OPINIÃO QUE CONTA: “Fazer dinheiro a partir do lixo” – Joana Lima / CianMira

Usamos um determinado produto, colocamos a embalagem para o lixo. Este é um gesto comum no nosso dia-a-dia e que os engenheiros ambientais e empresários tentam mudar, usando a sua imaginação para limpar o ambiente.

Quando se fala em resolver os problemas ambientais, vem-nos logo à cabeça limpar o lixo que o Homem fez. Mas os cientistas estão interessados em criar algo valioso a partir da poluição. Como os investigadores dizem “O lixo para uma pessoa é o tesouro para outra” e estes já mostraram que existem várias formas de transformar os resíduos em produtos úteis, à medida que se limpa um solo, ar ou água contaminados.

Um dos problemas mais urgentes na agenda dos cientistas é a emissão de dióxido de carbono que causa as tão temidas alterações climáticas. Os investigadores estão a desenvolver processos que possam captar o gás e convertê-lo em químicos úteis como o metanol – que pode ser usado para células de combustível – ou ureia, que é usada como solvente na indústria química, em fertilizantes com nitrogénio e no ácido láctico, que pode ser utilizado como conservante alimentar. Outras formas de usar o dióxido de carbono passam por transformá-lo em gás para cerveja ou refrigerantes a partir da biodigestão da palha retirada do estábulo dos cavalos; em tijolos para construção, ao misturá-lo com cinzas e água a altas temperaturas e mesmo usado para ajudar a crescer algas, que são colhidas para biocombustível.

As águas residuais que, por exemplo, saem das nossas casas, contêm toxinas e poluentes orgânicos que as ETAR’s removem antes de chegarem aos sistemas de água natural como rios e oceanos. Contudo, os cientistas pretendem recuperar e transformar esta matéria orgânica em algo útil. O fósforo e o nitrogénio são nutrientes essenciais do solo encontrados nas águas residuais e que podem ser devolvidos aos campos agrícolas como fertilizantes. Por outro lado, os investigadores “ensinaram” os microrganismos a degradar estes contaminantes orgânicos tóxicos e a gerar electricidade a partir dos mesmos. Além de limpar a água, as células de combustível microbianas transformariam as instalações de tratamento de águas residuais em baterias gigantes para energia verde.

A contaminação do solo com metais pesados é um problema difícil de resolver. Geralmente, a única solução é extrair o solo contaminado e descartá-lo num aterro sanitário. No entanto, o problema não fica totalmente resolvido uma vez que os contaminantes podem infiltrar-se no solo, chegando aos aquíferos, à água absorvida pelas plantas e às cadeias alimentares. Um método alternativo envolve a combinação da fitoremediação e da biorefinaria. A biorefinaria é o processamento de biomassa – como resíduos alimentares e restos vegetais da agricultura – para gerar produtos com valor. A fitoremediação limpa a poluição ambiental usando plantas para extrair os metais do solo contaminado. Por exemplo, Pteris vittata é uma planta que consegue acumular arsénio, sendo usada para limpar áreas contaminadas com este elemento, como o solo nas antigas minas da Cornualha e Devon. A fitorremediação pode ajudar a recuperar elementos de terras raras e metais preciosos dos lugares mais poluídos do mundo, como a cidade de Guiyu, na China, que se tornou fortemente contaminada pela eliminação de resíduos elétricos.

Ao colher as plantas com os metais armazenados nas suas células, os metais tóxicos podem ser removidos do meio ambiente. A biomassa vegetal pode então ser processada para recuperar os metais para uso na produção de energia, combustível ou produtos químicos industriais.

As empresas estão também empenhadas em reduzir a sua pegada ecológica e é possível conhecer alguns exemplos através da Chivas Venture Competition.

A Copia é uma empresa americana que quer terminar com o desperdício alimentar, ajudando os negócios a gerir o seu desperdício alimentar e a doar o excesso de comida a quem mais precisa. O contacto entre as entidades é feita através de uma aplicação que emparelha a doação com um pedido feito previamente por uma organização.

No ramo do café, temos a empresa escocesa Revive Eco cujos fundadores viam grãos de café diariamente no lixo e decidiram fazer algo quanto a isso. Agora, a produção anual do Reino Unido de 500.000 toneladas de borra da café está a ser usada para extrair químicos naturais que formam a base de um substituto para o óleo de palma e uma alternativa para as indústrias farmacêuticas e de cosmética.

Em Itália, é a Vegea que está a tentar mudar o mundo. Esta empresa transforma o desperdício da produção de vinho (sementes, casca das uvas e talos) em bio-têxteis, sendo uma alternativa aos têxteis derivados do petróleo, como os sintéticos.

A vencedora da competição de 2019 foi a empresa Xilinat, do México, que está a criar um processo biotecnológico, natural e patenteado para transformar desperdícios da agricultura num substituto do açúcar, melhorando a economia, evitando a queima de desperdício e fornecendo uma alternativa saudável que combate a obesidade e a diabetes.

É gratificante saber que temos investigadores e empreendedores empenhados em melhorar o ambiente, dando o seu contributo ambiental e social ao mesmo tempo que fazem a economia crescer.

Joana Lima, CianMira