Entrevista poética com Alberto Cuddel

Como é hábito, o Jornal Mira Online reproduz, aqui, entrevistas feitas com poetas e poetisas ligadas ao Grupo Poético Poesia da Beira-Ria. Desta feita, o autor escolhido é Alberto Cuddel.

 

 

1 – Perfil do Poeta:

  1. a) Nome: Alberto Cuddel (pseudónimo de António Alberto Teixeira de Sousa)
  2. b) Profissão: Inspetor de Circulação Ferroviária (na recém criada Infraestruturas de Portugal)
  3. c) Residente (localidade) Castanheira do Ribatejo – Vila Franca de Xira

2 – JM. – Como se define em termos de ser humano?

Não é fácil falar em causa própria, ou definir-me, pois esse exercício é auto limitativo, mas como ser humano sou um sonhador, alguém que se indigna com a miséria humana, com a queda acentuada dos valores da sociedade, com a indiferença e a individualidade, alguém que ama intensamente…

3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos ou outros? Mencione dois ou três.

Existem vários autores de referência incontornável tanto na poesia como no romance, dos quais destaco, Bocage, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa e os seus heterónimos e por ultimo Miguel Torga, para nomear apenas alguns.

4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.

Sem duvida alguma um dos heterónimos de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, na sua forma simples de escrever a complexidade das coisas, foi um dos que mais me impulsionou. No meu percurso escolar, tanto o romancista Eça de Queirós, com a sua forma única de descrever o mundo em cenas, como a personagem aparentemente simples de Alberto Caeiro, levaram-me a ler e a escrever o mundo de uma outra forma, de uma forma para além da forma física das coisas, para alem do sentir da paisagem.

5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? ( Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros)

Escrevo por impulso, por um quase vicio, utilizo por isso a poesia quase como uma forma de comunicar, nas redes sociais, sim, Facebook, Google+, Blog, participei em três antologias editadas este ano. Participei já em dois saraus poéticos. E uma das experiencias mais gratificantes aconteceu numa escola com alunos do 9º ano em que participei, declamando poesia minha.

6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.

O nosso mercado é limitado, não é fácil, todos nós poetas, escritores ambicionamos ter um livro nosso nas prateleiras, mas sou realista, não é sequer uma questão de qualidade, mas de cultura do consumo literário do país, ou da falta do consumo na cultura, a edição de um livro é um investimento as vezes demasiado grande para muitos de nós.

7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?

Não sei se algum dia ambiciono a ser um autor consagrado, a verdade do que escrevo assenta na vivência, não estou preocupado com o estilo a métrica as rimas, apenas tento manter sempre uma mensagem em cada poema, para que cada um valha por si, tenha algo de mim a transmitir ao leitor. Grande parte do que escrevo tem a minha cara metade a inspiração, vem do amor, do facto de partilharmos a vida de uma forma diferente, muito nossa, de vermos o mundo de uma outra forma.

8 – JM. – Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.

Uma pergunta interessante, há cerca de 8 meses alguém me pediu para me definir o poema escrito foi este:

Sou,

Na vontade de sair de mim,

Como Homem mascarei-me de poeta,

Como marido mascarei-me de Amante,

Como namorado mascarei-me de amigo,

Como amigo mascarei-me de conhecido,

Como católico mascarei-me de Ateu,

Como humano mascarei-me de invisível,

Sempre tento ser quem não sou,

Sendo, não quero parecer o que sou,

Mas sou o que pareço, sem parecer o que sou!

 

Sou as máscaras que me compõem,

Todas e cada uma num só homem,

Sou homem, poeta, finjo sentir o que sinto,

Sou marido, amante eterno do teu ser,

Do teu corpo, do teu querer do teu prazer,

Sou namorado inconsolado, amigo confidente,

A teu lado, acompanhando, consolando, incondicionalmente,

Amigo que te dá espaço, que te acompanha,

Crente, ciente do saber acreditar,

Ser que está presente sem estar, sem se fazer notar!

 

Sou cada um, sem fingimento, cada imagem no pensamento…

Porque sou, quem pensas que sou…

Porque nós existimos em mim…

Todos em um, eu em todos!

Eu poeta, imagem, papel,

Eu homem, que pensa, sente, que é carne,

Desejo, paixão, que chora, que ama, que implora,

Que devora, que apaixona, que dá, que se entrega,

Eu, nós, palavra e Ação…

 

9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente. Incentivaria uma escola para declamadores?

Existe realmente o medo de ler poesia, eu próprio o tinha, tremia só de pensar em ler em público, tanto mais que por força do nome nas apresentações das antologias tenho sido sempre o primeiro. Em primeiro lugar o medo prende-se com a dificuldade da representação vocal da mensagem do poeta, pois declamar não é apenas ler, é mostrar através da voz uma paisagem, do sentir do poeta. Sobre o facto da falta de adesão aos saraus, é uma questão cultural, o público não está aberto há audição da poesia, não tem o ouvido treinado, muito por culpa da forma que estão dimensionados os nossos currículos escolares. E também culpa dos nossos órgãos de comunicação social, quem não se lembra dos célebres serões poéticos do nosso saudoso Mário Viegas. Quanto a uma escola de declamadores seria uma excelente ideia, sem dúvida que incentivaria e mais, frequentaria.

10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?

A falta de divulgação da poesia é algo transversal à nossa sociedade, somos um país de poetas, mas a poesia não é divulgada, em jornais, televisões, nas rádios, perdeu-se a tradição da poesia escutada. Bem diferente da poesia escrita. Por exemplo nas bibliotecas públicas, nas escolas, nós poetas devemos incentivar o poder local a nos divulgar, mas muitas vezes somos nós próprios que nos sentamos no sofá à espera, não procuramos as formas possíveis de partilharmos o dom que nos foi concedido, contribuindo para o esquecimento coletivo da beleza da poesia.

11 – JM. Verifica-se que hoje em dia existem uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números?

A proliferação de editoras abre uma caça ao autor, muitas delas procuram a sua subsistência, pela publicação de quem possa pagar, não por critérios de qualidade, ou de divulgação. Nunca como hoje foi tão fácil editar o próprio livro, basta que para isso tenha possibilidade financeira, e não qualidade, ou que apresente algo novo, ou diferente.

12 – JM. Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?

Não ainda não tenho qualquer livro editado, apenas participei em três antologias, a ver: “Poetas d´Hoje Vol. II” ; “O Som dos Poetas” da Pastelaria Editora, e “ A Lagoa e a Poesia”

13 – JM. Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma pagina ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?

Sim, pagina no facebook e blog em:

http://facebook.com/escritoassim

E http://escritanoface.blogspot.pt

bem como participação de um blog coletivo no brasil

http://infinitamente-nosso.blogspot.com.br

 

EM BAIXO ESCREVA O QUE ENTENDER SOBRE SI E A ARTE POÉTICA.

Sobre mim, para que mais facilmente entendam o que escrevo e porque escrevo, existem alguns factos que fazem luz sobre algumas mensagens que transmito, sou casado há 20 anos, namorei ainda por correspondência, com muitos poemas trocados em carta, sou católico, tenho um filho com 13 anos.

Para além do tema dominante ser o amor, muito escrevo sobre os problemas sociais e o despertar de consciências como no exemplo abaixo:

Busca constante

 

Busca constante, num horizonte distante,

Procura incerta, espera desconcertante,

Procuras o que não queres encontrar,

Encontras o que não queres procurar,

Corres atrás de tudo o que perdeste,

Parado, desprezas o que encontraste!

 

Segues por caminhos sem destino,

Apenas caminhado ou correndo sem tino,

Não olhando à volta, não vendo o detalhe,

Perdes oportunidades, felicidades,

Momentos, encontros, amores…

Passas pela vida, deixando que a vida passe por ti…

 

Para!

Medita,

Pensa…

Decide…

Muda…

 

Vive procurando agir com firmeza,

Vive procurando a realização do sonho,

E a vida será vivida na certeza,

De um presente e futuro diferente,

Procurado e decidido por ti,

Não por uma outra qualquer gente!…