Entrevista ao poeta José Fernandes da Silva

1 – Perfil do Poeta:

  1. a) Nome: José Fernandes da Silva
  2. b) Profissão: Professor do Quadro de Agrupamento de Educação Musical
  3. c) Residente (localidade) Av. de Beirigo, 49, 4730-170 Freiriz, Vila Verde

2 – JM. – Como se define em termos de ser humano? Humanista, procurando ser um bom samaritano, defensor dos valores e da Liberdade.

3 – JM. – Os autores que mais o marcaram, foram autores poéticos

ou outros? Mencione dois ou três.

Aprecio toda a literatura, dando o mesmo peso à prosa e à poesia, embora publique mais neste segundo género.

Sou um camiliano convicto, mas leio, com prazer, quer os autores portugueses quer os estrangeiros.

4 – JM. – De alguma forma estes autores que referiu, o levaram à escrita da poesia? Refira qual o Autor.

Não propriamente um autor específico.

Na poesia, fui sempre influenciado e apreciador do Realismo.

5 – JM. – A aceitação do que escreve poeticamente é analisada por si em que “meios”? ( Facebook, antologias, livros publicados, saraus poéticos e/ou outros)

Tenho 11 livros de poesia publicados e 5 de prosa. Participo, regularmente, em antologias e tertúlias poéticas.

 

6 – JM. – Defina a razão das apreensões e dificuldades que os autores têm na edição dos seus próprios livros.

A não abertura das Editoras aos principiantes e nomes desconhecidos, bem como o elevado custo das impressões.

 

7 – JM. – O que encontra de verdade no que escreve para considerar que é um Autor a ser consagrado?

Não escrevo para a consagração, mas por gosto de confidenciar aos outros o que me vai na alma.

8 – JM. – Mencione e transcreva o poema da sua autoria com que mais se identifica com o seu sentido de Autor de poesia.

 

BALADA DA LUA

Deslumbrante manto, sobre a Terra, a Lua

estende, infinito, colossal, sem par:

alvo véu de noiva, que no ar flutua,

num baile de encanto, como a onda nua,

de espumadas rendas, a emergir do mar…

 

Ilumina as vilas, a cidade, aldeias,

os vales, campinas, oceanos, fontes,

as eiras, trigais, a imensidão de areias,

como o brilho intenso de frugais candeias,

postas a sorrir nos alcantis dos montes…

 

Pedaços bordados de macios linhos,

em ponto esmerado, que se diz de cruz,

que, nas longas noites, cobrem pobrezinhos,

fatigados já, nas bermas dos caminhos

vão a repousar os corpos quase nus!

 

Quer seja criança, jovem ou velhinho,

não deixa de olhar a maviosa vela:

linda feiticeira – inigualável tela,

para quem a canta com subtil carinho,

para quem a vê e quem não pode vê-la!

 

Eu que já a vi, naqueles tempos de ouro,

e retenho ainda como é que cintila,

hoje, para olhá-la, dava um bom tesouro,

pois se ela falasse, poderia ouvi-la;

se fosse palpável, podia senti-la!

 

Uma confissão, muito sincera, faço:

queria rever a grande maravilha,

ainda que fosse por um curto espaço,

que a tudo pudesse levar meu abraço

e essa imensa luz, que na minh’alma brilha!

 

A Lua, soberba, fica indiferente

ao anseio justo de quem é carente.

Mas, todo o Universo peja de fulgor,

como quem asperge uma eficaz semente

de fraternidade, mansidão e amor!

Dezembro de 1998

in “Arca de filigranas”, 2001

9 – JM. – Mencione duas ou três razões por que há medo de ler poesia e o facto de os saraus poéticos terem pouca gente.

Incentivaria uma escola para declamadores?

Os saraus têm pouca gente, porque as pessoas não leem, nem cultivam a cultura e, portanto, não se sentem motivados para ouvir e, muito menos, para recitar.

Acresce ainda que os meios de Comunicação Social monopolizam o tempo das pessoas.

Sim, incentivaria uma escola para declamadores.

 

10 – JM. – Que falta de apoios existe para a divulgação da poesia?

O não apoio das editoras e até dos autores consagrados.

E a careza e exorbitância das publicações.

11 – JM. Verifica-se que hoje em dia existem uma grande quantidade de editoras. Na sua opinião acha que neste caso o poeta tem mais opção de escolha para a sua divulgação ser um sucesso, ou muitas delas faz dos escritores lucros e números?

O elevado número de editoras não facilita a vida aos autores e, na verdade, têm sempre na mira os lucros chorudos.

12 – JM. Se já editou algum livro refira-nos quais e onde os podemos adquirir?

Poesia – “Cofre de ternuras”, 1992; “Relicário”, 1993; “Celeiro de retalhos”, 1994; “Auréola”, 1995; “Alfobre de amores”, 1997 “Barca de esperança”, 2000; “Arca de filigranas”, 2001;  “Seara rutilante”, 2004; “Jardim de imagens”, 2007 “Canteiro mimoso”, 2009; “Ramalhete de safiras”, 2012;  (esgotados).

Prosa – “Receptáculo”, 2005; “Palco de memórias”, 2011 (esgotados).

“Bornal de narrativas”, 2014 e “Cristais de Natal”, 2014 (Editados e distribuídos pela Editora Calígrafo); “Ares de Sobreposta”, 2015 (Editado e distribuído pela ASC de Sobreposta). ;

13 – JM. Hoje em dia a divulgação online está muito avançada, possui alguma pagina ou site onde podemos ver algum do seu trabalho literário?

Não está atualizada, mas dá uma ideia:

www.josefernandes.net

 

———————————- EM BAIXO ESCREVA O QUE ENTENDER SOBRE SI E A ARTE POÉTICA.

A Arte poética exprime a sensibilidade e os sentimentos de quem consegue colocar no papel as suas vivências. É, sem dúvida, a forma de expansão da linguagem da alma.

José Fernandes da Silva é filho de Sobreposta, concelho de Braga, onde chegou ao mundo em 28 de janeiro de 1948, no lugar do Regueiro, da velhinha Lageosa, com o berço na casa da Bouça, e reside em Freiriz, concelho de Vila Verde, para onde se casou em 1976.

 

É bacharel em Composição, pela Escola de Música Calouste Gulbenkian, de Braga, e licenciado em Orientação Educativa, pela Universidade Católica Portuguesa.

Aos nove anos de idade perdeu a visão, devido à explosão de um fulminante de dinamite, provocada por ele próprio, prosseguindo os seus estudos, por método adequado, no Instituto de S. Manuel, na cidade do Porto, e no Instituto Branco Rodrigues, na Linha do Estoril.

De 1970 a 1982 trabalhou como telefonista-rececionista em duas empresas bracarenses. Em 1983 ingressou no Ensino, sendo, atualmente, Professor do Quadro de Agrupamento de Educação Musical.