Fatima joga com hijab e não a deixaram ficar em campo. No próximo domingo, se ela não jogar, ninguém joga, garante treinador

Nasceu em 2005, está quase a fazer 14 anos e joga basquetebol no Clube de Basquetebol de Tavira. Fátima Habib tornou-se notícia porque foi impedida de entrar em campo num jogo contra o Imortal Basket Clube. O motivo: estar a usar uma camisola de manga comprida por baixo do equipamento oficial do clube que não era de compressão e um hijab que tapava o número da camisola. Federação diz que já tinha avisado, num jogo anterior, para que fossem cumpridas as normas de vestuário. Treinador diz que se voltar a acontecer a equipa não joga.

No passado domingo, 10 de novembro, Fátima Habib, de 14 anos, jogadora no Clube de Basquetebol de Tavira, foi impedida de entrar em campo num jogo contra o Imortal Basket Clube por estar a usar uma camisola de manga comprida sem ser de compressão por baixo do equipamento oficial do clube e um hijab que tapava o número da camisola.

Ao SAPO24, André Pacheco, treinador da equipa de sub-14 femininos do Clube de Basquetebol de Tavira, referiu que tem sido hábito Fatima jogar assim. “A Fátima joga com hijab e com roupa que tapa braços e pernas. E não põe em perigo ninguém, o máximo que faz é calor à moça. Por uma questão de bom senso, devido a ser muçulmana, tem sido sempre assim”.

Sobre o jogo, o treinador referiu que a jogadora “fez o aquecimento normal” e que já tinha havido uma conversa com o árbitro e com a mesa, sem que nada tivesse sido dito. Depois, “já estavam as moças sentadas e prontas para o início do jogo” quando foi chamado para lhe comunicarem que Fatima não poderia jogar.

Fatima sugeriu a possibilidade de arregaçar as mangas mas a proposta não foi aceite. “Ela reagiu muito mal. Ainda achei que iam repensar, uma vez que a Fatima não ia jogar de início, era só depois do primeiro intervalo, mas não. Foi para o balneário, abatida, e ainda tive de mandar lá ir a capitã para a apoiar”, conta André Pacheco. “Ela dizia que ia desistir, foi preciso reconfortá-la bastante para repensar a decisão e ela é uma boa jogadora”.

Segundo André Pacheco, o problema aqui foi uma questão de “excesso de zelo”. “A Fatima estava a usar de facto mangas compridas, mas muito justas — como sempre — e não mangas de compressão”, como prevê o regulamento. “O árbitro, soube eu mais tarde, estava a ser observado. Não houve maldade da parte de ninguém, não foi fácil para ele tomar esta decisão, muito menos com o resultado que teve, que foi ver uma miúda de 13 anos de rastos”, afirma.

Sobre o jogo do domingo passado, o treinador diz-se arrependido por não ter agido de forma diferente. “Olho para trás e penso que devia ter dito na hora que ninguém jogava. Mas no próximo jogo, com o Acd Ferragudo, já no próximo domingo, não vamos jogar se acontecer o mesmo. Se a Fatima não puder jogar, nós não jogamos”, garantiu.

O que diz o regulamento

Segundo as regras da Federação Internacional de Basquetebol [FIBA], “se as camisolas tiverem mangas, estas devem terminar acima do cotovelo”, pelo que “camisolas de manga comprida não são permitidas”. Contudo, o mesmo regulamento determina que podem ser utilizadas “mangas de compressão para os braços, desde que pretas, brancas ou da cor dominante da camisola da equipa”, acontecendo o mesmo quanto a “meias de compressão para as pernas”.

Quanto à cobertura da cabeça, o regulamento diz que podem ser utilizadas “fitas para a cabeça”, mas que estas não podem “tapar qualquer parte da cara (olhos, nariz, lábios, etc.)”, não podendo ser perigosas nem para o jogador que as usam, nem para os restantes.  É acrescentado ainda que estas fitas não podem “conter fechos à volta da face e/ou pescoço”. Os números das camisolas “devem ser claramente visíveis”.

A reação da Federação

Em comunicado, a Federação Portuguesa de Basquetebol [FPB] “recusa frontalmente na sua regulamentação, na sua organização e na sua cultura qualquer tipo de discriminação, seja ela de género, de etnia ou de religião”. Por isso, está prevista “a possibilidade de os jogadores poderem utilizar equipamento de acordo com as suas convicções religiosas, desde que o mesmo garanta a liberdade de movimentos e assegure a segurança dos intervenientes no jogo”.

Em causa esteve não apenas a ausência de mangas de compressão com o facto de o hijab tapar o número na camisola.

É também referido, no mesmo esclarecimento, que “no jogo anterior ao do último sábado [2 de novembro], o treinador da equipa de Clube de Basquetebol de Tavira foi devidamente informado pela equipa de arbitragem responsável que o equipamento da jogadora teria que estar de acordo com as regras definidas pela FIBA e respeitadas pela FPB, para a mesma poder continuar a participar em competições”, sendo que a situação “não foi corrigida no jogo do último domingo” [10 de novembro].

Com isto, a FPB “refuta a afirmação veiculada de que a jogadora foi impedida de jogar por se recusar a mostrar os braços, tendo inclusive, na pessoa do presidente da Direção, contactado diretamente a família da jogadora, para melhor esclarecer sobre toda a situação e critérios definidos pela FIBA sobre o equipamento de jogo”.

Alexandra Antunes / Madre Media