OPINIÃO QUE CONTA: “Medo que Assombra as Nossas Aldeias” (Carolina Manco)

A opinião de uma médica gandareza a  trabalhar nos Hospital São João no Porto…

“Venho-vos falar como médica no Centro Hospitalar e Universitário de São João no Porto e como alguém que tem sangue Mirense e Vaguense a correr-lhe nas veias. Tenho vivido esta calamidade desde que ela atingiu o nosso querido País. No início alguns dos profissionais de saúde ainda brincaram, porque achavam que iria ser uma gripe dita normal, mas de normal ela nada tem. Conseguiu que o silêncio num hospital se tornasse ensurdecedor, silenciou as ditas grandes cidades… mudou o olhar dos profissionais de saúde, posso dizer que por detrás de cada máscara há medo, impotência e lágrimas escondidas.
Quando nos apercebemos da gravidade da situação apelamos para que as pessoas ficassem em casa, mesmo as que viviam em meios pequenos, sabíamos que ninguém estava em segurança. Sei o quão difícil seria, é e será para a saúde da mente, mas é a arma mais poderosa que temos, sem dúvida alguma. Trata-se de um vírus que gosta de ficar em tudo o que é canto e sobreviver (até no cabelo), em que apenas a água e o sabão o destroem (e as famosas soluções de álcool).
Quando surgiu o primeiro caso confirmado de Covid-19 na Vila de Mira várias pessoas se revoltaram através do Medo. Atenção! Alarmismo nunca ajudou a resolver problemas.
Há duas hipóteses: a possibilidade de ficar em casa e parar a cadeia de propagação do vírus ou fingir que não é nada de grave. Se escolherem a segunda opção podem começar a despedir-se mais cedo dos que amam, pois não haverá meios de tratamento e não será por culpa do governo. Olhem para a Itália e para a Espanha, assim como lá, também os nossos médicos terão que escolher quem vive ou morre. E eu dou-vos a minha palavra que nenhum médico quer ser esse médico.
Neste momento encontramo-nos em fase de mitigação, o que significa que o vírus já está espalhado na comunidade e os infetados podem contagiar toda a população. Tudo indica que, mais cedo ou mais tarde, todos ou quase todos iremos ser contagiados se não tomarmos medidas. Então porque vos pedem para ficarem em casa?
Este vírus propaga-se de uma forma muito rápida. Se a contaminação for num pequeno número de pessoas, os profissionais de saúde conseguem atuar, permitindo assim uma redução do número de mortes. Se não houver pessoas a transmitir o vírus ele acaba por se extinguir no nosso meio. Não nos podemos esquecer que podemos ser contagiados hoje e nunca ter sintomas ou só os ter ao fim de 14 dias, por isso, podemos andar a transmiti-lo a familiares, amigos e conhecidos.
Por estes motivos, acho que a opção FICA EM CASA é a mais correta, no entanto, é nesta fase que surgem as dúvidas: Porque devo lavar tantas vezes as mãos ao ponto de me doerem? Como fazer quando vou às compras? Como fazer se tenho que trabalhar e posso contagiar quem amo?
É importante lavar as mãos sempre. Não utilizes as mãos por lavar para tocar na cara, pois a porta de entrada do vírus são os olhos, o nariz e a boca. Se usas óculos deves lavá-los sempre que sais à rua, eles podem proteger-te, mas também podem ser um objeto de contágio se não forem limpos. Isso significa que usar lentes de contacto o menos possível também é uma excelente opção. Outra coisa, o vírus adora unhas compridas e verniz. Se tens que ir às compras, vai e regressa a casa o mais rápido possível, não pares para conversar com a amiga que não vias há mais de um mês.

Regras nas Compras:

1. Faz uma lista de compras com o que necessitas (pensa nos outros e para quanto tempo precisa. Não açambarques tudo o que há no supermercado, os produtos não vão acabar).
2. Mantém distância entre 2 a 3 metros dos outros e tenta não parar para falar.
3. Coloca tudo no saco de compras e após pagar desinfeta as mãos.
4. Desinfeta a pega dos sacos antes de colocares no carro e desinfeta as mãos.
5. Quando chegares a casa deixa na entrada os sapatos e os objetos pessoais que possam estar contaminados, lava as mãos e limpa a maçaneta da porta.
6. Calça umas luvas de limpeza e coloca as compras na banca.
7. Limpa todas as embalagens e coloca-as a secar na banca limpa.
8. Lava os sacos das compras, a banca e as luvas.
9. Toma duche completo.

 

Outra coisa a ter em conta, pela primeira vez não ir visitar os avós ou pais que têm doenças crónicas é um ato de amor, podem sempre ligar-lhes para matar saudades. Se tens que trabalhar protege-te e, em casa, lembra-te que podes ser um risco para a tua família. A estes indivíduos surge a etapa mais difícil, porque devem fazer isolamento dentro da
sua própria casa e da sua própria família.

Regras no Trabalho:

1. Os trabalhadores devem ser divididos por equipas.
2. Mantém a distância de segurança de 2 a 3 metros.
3. Nas copas devem apenas encontrar-se 2 a 3 trabalhadores conforme o tamanho das mesmas, mantendo a distância segurança e nunca fiquem frente a frente com menos de 2 metros.
4. A farda usada no trabalho não deve ser a mesma com que sais para a rua.
5. Quando chegas a casa deves ter uma zona suja e uma zona limpa. Na zona suja ficam os sapatos, roupa para lavar e objetos que podem estar contaminados (como carteiras); arranja uma caixinha para os mesmos (podes limpá-los se possível).
6. Limpa a maçaneta da porta.
7. Não toques em nada na zona limpa até desinfetar as mãos.
8. Deves seguir para o duche e tomar banho completo.
9. Se não vives sozinho deves isolar-te o mais possível da família.

Não fiquem desiludidos por estarem em quarentena e os números continuarem a aumentar. É normal, representam pessoas infetadas no máximo há 14 dias atrás. Os números seriam bem mais altos se não estivessem em casa. Quem andou a passear e se possa sentir revoltado e com medo de ter infetado os seus, pensem que podem mudar começando a ficar em casa já hoje.
Quando perceberem que ficar afastados é a melhor forma de nos mantermos unidos aí conseguimos vencer isto, pois, como costumo dizer: ninguém vence uma guerra apenas com a linha da frente, precisamos de vós na retaguarda, ficando em casa. Ao perceberem isso a expressão que li algures e que se tornou o meu lema pode-se tornar a vossa arma de força:
“Quanto mais cedo nos afastarmos, mais depressa nos abraçaremos!”

Carolina Manco