OPINIÃO QUE CONTA: “COVID 19 – Cantanhede 20” (Gonçalo Magalhães)

Neste texto, abordo, naturalmente, a pandemia que o mundo atravessa. No entanto, julgo que muito para além de falar sobre o que estamos a viver hoje, interessar-me-ia mais, abordar o que passaremos amanhã, pois, acredito que as nossas vidas pós-pandemia deverão ser diferentes ou, aliás, deveriam tornar-se diferentes.

Falarei um pouco sobre o estado da pandemia no município de Cantanhede, as medidas tomadas pela autarquia e, sobretudo, quais as medidas que considero importantes a serem tomadas daqui para a frente. Pois acredito que, esclarecido o momento em que vivemos hoje, devemos focar-nos em agarrar as oportunidades que nos são aparentes e construir um novo futuro para toda a sociedade.

Começo por manifestar o meu agrado com a agilidade com que o executivo camarário tomou medidas, logo quando se começou a considerar a evolução da pandemia em Portugal.

No dia 18 de Março foi decretado o estado de emergência em Portugal, numa altura em que o Município de Cantanhede já tinha acionado o seu Plano de Contingência, a 3 de Março, a que se seguiu a implementação do Plano de Operações Municipal – COVID 19, em 18 de Março. Ou seja, antes de o Presidente da República ter decretado o estado de emergência, já a Câmara Municipal tinha criado mecanismos para prevenir o contágio da doença e proteger e apoiar toda a comunidade. Uma série de recomendações foi sendo dada aos mais diversos níveis como: educação, ação social e saúde, gestão administrativa e financeira e Proteção Civil. As medidas referidas encontram-se em Despacho camarário nº 23/2020, possível de consultar através de uma pesquisa no site do Município.

Naturalmente que algumas destas medidas mostraram-se muito tímidas, mas entendo que, numa fase inicial, todos nós ainda procurávamos responder a muitas dúvidas e considerações que este novos vírus nos trazia. Podemos considerar, a título de exemplo, a postura que a DGS (Direção Geral de Saúde) teve em considerar o uso ou não das máscaras como forma de proteção. As opiniões eram bem divididas, até passar a ser uma recomendação oficial por parte do Governo.

COVID-19

 

Neste momento, em 308 municípios, Cantanhede está em 68º lugar na lista dos concelhos com mais casos positivos. Estamos neste momento com 43 casos confirmados (DGS a 24 de abril). Um número francamente preocupante e que choca com os municípios limítrofes. Se considerarmos os sete municípios em redor de Cantanhede: Mira (4), Vagos (17), Oliveira do Bairro (17), Anadia (28), Mealhada (14), Montemor-o-Velho (16) e Figueira da Foz (17), temos uma média aritmética de 19.5 casos, o que significa que Cantanhede está 220% acima dos seus vizinhos! Neste valor, estou a excluir Coimbra, que conta com 368 casos positivos.

Não será fácil tirar muitas conclusões realistas destes números, mas não deixam de ser preocupantes. Sabemos que destes 43 casos, 14 estão na Freguesia de Cantanhede e Pocariça e 13 em Ançã. Também sabemos que 83% destes casos estão relacionados com profissionais de saúde e sua cadeia de transmissão, no entanto e apesar de serem números altos, julgo que não devamos colocar o ónus na Câmara Municipal de Cantanhede. Os serviços camarários estão a funcionar, o apoio social está a ser garantido, as IPSS estão a ser francamente protegidas e apoiadas, os funcionários estão a trabalhar por turnos de quinzenas para que, caso haja alguma suspeita de infeção, seja mais fácil isolar o grupo de trabalhadores e assim, evitar a proliferação da doença, as ruas estão a ser desinfetadas, a Inova-EM está no terreno com a higienização necessária dos espaços públicos e a manter os seus cidadãos informados”.

Cantanhede-20

 

Olharemos para esta situação como um ponto de viragem. Julgo ser importante termos esta postura para que, de facto, possamos tirar dividendos das coisas menos boas que nos acontecem e criar oportunidades a nós próprios de mudarmos alguns comportamentos. Uma crise de saúde pública é definida por alguns pesquisadores como um “reset”, uma espécie de divisor de águas capaz de provocar mudanças profundas no comportamento das pessoas.

“Uma crise como esta pode mudar valores.”

 

Acredito que o mundo não será igual, pois o indivíduo apreciará mais a satisfação das suas necessidades básicas, o convívio estrito com aqueles de quem gosta, a segurança do emprego, a preservação da sua saúde, etc.

Claro está que quando, aparentemente, “tudo isto terminar”, a população irá agir por excesso. Irá, euforicamente, recorrer a tudo o que lhe foi tirado neste período. Correr para restaurantes, festas, centros comerciais, enfim… excessos. No entanto, correrá mal. O cenário que vivemos hoje não será passageiro. Mais surtos virão, mais períodos de contenção virão, a palavra pandemia tornar-se-á sazonal. Se o comportamento social for o mesmo, o mundo não mudará. Períodos de contenção e libertação começarão a ser recorrentes das gerações vindouras.

Esta pandemia trouxe a força da responsabilização. Responsabilidade para quem? Certamente que os atores políticos e económicos têm um poder de decisão e ditarão mudanças para o futuro, impactantes na vida de cada um e talvez, não tão más como se possa julgar. Contudo, acredito que a maior responsabilidade vem de cada um de nós: de cada vez que optamos por fazer férias no estrangeiro em detrimento do território nacional, de comprar desenfreadamente sem nos questionarmos sobre a verdadeira necessidade de ter, e se compramos ou não um produto sustentável. Com a responsabilidade, vem a autoconsciência. Os valores com que nos educam hoje, forçados pelo confinamento, são os que desaprendemos com o capitalismo e o consumismo desmesurado. Se não são as pequenas coisas que fazem a diferença, quais serão?

Posto isto, que conclusões podemos retirar daqui para a frente e o que podemos mudar? E como se enquadra todo este discurso em Cantanhede?

Se queremos diminuir aglomerações de pessoas nos grandes centros comerciais, então a autarquia deve promover hábitos de consumo mais regulares no comércio local. Esta intervenção pode ser feita de forma direta (feiras, mercados, mostras de comércio local, etc.) ou indireta (através da melhoria do espaço público, capacidade de deslocação das pessoas, uniformização de montras, etc.)

Se queremos que as pessoas se desloquem localmente, teremos que ter em conta duas medidas: promover uma habitação de qualidade, próxima dos diferentes usos do território, diversificada e ajustada à procura; e apostar num sistema de transportes sustentável, seguro e de qualidade que promova uma responsável utilização dos diferentes modos de transporte.

Como já referi em textos anteriores (deixarei os links para os mesmos no fim deste artigo para que possam ler na íntegra a que me refiro), as decisões do poder político podem e devem incentivar um bom estilo de vida.

Por isso, Câmara Municipal de Cantanhede, apostemos no futuro do nosso território e criemos condições para que o nosso (não tão pequeno) território prospere de forma sustentável num mundo que será de pós-pandemia”.

Gonçalo de Aguiar Magalhães, vereador

 

ARTIGO SOBRE A SUSTENTABILIDADE DA HABITAÇÃO EM CANTANHEDE:

https://miraonline.pt/opiniao-que-conta-falar-sobre-sustentabilidade-em-cantanhede-habitacao-goncalo-magalhaes/

 

ARTIGO SOBRE A SUSTENTABILIDADE DO COMÉRCIO EM CANTANHEDE:

https://miraonline.pt/falar-sobre-sustentabilidade-em-cantanhede-comercio-goncalo-magalhaes/