O ensaísta Eduardo Lourenço, Prémio Camões e Prémio Pessoa, morreu hoje, aos 97 anos, deixando uma vasta obra de “grande originalidade”, e a imagem do homem que permitia “a única reflexão inteligente sobre a política nacional”.
Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, sempre solicitado, mas que considerava não justificado o interesse das pessoas por ele: “Porque estou saindo. Eu nunca ocupei palco”, explicou, numa entrevista ao jornal Público, em 2017.
Hoje saiu de cena, mas deixa a marca da “grande originalidade” do seu pensamento – de acordo com a página a si dedicada, do Centro Nacional de Cultura –, e a imagem do ensaísta que permitia “a única reflexão inteligente sobre a política nacional”, como o definiu o poeta Herberto Helder, numa carta de 1978.
Outras definições o caracterizam, como a do ensaísta Eduardo Prado Coelho, que o considerava alguém para quem “a aventura do conhecimento e a aventura da vida se confundem permanentemente”, ou a de Fernando Namora, que, em 1986, escreveu que Eduardo Lourenço era “um dos espíritos mais sagazes, de uma fulgurância estonteadora, que o ensaísmo português alguma vez produziu”.
Apaixonado pela literatura, referia-se aos livros como “filhos” e dizia que “estar-se sem livros é já ter morrido”.
Mas foi sobretudo sobre a poesia, mais do que a prosa, que incidiram os seus ensaios, de Luís de Camões a Miguel Torga, passando por Fernando Pessoa.
Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, na Beira Alta, mas só foi registado no dia 29 desse mês.
Esteve “seis dias sem tempo” e assim ficou sempre, “fora do tempo”, afirmou numa entrevista à revista Prelo.
Lusa / Madremedia