“Falar sobre…” Ciclovias em Cantanhede – Gonçalo Magalhães

O assunto que se aborda hoje, introduzido na rubrica passada será do conjunto de ciclovias, cuja execução de aproxima. Para clarificar ao leitor, falo acerca da EuroVelo e da ciclovia urbana de Cantanhede. A Eurovelo, recentemente apresentada, faz parte de uma ciclovia turística que passará pelas diversas zonas costeiras da zona Centro Norte do país. Este troço adjudicado para Cantanhede terá uma extensão de, sensivelmente, 8 km. A ciclovia irá unir o Município da Figueira da Foz ao de Mira pela Tocha, cruzando com a atual existente no acesso à Praia da Tocha. Quanto à ciclovia urbana, será um ciclovia com o intuito final de desmotivar a utilização do automóvel dentro da cidade criando condições para que o munícipe possa se deslocar de forma sustentável e saudável. A empreitada desta ciclovia terá um custo de, aproximadamente, 400.000 €.

Algumas considerações pessoais:

Relativamente à Eurovelo, trata-se de um projeto agregador, de boa coesão territorial, potencia o turismo e promove um estilo de vida saudável. Poderá fazer sentido pensar em criar algumas atividades, infraestruturas ou equipamentos que possam usufruir da proximidade de uma ciclovia turística e assim, fomentar algum proveito económico, cultural e de recreio. Poderá ser vista como uma oportunidade turística para o Município.

Quanto à ciclovia urbana, vale a pena expor aqui alguns conceitos que ajudam a definir a utilização dos modos ativos de transporte (modos que não dependem de veículos motorizados, nomeadamente a bicicleta e a pé).

Um sujeito que se desloque a pé, acaba por percorrer a menor distância possível para chegar ao seu destino, no menor tempo possível. O peão é independente de vias de circulação e, portanto, essa liberdade permite-lhe fazer a escolha do seu trajeto da forma mais eficaz para o mesmo. O ciclista, devido à tradição do mesmo em deslocar-se sem vias próprias, acaba por ter um comportamento semelhante ao do peão, logo, quando planeamos para os mesmos, temos de considerar estes comportamentos e arranjar mecanismos para que o ciclista os faça em segurança.

Outro ponto importante quando planeamos uma ciclovia urbana é a noção de origem e destino. Não sendo esta tipologia de ciclovia turística, interessa que a mesma dê resposta aos principais movimentos pendulares (deslocações casa-trabalho, trabalho-casa) quotidianos. Quer isto dizer que as ciclovias têm de dar resposta ao polos geradores e os atractores de tráfego de pessoas a fim de garantir que a bicicleta é a melhor opção para a viagem diária, em detrimento do carro. Naturalmente, as zonas habitacionais serão geradoras de tráfego de peões, assim como, os polos industriais, de comércio e serviços e equipamentos culturais, entre outros, são polos atractores de pessoas. Tendo estes conceitos presentes, será mais fácil projetarmos uma ciclovia urbana, pois prevemos e resolvemos necessidades logo à partida.

Surge aqui a minha crítica quanto ao projeto apresentado da ciclovia urbana, definido como a primeira fase de construção de um conjunto de ciclovias para a cidade. Sendo este o primeiro projeto de ciclovia, acredito que o traçado devesse ser outro, principalmente porque não liga o centro da cidade (Central Business District – CBD), um polo atractor de tráfego, e menospreza as principais zonas habitacionais, fazendo a ligação entre escolas e zonas industriais. Ora, quando eu saio de casa para o trabalho não vou, nem a um parque verde, nem a uma escola, pois pretendo chegar ao meu trabalho o mais rápido possível. Avaliando os estudantes, pois a proposta mostra essa preocupação, uma vez mais, não está cumprido, pois para um estudante, não há qualquer relação entre a zona industrial e o parque de S. Mateus, o intuito será de tirar o estudante de casa de bicicleta e levá-lo diretamente ao estabelecimento de ensino. Julgo, que sendo a primeira fase, não é o ideal para um começo. Seria o mesmo que se o Metro de Lisboa tivesse começado com a ligação entre o Rato e o Alto da Ajuda, quando sem dúvida que não são as ligações prioritárias para a metrópole. No entanto, anseio para que mais investimento de faça neste sentido, para que Cantanhede se possa tornar numa cidade com mobilidade ativa e estilo de vida saudável.