Nobel da Literatura vai para a polaca Olga Tokarczuk e o austríaco Peter Handke

A escritora polaca Olga Tokarczuk e o austríaco Peter Handke foram distinguidos com o Prémio Nobel da Literatura de 2018 e 2019, respetivamente, anunciou hoje a Academia Sueca.

Os prémios Nobel da Literatura de 2018 e 2019 foram anunciados hoje em Estocolmo pela Academia Sueca, depois de um interregno de um ano, devido a um escândalo de abuso sexual e crimes financeiros que abalou a organização.

A Academia Sueca atribuiu o Nobel da Literatura de 2018 a Olga Tokarczuk, de 57 anos, “por uma imaginação narrativa que, com paixão enciclopédica, representa o cruzamento de fronteiras como uma forma de vida”.

A escritora, para a Academia Sueca, “nunca vê a realidade como algo estável ou permanente” e “constrói os seus romances numa tensão entre opostos culturais; natureza ‘versus’ cultura, razão ‘versus’ loucura, masculino ‘versus’ feminino, casa ‘versus’ alienação”.

A “grande obra” da laureada até ao momento é, para a academia, o “impressionante romance histórico ‘Ksiegi Jakubowe’ [Os Livros de Jacob’ em tradução livre]”, publicado em 2014 e sem edição em português. Olga Tokarczuk mostra neste trabalho “a suprema capacidade do romance de representar um caso quase além da compreensão humana”.

O Nobel da Literatura de 2019 foi atribuído a Peter Handke, de 76 anos, “por um trabalho influente que, com engenho linguístico, explorou a periferia e a especificidade da experiência humana”.

Para a Academia Sueca, a “arte peculiar” de Peter Handke é “a extraordinária atenção às paisagens e a presença material do mundo, que fez do cinema e da pintura duas das suas maiores fontes de inspiração”.

Peter Handke, “tendo produzido um grande número de obras em vários géneros, estabeleceu-se como um dos mais influentes escritores na Europa, após a Segunda Guerra Mundial”.

“A Mulher Canhota”, “A Angústia do Guarda Redes antes do Penalti” são alguns dos livros de Peter Handke editados em Portugal. “Os Belos Dias de Aranjuez – Um diálogo de Verão” foi publicado em 2014 pela Documenta.

Contudo, a distinção feita a Handke promete reacender uma polémica antiga, e não apenas porque o escritor disse à imprensa austríaca em 2014 que os Prémios Nobel deviam ser abolidos porque fazem uma “falsa canonização” do vencedor e não trazem nada ao leitor”.

No mundo editorial, muitos foram os que pensaram que este prémio lhe escaparia para sempre, apesar de um trabalho de renome mundial, devido ao seu engajamento pró-sérvio durante a guerra na ex-Jugoslávia.

De origem eslovena por parte materna, o escritor nascido em 6 de dezembro de 1942 em Caríntia (sul da Áustria), é um dos poucos intelectuais ocidentais pró-sérvios, sendo que no outono de 1995, alguns meses após o massacre de Srebrenica, viajou para a Sérvia e relatou as suas impressões em um livro polémico, “Eine winterliche Reise zu den Flüssen Donau, Save, Morawa und Drina oder Gerechtigkeit für Serbien” (“Uma viagem de inverno aos rios Danúbio, Save, Morava e Drina”, em tradução livre).

Em 1999, recebeu um importante prémio literário alemão, o Büchner, e deixou a Igreja Católica para protestar contra os ataques da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Belgrado, evocando um “novo Auschwitz”. Sete anos depois, causou alvoroço ao participar do funeral do ex-presidente jugoslavo Slobodan Milosevic, acusado de crimes contra a humanidade e genocídio das populações muçulmanas durante a guerra civil.

Como tal,  Handke foi forçado a desistir de receber prémio Heinrich Heine, que lhe seria concedido pela cidade de Düsseldorf, e a companhia de teatro parisiense Comédie-Française recusou-se a levar a cena uma das suas peças. Intelectuais, incluindo a sua compatriota Elfriede Jelinek, Nobel da Literatura em 2004, saíram em sua defesa, mas muitos outros, de Susan Sontag a Salman Rushdie, criticaram-no.

Segundo o secretário da Academia Sueca, Anders Olsson, a lista de finalistas do Nobel da Literatura de 2018 e 2019 era composta por oito nomes.

Os laureados recebem, cada um, um prémio monetário de nove milhões de coroas suecas (cerca de 830 mil euros), uma medalha de ouro e um diploma, que serão entregues numa cerimónia em Estocolmo, a 10 de dezembro.

Um total de 116 escritores – dos quais 15 mulheres – já foram distinguidos com o Prémio Nobel da Literatura, atribuído desde 1901.

Apenas um autor de língua portuguesa foi premiado: o português José Saramago, em 1998.

Lusa / Madremedia