OPINIÃO QUE CONTA: “O comboio de Mira” (Rufino Leitão Neto)

É este título no livro de autoria do Dr. João Reigota, titulado “UMA CAMINHADA NA HISTÓRIA” que me chamou atenção da passagem do comboio, na lindíssima vila da Praia de Mira.

-Em trabalho do Instituto de Arqueologia, artigo de Dário Simões e na monografia de autoria do Dr. João Reigota, sobre a Praia de Mira (Palheiros de Mira), toma-se conhecimento , que nos fins do século XIX, um senhor abastado de origem inglesa, adquiriu umas propriedades para exploração agrícola, nas proximidades da Praia de Vagueira, entre a ria e o mar, sendo ainda conhecida, pela “Quinta do Inglês”.

-Nessa época, relatam os referidos autores, que o transporte fazia-se através de barcos moliceiros ou outros tipos de embarcações, e se na altura, o vento não era de maré, os respetivos barqueiros, ficavam retidos longas horas no leito da ria.

-Perante estes factos, o senhor inglês, planeou e concretizou a montagem de uma via férrea reduzida, com início na sua quinta e o términus da linha, na e principal estação na LAGOA. Continuam os autores a narrar, que o comboio com duas
máquinas a vapor, percorria aquele trajeto rebocando wagons abertos e fechados, para transporte do moliço e animais de carga, bem como carruagens de passageiros, pagando estes uns patacos e um vintém, pela utilização deste meio
de transporte. Transportava-se também o peixe de e da Praia de Mira, que era descarregado na estação da LAGOA.

-A extinção desta mini via férrea, deve-se em parte a um Inverno rigoroso, tendo o mar, durante as marés vivas, galgado pelo lado sul, a curta distância que separava dos lagos, causando com a sua fúria impiedosa, inundações, soterrando e
destruindo casas e culturas, causando a morte de seres humanos e de animais.

Também como na leitura, as dunas estavam despidas de vegetação, quando o vento soprava fortemente, os carris ficavam totalmente soterrados. Assim estava esta linha condenada ao desaparecimento, estando pouco tempo em circulação, cujos alguns carris e respetivo material circulante, foi adquirido pela empresa das minas de carvão do cabo Mondego para seu uso próprio.

-Mediante informações colhidas, ainda há restos de vestígios do comboio que ligava a Vagueira à Praia de Mira e Lagoa, assim como existem também vestígios comprovantes (carris, rodas e eixos) encontrando-se estes, em casas particulares.

-Também no início do século passado (XX) esteve prestes a passar em Mira, uma outra linha férrea que infelizmente não se concretizou, relato no jornal “A Águia” de 25 de maio de 1924, onde se pode ler “há dias esteve em Mira, um engenheiro, a tirar plantas para a passagem de uma linha férrea de Aveiro até à Figueira da Foz e de Mira seguiria um ramal para Cantanhede”.

-Assim e neste contexto de curiosidades, dignos de registo e referentes a esta zona, do Litoral, o historial dá para meditar o progresso à data.

Rufino Leitão Neto