OPINIÃO QUE CONTA: “As abelhas falam por si” (Joana Lima – CianMira)

Imaginem um mundo onde as abelhas e os humanos consigam comunicar… soa a filme de animação, não é? Mas, na verdade, já estivemos mais longe disso acontecer pois os cientistas têm reunido esforços para entender a linguagem das abelhas.

Em Abril, cientistas publicaram um artigo na revista “Animal Behavior” no qual revelam algumas descobertas sobre como as abelhas “conversam” entre si. Na publicação, os investigadores partilham a descoberta de uma calibração universal que possibilita descodificar as danças das abelhas em diferentes subespécies e paisagens.

Mas o que é a dança das abelhas?  Quando uma abelha operária ou obreira encontra uma nova fonte de néctar, ela dança, fazendo oitos no ar, alertando as outras abelhas das boas notícias. Até existe uma “pista de dança” perto da entrada da colmeia onde ocorrem as danças. Ainda mais interessante é a forma como a dança é feita, que revela pormenores acerca da fonte de néctar: o tempo de duração da dança indica a distância à fonte, por exemplo, e o ângulo do corpo da abelha em relação ao sol indica a direcção da fonte. Mas estas informações, já são conhecidas pelos cientistas há algum tempo: o zoólogo austríaco Karl von Frisch ganhou o Prémio Nobel em 1973, por ser o primeiro a descobrir o significado das danças das abelhas.

Até Abril, o modelo de Karl von Frisch era considerado igual para todas as abelhas. No entanto, os investigadores da Virginia Tech, Margaret Couvillon e Roger Schürch, notaram que as abelhas que comunicam a mesma fonte de néctar, às vezes, variam as suas danças. O casal decidiu, então, desenvolver o seu próprio modelo de “calibração distância-duração” (distância à fonte – duração da dança) que considerava a variação entre as abelhas que visitam a mesma fonte. O estudo durou vários anos, filmando e analisando as danças das abelhas, determinando a calibração distância-duração de cada uma e ainda fazendo o estudo numa população de abelhas (A. mellifera mellifera) em Sussex, no Reino Unido, e numa população de abelhas da subespécie A. mellifera ligustica, na Virginia, Estados Unidos. Descobriram que essa variação entre abelhas era tão alta que torna as diferenças entre a localização e as subespécies de abelha irrelevantes. “Apesar de haver diferenças na forma como comunicam as duas populações, isso não importa do ponto de vista da abelha”, refere Schürch. “Não podemos dividi-las na forma como traduzem esta informação. Ou seja, uma abelha de Inglaterra compreenderia uma abelha da Virginia e encontraria a fonte de alimento da mesma forma e com uma taxa de sucesso semelhante”. Este facto, levou a que os investigadores criassem uma calibração universal para descodificar as danças das abelhas, para que os pesquisadores de todo o mundo pudessem usar e perceber onde é que as abelhas recolhem o seu alimento.

Mas qual é a importância deste trabalho? Para começar, com a calibração universal é possível saber onde as abelhas vão recolher o seu alimento e assim, permite-nos ter práticas de plantio amigas das abelhas. Depois, compreender as danças possibilita a utilização de abelhas para monitorizar o ambiente. “As abelhas podem dizer-nos em alta resolução espacial e temporal onde está disponível o alimento e em que épocas do ano”, disse a investigadora. E continuou “Portanto, se quiseres construir um centro comercial, por exemplo, saberíamos se o habitat de polinizadores primário estaria a ser destruído. E, o local de alimentação das abelhas, é também o local de alimentação de outras espécies. Assim, podemos reunir esforços para a conservação.”

E vale a pena o esforço? Claro que sim. Segundo a Greenpeace, 70 das 100 principais culturas agrícolas são polinizadas por abelhas. Isso significa que as abelhas são responsáveis por cada três dentadas que damos em alimentos. Mas não são só os humanos a beneficiar dos alimentos: todos os animais beneficiam e, portanto, as abelhas são importantíssimas na manutenção de uma cadeia alimentar e de um ecossistema.

Por outro lado, as abelhas são indicadoras de saíde de um ecossistema ou habitat. A presença de uma colónia duradoura de abelhas indica a saúde do ecossistema. As abelhas são dos insectos mais sensíveis e que menos tolerância a alterações climáticas têm. Se vir um jardim cheio de abelhas é bom sinal!

As maiores ameaças às abelhas, neste momento, são os pesticidas, a perda de habitat e as alterações climáticas e, em Portugal, temos ainda a ameaça da vespa-asiática que é predadora das abelhas.

Como pode protegê-las? Evite os pesticidas, prefira produtos biológicos e procure ter no seu jardim diversidade de plantas das quais as abelhas gostam: manjerico, funcho, malva, manjerona, orégãos, alecrim, tomilho, hortelã, margaridas, girassóis, papoilas… Uma outra preocupação a ter é a atenção às vespas asiáticas. Caso detecte um ninho de vespas asiáticas, contacte a linha SOS Ambiente (808 200 520) ou a plataforma SOS Vespa em sosvespa.pt ou dirija-se directamente à Câmara Municipal ou Junta de Freguesia e reporte a situação.

Texto: Joana Lima, CianMira, a quem o Jornal Mira Online agradece a dipsonibilidade