“O Céu de Janeiro de 2022” (Fernando J. G. Pinheiro)

“A Lua Nova será a primeira efeméride significativa de 2022, tendo lugar ao início da noite de dia dois.

Na noite de dia três para quatro dar-se-á o máximo de atividade da chuva de estrelas Quandrântidas. Estas não são mais do que rochas e poeiras que foram libertadas pelo cometa 2003 EH1 que ardem ao entrar na nossa atmosfera. De notar que este cometa se encontra atualmente extinto, não tendo materiais voláteis suficientes como para formar uma cauda.

Durante as poucas horas que dura o pico de atividade desta chuva de meteoros seriam de esperar pouco mais de uma centena de meteoros por hora. Infelizmente, diversos fatores como condições climatéricas adversas e a poluição luminosa acabam por reduzir dramaticamente o número de objetos que se consegue a observar.

Ao final desta mesma madrugada (mais concretamente pelas 7 horas) a Terra atinge o ponto da sua orbita mais próximo ao Sol: o periélio. Esta maior proximidade ao Sol não é suficiente para compensar a menor quantidade de radiação solar que chega ao hemisfério norte terrestre devido ao facto de, por estes dias, o polo norte terrestre estar voltado na direção contrária à do Sol.

Ao início da noite seguinte Lua será vista junto aos planetas Mercúrio e Saturno. Ao final de dia cinco o nosso satélite natural será visto a aproximar-se de Júpiter, planeta junto ao qual irá passar durante o dia seis.

No dia sete Mercúrio atinge a sua maior elongação (afastamento relativamente ao Sol) para leste. Este planeta será visível ao anoitecer até cerca de dia vinte. Só voltando a aparecer uma semana depois, mas já ao amanhecer.

Do mesmo modo, Vénus será visível ao anoitecer até dia cinco, só voltando a ser observável a partir do amanhecer de dia onze.

O Quarto Crescente irá ocorrer ao início da noite de dia nove, sendo, portanto, uma excelente ocasião para se observar a Lua ao anoitecer. Por sua vez, a Lua Cheia chegará durante o dia dezassete e o Quarto minguante já no dia vinte e cinco.

No dia vinte e dois comemora-se o trigésimo aniversário da descoberta de PSR B1257+12 B, um exoplaneta que orbita o pulsar PSR B1257+12. Esta descoberta antecedeu a descoberta do exoplaneta 51 Pegasi b que valeu aos astrónomos Michel Mayor e Didier Queloz o Prémio Nobel da Física em 2019.

Finalmente, no dia vinte e nove ocorrerá a conjugação entre a Lua e Marte, e dois dias depois ter-se-á aproximado de Mercúrio como já o havia feito ao início do mês. Mas enquanto da primeira vez isso ocorreu na constelação do Capricórnio, desta vez será junto à constelação do Sagitário.

Boas observações!”

Fernando J. G. Pinheiro é investigador do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e do CITEUC – Centro de Investigação da Terra e do Espaço da Universidade de Coimbra.

Os seus domínios de especialização incluem a Astrofísica, Geomagnetismo e Meteorologia Espacial. Para além do seu trabalho de investigador, já exerceu funções nos órgãos sociais da Sociedade Portuguesa, e coordenou o grupo Solar System Science do CITEUC.

Para além disto, Fernando Pinheiro é colaborador regular em atividades de divulgação científica.