O ex-presidente do Banif, Jorge Tomé, considerou “desastroso” o processo de venda do Banif ao Santander. Diz que soube da resolução “pela comunicação” e que havia mais três propostas, que negociadas, “teriam melhores resultados”.
O ex-presidente do Banif, Jorge Tomé, disse esta quarta-feira, que o “processo de resolução do banco foi desastroso” e deixou perceber que há contornos do negócio que carecem de explicação.
“Foi uma decisão completamente inesperada”, disse Jorge Tomé, durante o programa “Negócios da Semana” da “SIC Notícias”, esta quarta-feira à noite. “Foi aberto um concurso para a venda da posição do Estado no final de novembro, com o apoio e desenho do Banco de Portugal”.
Jorge Tomé disse que houve seis propostas, duas descartadas, e quatro que foram consideradas válidas. “O Banco de Portugal (BdP) chamou a si o dossiê e decidiu. O Banif não teve qualquer acesso ao BdP, nem o BdP contatou com o Banif”, disse o ex-presidente, sustentando que soube da resolução “pela comunicação”.
O ex-presidente do Banif fez uma resenha do processo e revelou alguma surpresa por ter havido seis propostas de venda, numa semana, e quatro válidas, após a notícia da TVI, dia 13 de dezembro, que dava conta do fecho do banco.
“É um episódio que considero altamente lamentável, até criminoso”, disse Jorge Tomé, sustentando que na semana que se seguiu, com a corrida aos balcões, “o banco perdeu mil milhões de euros em depósitos”.
“Isto afetou substancialmente o valor do banco. Não sei se foi intencional, mas é uma notícia subterrânea”, disse Jorge Tomé, lamentando que a informação tenha estado duas horas a passar em rodapé durante um programa desportivo. Diz que foi contatado por um jornalista, que desmentiu a notícia, que considerou “tendenciosa” e que “afetou o valor do banco”.
Jorge Tomé considerou que, se não fosse a notícia da TVI, “as propostas teriam sido muito melhores” e disse que a venda ao Santander é feita num “contexto um bocado estranho” e que aquilo que “foi negociado com o Santander é diferente do que estava na proposta”, disse, escusando-se, também a comentar a ideia de que a decisão de vender ao Santander estava tomada antes de começar o processo de venda. “Há sempre a ideia de que o mercado financeiro português pode ser feito só por bancos estrangeiros”, disse.
Convidado a confirmar ou desmentir a notícia de que havia uma proposta que pagava 200 milhões ao estado e capitalizava o banco em 250 milhões, Jorge Tomé não confirmou nem desmentiu. “Havia mais três propostas que no processo de negociação poderiam ter resultados mais positivos”, disse apenas.
Jorge Tomé disse que “o Santander escolheu os ativos que quis e pagou ao preço que quis” e contestou a forma como o negócio foi feito. “O feito desta solução de passar ativos do Banif para a Naviget vai gerar mais-valias e, obviamente, o Fundo de Resolução [da banca] vai ser valorizado”, disse. “Agora, se houve mais moedas de troca não sei”, acrescentou.
Para o banqueiro, esta solução não defendeu os interesses dos trabalhadores – 600 a 700 poderão perder os empregos – nem os titulares de empréstimos obrigacionistas, que totalizam cerca de 256 milhões de euros. “Vamos ter um caso Lesados do Banfi”, argumentou.
O ex-presidente disse, ainda, que “as contas do Banif estavam direitinhas” que eram vigiadas pelo Banco de Portugal. “Havia uma supervisão apertada. O BdP tinha acesso a todo o sistema do Banif”, revelou. Segundo Tomé, o Banif tinha um problema de capital, que poderia ser resolvido com uma recapitalização de 300 milhões de euros, quando a solução aplicada pode vir a custar 10 vezes mais, três mil milhões de euros. O ex-presidente do Banif diz, ainda, que o banco valia quase o triplo do que pagou o Santander. “A partir do momento em que separamos os ativos não bancários e vendemos o banco limpo, considerando os múltiplos do mercado, o valor do Banif seria de cerca de 400 milhões de euros”, argumentou Jorge Tomé.
Fonte JN