OPINIÃO QUE CONTA: “A Ecologia ao serviço da Justiça” (Joana Lima – CianMira)

Sentados no sofá, vemos um episódio da série “Bones”, no qual o Hodgins resolve um crime por ter encontrado um grão de pólen na roupa de uma vítima. Pensamos: isto é impossível! Realmente, parece ficção mas na realidade não é. Chama-se Ecologia Forense e encontra-se ao serviço da Justiça!

Os factores ambientais podem deixar vestígios microscópicos (ou mesmo evidentes) espalhados numa cena de crime, especialmente em cadáveres. O pólen de plantas locais, misturas específicas de solo de um campo agrícola ou jardim, marcas de mordidelas de animais, ou mesmo larvas a contorcer-se no interior de uma cavidade corporal, para um ecologista forense, são sinais bem evidentes de que estamos perto de saber o que realmente aconteceu. Um pedaço de quartzo numa pedra num sapato, uma mancha de erva num casaco enterrado ou um pedaço de trigo no crânio de uma vítima pode dizer-lhe imenso sobre onde, quando e, às vezes, como é que tudo aconteceu.

A ecologia forense pode ser dividida em várias áreas mais específicas, entre elas, a entomologia, a palinologia e a diatomologia. E o que são estas ciências? A entomologia estuda os insectos e outros artrópodes que surgem num cadáver. Minutos após a morte de um indivíduo, este é coberto por formigas e outros insectos. Quando um corpo é descoberto, a primeira coisa que um entomologista forense faz ao chegar ao local é recolher pistas sobre os insectos, o que lhe permite, por exemplo, determinar o tempo mínimo decorrido após a morte. No caso das moscas estas bebem os fluídos corporais e depositam ovos, gerando larvas que, por sua vez, consomem as partes do corpo à medida que se desenvolvem. Ao determinar a maturidade das moscas ou larvas dentro das cavidades corporais e comparando-a com os padrões meteorológicos locais e populações de moscas, pode ser estabelecida uma cronologia quase até à hora da morte. Mas não é só isto que os insectos lhe “dizem”. Também podem indicar-lhe a mudança de local do cadáver após a morte, a existência de lesões antemortem e detectar drogas presentes nos cadáveres.

A diatomologia estuda as diatomáceas (algas) que se encontram nas águas salgadas e doces. Quando não é possível detectar moscas numa vítima por afogamento, as diatomáceas são as assistentes dos ecologistas.

Já a palinologia estuda os pólens, esporos e outra vegetação microscópica. Dependendo do tempo, estação do ano, localização geológica e muitas outras circunstâncias, o pólen assenta em todo o lado tal como o pó. Pode, por exemplo, ajudar a localizar uma vítima desaparecida, analisando a roupa de um suspeito, e depois, localizando a fonte geológica. Este é o trabalho de Patricia Wiltshire, de 77 anos, que nunca pensou tornar-se uma das maiores especialistas do mundo em ecologia forense. A investigadora trabalhava na Universidade King’s College London, onde se graduou em botânica, quando um dia, em 1994, foi contactada por um polícia que lhe perguntou se o poderia ajudar na investigação de um homicídio. Ele revelou que tinha sido encontrado um corpo carbonizado, abandonado numa vala, e havia marcas de pneus no campo ao lado. Os investigadores queriam saber se um carro que pertencia a um dos suspeitos esteve presente naquele local. Patricia referiu, em entrevista à BBC Radio 4, “Eu nunca tinha feito nada assim antes, mas analisei tudo no carro e encontrei pólen nos pedais e no tapete. O material correspondia ao pólen encontrado nas bordas de campos agrícolas”. E continuou: “Quando um polícia me levou à cena do crime, pude identificar o ponto exacto em que o corpo fora abandonado pelos tipos de flores que estavam ali.” E, desde então, já participou em cerca de 300 investigações policiais pelo mundo.

São várias as formas como a ecologia pode ajudar a resolver crimes e isso não é, de todo, ficção. Usando a minha imaginação, termino este texto, com a imagem de um Hodgins, após dever cumprido e tendo sido feita justiça, a sair das portas do seu laboratório e, orgulhosamente, a dizer “I’m the king of the lab!”.

Joana Lima, CianMira