OPINIÃO QUE CONTA: “O Acordo Ortográfico” (Flavia Barreto)

Eu sou apaixonada por palavras! Acho mágica a habilidade de expressar ideias e emoções através delas. Admiro quem domina o seu uso e nos transporta no tempo e espaço, quer pelo meio escrito ou não. Nada é mais nosso, como povo, do que a nossa língua. É o que no une, nos identifica, entrelaça nossas histórias, nossas memórias, nossas raízes. Por pensar e sentir assim, não gostei do Acordo Ortográfico. Não vi sentido algum nele.
Eu gosto muito dos Portugueses! Quanto aos demais povos que compartilham o nosso idioma, não os conheço, por isso não tenho como emitir opinião. Mas os Portugueses têm a minha admiração e carinho. Por questões profissionais, tenho convivido cada vez mais com nativos de Portugal. Gosto do seu modo de pensar, da franqueza, da ironia, do jeito cerimonioso… da cultura local também sou fã, menos do Fado porque me soa muito melancólico, “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”, afinal sou Carioca.
Tenho pensado ultimamente sobre o quanto somos parecidos e diferentes ao mesmo tempo, nós e eles. Algumas vezes quando troco mensagens com um amigo Lusitano, fico pasma como precisamos explicar o que queremos dizer, de parte à parte, para evitar mal entendidos. Lacan sustentava que podemos saber o que dissemos, mas nunca o que foi ouvido, e penso que quando há um Oceano entra as pessoas, a questão é ainda mais complexa. Isso porque as referências são outras, o Continente é diverso, e tudo o mais que envolve cada Nação. Acho toda essa diversidade rica, encantadora e nada problemática. Acho ótimo que seja assim! Desafio não é sinonimo de problema no meu dicionário.
Por isso, acredito que a nossa diferença linguística esteja para além de hifens, acentos diferenciais, tremas, ou do número de letras do Alfabeto. Temos escolhas de palavras diversas, usamos tempos verbais peculiares, estruturas de frase próprias, porque nos colocamos através da nossa língua, e somos únicos como povo. Ainda que tivéssemos regras gramaticais idênticas, saberíamos se um texto foi escrito por alguém do Brasil ou de Portugal.
Mas, apesar de tudo o que disse até aqui, já é hora de deixar de lado tantas ponderações, me conformar e estudar tudo o que for pertinente. Afinal, amo demais as palavras, a escrita e a Língua Portuguesa para me permitir não me adequar as mudanças.
Flavia Barreto