Lisboa: Assembleia Municipal discute o fim das touradas na cidade com a reconversão do Campo Pequeno

A Assembleia Municipal de Lisboa vai esta terça-feira discutir o futuro da praça de touros do Campo Pequeno, no centro da cidade. O debate foi pedido pelos deputados municipais do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), que querem ver esclarecidas as posições da Câmara (dona do terreno), da Casa Pia (dona do edifício) e do BCP (dono da entidade que explora a praça).

“É um debate incontornável aos dias de hoje”, diz a deputada municipal do PAN Inês de Sousa Real. A assembleia municipal de Lisboa vai olhar para o futuro da praça de touros do Campo Pequeno, num debate promovido pelo PAN, que apela ao fim das touradas na cidade.

Inês de Sousa Real explica ao SAPO24 que nesta fase o partido quer ouvir “os diferentes grupos municipais, mas também o senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa” sobre o futuro da emblemática praça no centro da capital.

“Tendo em conta que a praça pertence à Casa Pia, através de um direito de cedência de superfície, feito pela Câmara Municipal sob a condição de não o transmitirem a terceiros e de ali realizarem corridas de touros e outras atividades, entendemos que estas duas entidades, sendo públicas e com missões muito específicas, devem promover esforços no sentido de reconverter a atividade que ali é prosseguida”, explica a deputada municipal pelo telefone. “E, obviamente, através de iniciativas que não promovam o sofrimento animal”, sublinha.

Inês de Sousa Real aponta para o facto de a Casa Pia ter por missão proteger crianças e jovens — “não tem por missão realizar touradas, nem corridas de touros”, afirma. “Não faz sentido, à luz da ética atual, ter a chancela destas duas entidades [Câmara e Casa Pia] na atividade que ali é prosseguida”.

A deputada recorda também que o edifício, por pertencer a uma entidade pública, está isento do pagamento do imposto municipal sobre imóveis (IMI) “no valor de nove milhões de euros ano”; cujo beneficiário é a entidade que explora a praça, a Sociedade de Renovação Urbana do Campo Pequeno. Esta isenção, explica a deputada, é vista pelo grupo municipal do PAN como uma “injustiça face a outros operadores económicos que trabalham quer na cidade, quer noutros municípios”.

Para além disso, lembra Inês de Sousa Real, importa também debater o facto de a sociedade que explora a praça estar em processo de liquidação, após insolvência. A entidade, detida pelo BCP, deve vários milhões de euros — e cerca de 400 mil euros ao Estado.

“Há neste processo questões opacas que têm de ser esclarecidas”, diz a deputada municipal. Questões como a “prossecução da exploração do espaço através de uma entidade que está em processo de dissolução e liquidação”, ou o facto de o banco, sendo o titular das quotas da sociedade, diz a deputada, “não promove a realização de outro tipo de atividades que não passe pelo sofrimento animal”.

“Não estamos a dizer que queremos que a praça volte à Câmara Municipal”, afirma Inês de Sousa Real. “Queremos que estas entidades promovam outros espetáculos que não corridas de touros”.

“Tendo uma dívida de 90 milhões de euros, certamente seria muito mais lucrativo prosseguir outras atividades do que as corridas de touros, que é uma atividade em declínio, com a qual os lisboetas não concordam”, diz a deputada municipal, citando uma sondagem da Universidade Católica que mostra que 89% dos lisboetas nunca assistiu a uma tourada no Campo Pequeno desde que a praça foi reinaugurada em 2006.

O mesmo estudo, de maio do ano passado, revela que 75% dos lisboetas é contra a utilização de dinheiros públicos para financiar ou apoiar touradas — e apenas 2% estão contra o uso do espaço para outros eventos que não touradas.

A esperança agora é de que “os valores humanistas se sobreponham aos valores económicos ao interesse da atividade tauromáquica e que Fernando Medina nos acompanhe, acompanhe o repto do PAN, no sentido de se comprometer a que Lisboa venha a tornar-se numa cidade livre de touradas.”

“Temos noção da esfera de influência que Lisboa tem sobre o restante país”, afirma Inês, o que a leva a acreditar no peso que o fim da tourada na capital pode ter na mesma luta no resto do território. “Acreditamos que nalgumas regiões do país em que possa estar mais enraizada a cultura tauromáquica possa ser um processo mais difícil, mais lento, mais moroso; mas não nos podemos esquecer de que por algum lado temos de começar a dar este exemplo. Viana do Castelo já se assumiu livre de touradas, Póvoa de Varzim também.”

“Não faz qualquer sentido que Lisboa, que é uma cidade que se tem declarado amiga dos animais, que deu passos importantes, como ao criar a figura do provedor dos animais, que não existiam em mais lado nenhum do país; proibindo o abate de animais de companhia já em 2013, quando ainda não era uma obrigação ao nível de todo o país — acreditamos que também Lisboa tem de dar este passo em relação a outras atividades”, prossegue a deputada, lembrando ainda a proibição de circos com animais em espaços públicos.

“Queremos que efetivamente acabem as touradas em pleno coração de Lisboa.”

O debate começa às 15:30 desta terça-feira, na Assembleia Municipal de Lisboa, na Avenida de Roma.

Lusa