Greve dos motoristas: Governo avança com requisição civil

O Governo decretou hoje a requisição civil dos motoristas em greve, alegando incumprimento dos serviços mínimos, anunciou Tiago Antunes, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, após reunião do executivo por via eletrónica.

De acordo com Tiago Antunes, o Governo constatou hoje, particularmente no turno da tarde, que os sindicatos que convocaram a greve dos motoristas de mercadorias e de matérias perigosas “não asseguraram os serviços mínimos” fixados pelo executivo.

“O Governo não teve alternativa senão a de reconhecer a necessidade de proceder à requisição civil dos motoristas em situação de greve com vista a assegurar o cumprimento dos serviços mínimos”, declarou, acrescentando que a medida será “gradual” e aplicada às áreas “em que se constata o incumprimento”.

A resolução do Conselho de Ministros que procede à requisição civil dos motoristas em situação de greve “será complementada por duas portarias”, explicou o governante.

“Uma delas irá efetivar em concreto a requisição civil apenas na áreas e serviços nos quais até ao momento se identificou o incumprimento de serviços mínimos, em particular o abastecimento da zona sul do país a partir de Sines, o abastecimento da REPA, o abastecimento dos aeroportos e o abastecimento das unidades autónomas de gás natural”, detalhou.

A outra portaria, segundo Tiago Antunes, “irá estabelecer os termos em que se efetiva a intervenção das Forças Armadas no âmbito desta requisição civil”.

“Muito em breve será publicado em Diário da República, em conjunto, a resolução do Conselho de Ministros que acaba de ser aprovada por via eletrónica e as duas portarias em questão e portanto todos estes instrumentos têm efeitos jurídicos automáticos”, garantiu.

Segundo o secretário de Estado têm-se “observado um comportamento diversificado por zonas do país, por tipos de serviços e até em função dos sindicatos que estão em causa”.

“Temos sindicatos que afirmaram que os seus associados cumpririam os serviços mínimos e não temos indicações em contrário. Pelo contrário, temos sindicatos que, a meio da manhã, fizeram apelos ao incumprimento dos serviços mínimos”, apontou.

Tiago Antunes deixou claro que a requisição civil é um “instrumento excecional, que apenas deve ser mobilizado em termos de necessidade e proporcionalidade”, ou seja, “só é mobilizado quando se constata a sua necessidade” e por isso mesmo, hoje de manhã, e perante o cumprimento de serviços mínimos, esta medida não foi decretada.

“Um eventual incumprimento de uma requisição civil seria um crime de desobediência e portanto é nesse quadro que passamos a estar a partir de agora”, respondeu aos jornalistas.

O secretário de Estado aproveitou ainda para apelar “a todos os envolvidos neste conflito”, um conflito ao qual “o Governo é alheio”.

“O único interesse do Governo aqui é assegurar a normalidade, a tranquilidade e o funcionamento destes setores vitais da economia e a prestação de serviços essenciais de interesse público”, assegurou.

Sublinhando que o executivo não teve alternativa senão “fazer uso da requisição civil”, Tiago Antunes espera que não seja necessário ainda novas portarias para alargar ou estender este mecanismo.

“Os serviços mínimos que foram determinados pelo Governo a semana passada tiveram em consideração a duração por um período indeterminado da greve que está em curso, bem como o período do ano em que a mesma se efetiva e ainda o seu impacto transversal em setores de atividade vitais da economia”, disse.

Segundo o secretário de Estado, a fixação dos serviços mínimos cingiu-se “ao essencial para evitar danos irreparáveis, irreversíveis ou de difícil reparação para os cidadãos, a segurança nacional e a economia nacional, bem como a prestação de serviços públicos essenciais”, disse, defendendo que “a perturbação do funcionamento destes serviços mínimos é especialmente gravosa”.

Os motoristas cumprem hoje o primeiro dia de uma greve marcada por tempo indeterminado e com o objetivo de reivindicar junto da associação patronal Antram o cumprimento do acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.

A greve foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), tendo-se também associado à paralisação o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN).

Ao início da tarde, António Costa tinha anunciado que estava a ser avaliada a necessidade de avançar com a requisição civil, tendo em conta que o cumprimento dos serviços mínimos tinha mudado “da manhã para a tarde”.

“Hoje de manhã era manifestamente desnecessário a requisição civil” mas, segundo António Costa, o incumprimento dos serviços mínimos intensificou-se desde as 14h30.

“Perante essa situação nós já ordenámos e já se iniciaram transportes através da utilização de motoristas da GNR e da PSP, nos termos já anteriormente definidos e no âmbito do estado de alerta energético”, explicou.

O primeiro-ministro explicou que é na região do Algarve que se verifica a situação mais complicada.

Ao início da tarde, António Costa tinha explicado que “a requisição civil tem dois momentos”, o primeiro dos quais quando “o Governo reconhece ou não a existência de uma situação de facto que determina a existência de requisição civil”.

“A partir desse momento, o Governo fica habilitado para, por portaria, ir definindo quem, que serviço, onde é que se justifica haver a requisição civil”, acrescentou.

As situações com as quais o país se depara nesta greve são, segundo o chefe do Executivo, “muito diferentes do norte para o sul, de empresa para empresa e relativamente aos diferentes tipos de serviço”.

“Tratando-se de um conflito entre privados, a atuação do Estado deve-se fixar no mínimo necessário para a satisfação das necessidades fundamentais dos portugueses”, insistiu.

A greve dos motoristas de matérias perigosas e de mercadorias começou esta segunda-feira, dia 12, e decorrerá por tempo indeterminado, estando o Governo pronto para aprovar a requisição civil se não forem cumpridos os serviços mínimos decretados.

O Governo decretou serviços mínimos entre 50% e 100%, racionou os abastecimentos de combustíveis e declarou crise energética até às 23:59 de 21 de agosto, que implica “medidas excecionais” para minimizar os efeitos da paralisação e garantir o abastecimento de serviços essenciais como forças de segurança e emergência médica.

Lusa