OPINIÃO QUE CONTA: “Viver num país que pensa verde” (Joana Lima)

A preocupação com o ambiente e a protecção da natureza tem vindo a aumentar em vários locais do planeta. As alterações climáticas são uma realidade e o número de espécies ameaçadas de extinção tem crescido. Não é por acaso que a comunicação social tem dado ênfase a várias manifestações, petições, discussões parlamentares e congressos em todo o mundo.

Se todo este burburinho for para ser transformado em acções concretas, combatendo as alterações climáticas e protegendo a natureza, então estaremos no caminho certo.

Apesar da comunidade global ter ainda um longo percurso pela frente, existem países que têm feito a sua contribuição em prol do ambiente. E são estas as conclusões de um estudo recentemente publicado pelo Good Country Index (Índice de Bom País) que analisou 153 países em sete áreas diferentes, entre elas “Planeta e Clima”.

Vamos saber quais os 10 países que ficaram com melhor cotação nesta categoria:

  1. Noruega
  2. Suíça
  3. Portugal
  4. Eslovénia
  5. Chipre
  6. Finlândia
  7. Suécia
  8. Alemanha
  9. Croácia
  10. Eslováquia

É verdade, Portugal ficou em 3º lugar!

A BBC falou com residentes em cinco países do top 40 para saber como é viver num lugar que está a fazer algo para salvar o planeta.

Noruega – 1º lugar

A Noruega é líder mundial em várias iniciativas ambientais. É o país com maior taxa de adopção de carros elétricos do mundo e promulgou um acordo para se atingir a neutralidade climática em 2030.

Os noruegueses abraçam o conceito de friluftsliv, que pode ser traduzido como “vida a céu aberto” e que se refere à importância dada a passar tempo na natureza para ser saudável e feliz.

Axel Bentsen, fundador e CEO da Urban Sharing, refere “Nós passamos tempo na natureza a qualquer temperatura e os nossos bebés fazem sestas no exterior. A nossa capital, Oslo, é única no sentido em que podes usar o transporte público e ir parar a uma floresta, e portanto, isto é algo comum fazer antes ou depois do trabalho.”

Oslo foi nomeada a Capital Verde da Europa em 2019 pela Comissão Europeia por restaurar os seus canais, investir em bicicletas e transportes públicos e pela sua estratégia financeira climática inovadora (marcar as emissões de dióxido de carbono como um indicador tão importante quanto os fundos das empresas). A cidade também tem trabalhado no sentido de impedir o tráfego de carros no centro da cidade. “No último ano, tem sido óptimo ver a cidade retirar estacionamentos e torná-los áreas mais amigáveis para pedestres e ciclistas, enquanto a infraestrutura para bicicletas também melhorou com mais ciclovias.”, diz Bentsen.

Outro contributo para o ambiente tem a ver com gastos domésticos de energia 99% sustentável que provém de centrais hidroelétricas no litoral, fiordes e cascatas.

 

Portugal – 3º lugar

Portugal foi um dos pioneiros no investimento em estações de carregamento para carros elétricos, no incentivo aos seus cidadãos a instalarem painéis solares e energia renovável com preços mais baixos, além de oferecer a oportunidade de vender a energia de volta ao sistema.

“A maioria dos meus vizinhos têm painéis solares ou bomba de água. Na minha casa, os meus pais instalaram essa bomba que transforma água da chuva em água potável, que usamos para as plantas, lavar roupas e dar água aos nossos animais de estimação”, refere a portuguesa Mariana Magalhães, gerente na agência britânica Forty8Creates.

A reciclagem e a compostagem estão mais interiorizadas do que na maior parte dos outros países, sendo este também um ponto a favor na classificação de Portugal neste ranking. A educação ambiental portuguesa é outro dos factores elogiados, num país em que o contacto com a natureza é privilegiado.

Ao longo da sua história, Portugal foi uma sociedade agrária que fez uso dos seus recursos naturais. “Na fronteira entre Portugal e Espanha, no Norte, consegue-se ver as montanhas cheias de equipamentos de captação de energia eólica. Também consegue ver hidroelétricas nos lagos para recolher energia da água”, diz Mariana.

Nos últimos meses, a adopção de trotinetas e bicicletas elétricas tem aumentado o carácter sustentável da capital portuguesa.

 

Uruguai – 15º lugar

No topo da lista dos países sul-americanos surge o Uruguai. É um dos países mais referenciados pela sua preocupação ética em políticas socio-ambientais.

“O Uruguai não possui reservas de petróleo e estava a gastar muito dinheiro na importação. Por isso, começamos a substituir combustíveis com base de petróleo pelos de energia limpa, o que foi conquistado em menos de uma década”, sublinha a uruguaia-americana Lola Méndez, que escreve no blog Miss Filatelista.

Hoje, 95% da energia elétrica vem de fontes renováveis, em especial a hidroelétrica, mas também a solar e eólica. No Acordo de Paris, em 2015, o país foi elogiado pela mudança dramática no paradigma das energias, sem qualquer subsídio governamental.

O Aeroporto Internacional de Carrasco, em Montevidéu, está perto de se tornar totalmente sustentável através de painéis fotovoltaicos.

 

Quénia – 26º lugar

Já a viver os efeitos das mudanças climáticas, com eventos climáticos extremos, o governo está a trabalhar no sentido de proteger a sua economia extremamente dependente da agricultura por meio de um Plano de Mudanças Climáticas e onde se comprometem a reduzir as emissões de gases de efeito de estufa em 30% até 2030. Além disso, proibiu os sacos de plástico, de forma a proteger principalmente as fontes de água do país. Quem for visto com um saco de plástico, é multado ou poderá mesmo ser preso.

Faye Cuevas, vice-presidente do Fundo Internacional de Protecção Ambiental, refere “As comunidades locais aqui têm sistemas tradicionais de protecção ambiental e eles funcionam. A floresta de Maasai Loita é uma das florestas geridas por indígenas que sobraram no Quénia e é intocada, muito devido às regras locais e os sistemas tradicionais que a protegem.”

 

Nova Zelândia – 39º lugar

A Nova Zelândia é líder na região da Ásia e do Pacífico. É um país com uma atitude bastante protectora dos seus recursos naturais, dos quais depende uma agricultura e turismo fortes.

“O nosso país é conhecido no mundo como “Nova Zelândia Limpa e Verde” e nós acoplamos a nossa identidade a isso.”, explica Brendan Lee, originário da Nova Zelândia e dono do blog Bren on the Road. “Os kiwis (como são chamados os neozelandeses) têm muito orgulho quando os turistas nos dizem que a nossa natureza é linda, que o nosso país é lindo”.

No entanto, o país está entre os principais emissores de carbono per capita principalmente devido às suas emissões de metano na indústria de gado e ovelhas, assim como a crescente energia industrial. Mas para mitigar o efeito, o país criou um plano para neutralizar a emissão de carbono até 2050.

Os residentes são preocupados com a acumulação de plásticos nos oceanos e florestas e por isso, os sacos de plástico estão banidos, as palhinhas não são bem vistas e já faz parte da vida quotidiana, o uso de garrafas reutilizáveis.

 

São estes exemplos que nos incentivam a avaliar a situação no nosso país, ou mesmo, à nossa porta, pensar na forma de resolver os problemas e avançar com acções concretas que ajudem a proteger o que o nosso planeta nos dá gratuitamente.

 

Joana Lima, CianMira