Estatísticas oficiais escondiam mais de 100 mil hectares queimados em 2017

Área ardida no último ano ronda mesmo os 570 mil hectares e não 442 mil como tem sido dito. TSF investigou incongruências entre os números divulgados em Portugal e pela Comissão Europeia.

As estatísticas oficiais do Estado sobre incêndios em Portugal divulgadas até hoje ignoravam mais de 100 mil hectares queimados em 2017. A diferença deve-se essencialmente ao facto do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) não divulgar, até agora, a área ardida em zonas agrícolas.

Recorde-se que durante semanas, depois dos fogos de 15 de outubro, a comunicação social (incluindo a TSF) afirmou que tinham ardido durante o último ano 563 mil hectares com base no Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS) da Comissão Europeia que faz a conta usando imagens de satélite.

O número anterior foi, no entanto, drasticamente reduzido quando em novembro o ICNF, fonte oficial em Portugal para fazer essa contagem, avançou com um relatório provisório que apontava para 442 mil hectares.

Fonte do EFFIS explica no entanto à TSF que a diferença se deve sobretudo ao facto de em Portugal o ICNF não contar a área ardida em zonas agrícolas.

Para o sistema europeu (que se baseia em imagens de satélite) a área ardida num incêndio florestal deve incluir todos os tipos de terrenos queimados enquanto em Portugal os números divulgados até hoje não incluíam os espaços agrícolas.

A mesma fonte do EFFIS adianta à TSF que contaram 563 mil hectares queimados em Portugal em 2017, dos quais 456 mil foram em floresta ou matos, ou seja, sublinha, um número “muito próximo” dos 442 mil apresentados pelo ICNF. Para o especialista europeu em fogos a maioria da diferença explica-se pela exclusão da área agrícola pelas autoridades portuguesas.

Outro especialista português em incêndios acrescentou à TSF que o ICNF tem dados sobre a área agrícola queimada, mas não os comunica porque tudo o que está fora do espaço florestal fica fora das suas atribuições institucionais.

Ministério confirma que arderam mesmo 570 mil hectares

Questionado pela TSF, o ICNF e o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural confirmam que até agora, com a publicação da Lei 76/2017 no fim de agosto, só contavam os efeitos dos incêndios em áreas florestais. Neste momento, no entanto, “já contabilizam a área agrícola”.

A mesma resposta adianta que os dados sobre a área ardida em 2017 continuam a ser provisórios, mas os valores estão mesmo “próximos” dos contabilizados pelo centro europeu, ou seja, “rondam os 570 mil hectares, podendo ainda existir uma margem de erro de 10%”.

Até hoje, 5 meses depois dos últimos fogos de outubro, a única informação pública que se conhecia do ICNF apontava para 442 mil hectares queimados em 2017. A diferença para os novos 570 mil equivale ao tamanho de mais de dez cidades de Lisboa.

TSF