Desportivo das Aves desce numa época atribulada dentro e fora das quatro linhas

O Desportivo das Aves confirmou hoje uma despromoção ‘anunciada’ à II Liga de futebol, que culmina uma temporada penalizada por contrariedades desportivas, diretivas e financeiras dentro e fora dos relvados.

A derrota na receção ao Moreirense (1-0), acompanhada pelo triunfo surpreendente do Marítimo (2-0) sobre o campeão nacional Benfica, determinou a descida do emblema do concelho de Santo Tirso à passagem da 29.ª jornada, quando soma apenas 14 pontos, menos 10 que o penúltimo Portimonense e 15 abaixo da zona de salvação.

O Desportivo das Aves partiu para uma inédita terceira participação consecutiva na elite sob orientação de Augusto Inácio, que tinha salvado os nortenhos de uma campanha condenada ao fracasso em 2018/19 e operou uma ‘revolução’ no defeso, traduzida em 17 reforços e alguns jogadores sub-23 para compensar a perda de nove habituais titulares.

Com uma equipa em plena reconstrução, os avenses começaram por ser afastados da fase de grupos da Taça da Liga, com uma derrota caseira frente ao Gil Vicente (3-2), antecipando uma entrada em falso no campeonato, fruto de sete derrotas nas primeiras oito jornadas, que precipitaram a saída de Augusto Inácio, em 21 de outubro de 2019.

Ao afastamento precoce da Taça de Portugal aos pés do Farense (5-2), campeão da II Liga, a SAD liderada pelo chinês Wei Zhao entregou o comando interino a Leandro Pires, que guiou a equipa de sub-23 à conquista da Liga e da Taça Revelação na época passada, aguardando três jogos para consolidar a aposta em Nuno Manta Santos, à 12.ª ronda.

O treinador natural de Santa Maria da Feira foi anunciado em 13 de novembro, dois dias após ter abandonado o Marítimo, a única formação que tinha perdido na Vila das Aves, onde conseguiu amealhar dois triunfos até ao final da primeira volta (1-0 ao Sporting de Braga e 3-0 ao Portimonense), libertando-se por momentos da zona de despromoção.

Os avenses procuraram retificar peças na reabertura de mercado, mas sobrepuseram-se as carências técnicas, táticas e emocionais dos atletas, perante o desentendimento crescente entre os adeptos e a administração controlada pela empresa Galaxy Believers, que controla 90% do futebol profissional e cortou relações com a claque ‘Força Avense’.

No relvado, o balão de oxigénio conferido pela vitória na Madeira (2-1) eclipsou-se com os desaires nas receções ao Boavista (1-0) e ao Rio Ave (4-0), dando o mote para uma segunda volta penosa, em que o Aves conquistou cinco pontos em 36 possíveis e falhou duas vezes o controlo salarial junto da Liga de clubes, em 02 de abril e 09 de junho.

A SAD justificou as dívidas a jogadores e treinadores com a paralisação da atividade económica na China, motivada pela pandemia de covid-19, mas assistiu às rescisões unilaterais do guarda-redes francês Quentin Beunardeau e do avançado brasileiro Welinton Júnior, numa reincidência que pode custar cinco a oito pontos de penalização.

O processo foi remetido para o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol e pode tornar o Desportivo das Aves o primeiro emblema primodivisionário a receber deduções pontuais por salários em atraso, numa altura em que o vencedor da Taça de Portugal em 2017/18 jogará as cinco jornadas finais apenas para cumprir calendário.

Pouco antes de ver confirmada a descida à II Liga, um cenário que ajudou a concretizar no Feirense em 2018/19, Nuno Manta Santos lamentou a ausência de “alguma felicidade em determinados momentos da época”, assegurando ter dado “o máximo” e “aplicado diariamente” para contrariar um desfecho que retira fôlego ao investimento de Wei Zhao.

Lusa