais Batista Cera (a marginal) na esperança de que isto não volte a acontecer!”.

Confessando estar em casa durante todo o final de semana, para cumprir o “papel que me cabe como autarca e cidadão”, deixando-o de fazer apenas por aceitar o convite da reportagem, Francisco Reigota admite que “todos possamos tomar atitudes dentro das regras que nos foram determinadas neste momento muito complicado, mas não compreendo um comportamento que gere ainda mais possibilidades do estado atual ficar ainda pior!”.

GNR

Jornal Mira Online sabe que a força de segurança foi chamada por cidadãos da Praia de Mira para que se fizesse presente no local. Estando com um elemento da Corporação e colocando-lhe esta questão, soube que a autoridade esteve no local sem intervencionar, pois o quadro legal atual ainda não é totalmente clarificador, estando a aguardar diretrizes concretas para atuar e saber, em que medida poderá fazê-lo.

Proteção Civil

O Comandante da Proteção Civil Municipal, o Presidente da Câmara Municipal de Mira, Raul Almeida, confidenciou à reportagem que será proposto durante a próxima reunião da Comissão Municipal da Proteção Civil – que, em princípio acontecerá já nesta segunda-feira – “que seja determinado o corte total da Avenida Arrais Batista Cera, somente com acesso a moradores” no sentido de se evitar a existência de estacionamentos que acabam por convidar as pessoas, de forma indireta, a irem até ao local. Entretanto, caso esta medida seja implementada, estará para ser decidido, ao mesmo tempo, se tal corte acontecerá durante todos os dias em que a quarentena perdurar ou, em alternativa, somente durante os dias de fim de semana.

Francisco Ferra / Jornal Mira Online