Cruz Vermelha de Mira: “Porto de Abrigo” de muitas famílias…

Janeiro mal iniciara (estávamos no terceiro dia do ano), quando – ao fim da tarde – o repórter chegou e encontrou cerca de 15 pessoas que estavam na fila da Cruz Vermelha de Mira, e onde Ana Maria Soares e Zélia Morais, duas das fundadoras daquela entidade, encontravam-se na azáfama da distribuição de bens.

Cada um dos atendidos saiu com algo, com “uma pequena, mas preciosa ajuda” diz Ana Maria Soares que, em jeito de quase desalento vai dando nota de que “as dez pessoas voluntárias, são de extrema ajuda, mas são precisas mais”, já que as necessárais novas medidas derivadas da COVID-19, obrigaram a que estas pessoas trabalhassem em em grupos diferentes.

Chega a ser reconfortante, para o repórter, ver um sorriso e uma palavra de agradecimento em cada um daqueles seres humanos que encontram, ali, um motivo para não desistir. Sim, não desistir! Porque, mesmo num Concelho tão pequeno como é o caso de Mira, infelizmente “não são poucos os necessitados… pelo contrártio, são cada vez mais!”

“Atualmente temos 67 famílias a serem apoiadas pela Cruz Vermelha de Mira”  confesssa, Zélia Morais que, apoiada por Ana Maria Soares, completa com o reconhecimento de que “se não fossem os nossos parceiros, seria imensamente mais complicado poder ajudar a toda esta gente que solicita a nossa contribuição!”.

Tendo iniciado as suas atividades há 12 anos, com 8 pessoas, na sede localizada num posto humanitário na Praia de Mira, a Cruz Vermelha trabalhava na época balnear, incluindo sábados e domingos, em prol das necessidades do momento. Daí a transformar-se no local e no serviço que hoje prestam, não demorou muito, uma vez que as necessidades aumentavam a olhos vistos, “desde a fase da Troika, no Governo de Passos Coelho, foi vertiginoso o aumento de pedidos de ajuda… a partir de então, os alimentos entraram na nossa lista de prioridades” dizem.

Nomes como Quitérios, Siro, Junta de Freguesia da Praia de Mira e até, particulares, têm contribuído com carros e carrinhas para que seja feita a busca de material em muitos pontos – até em Peniche, por exemplo – uma vez que, segundo as próprias, “a autarquia não nos empresta uma viatura para que possamos buscar os alimentos… isso nos entristece, pois todas as autarquias ajudam entidades como a nossa, porque sabem que estamos, muitas vezes, a substituí-las no trabalho que deve ser do Estado”.

Com parcerias importantes, tais como a CERCI, a CÁRITAS ou a OBRA DO FREI GIL, as dádivas recebidas são “totalmente entregues para quem precisa, tanto a nível de IPSS´s como particulares… não usufruímos de absolutamente nada, pois a nossa verdadeira compensação é a de sabermos que estamos a ajudar de coração e as pessoas percebem isso e são agradecidas”.

Mesmo não podendo “ajudar mais e melhor aos ínumeros pedidos” Ana Maria Soares e Zélia Morais, percebem no olhar de quem atendem – e a quem, muitas vezes, dão uma palavra de conforto – o reconhecimento que fazem questão de dividir com o Pingo Doce, por exemplo, para além dos já citados anteriormente, que “nunca nos negaram uma ajuda que fosse, para que possamos minimizar a problemática com que nos confrontamos, em Mira”.

 Nacionais e estrangeiros… as dificuldades não escolhem os que necessitam de apoio!

 

Mas, quem são os que procuram a ajuda da Cruz Vermelha mirense?

“Muitas vezes são idosos, com parcos rendimentos. Mas, cada vez mais, deparamo-nos com jovens brasileiros, colombianos e venezuelanos, por exemplo, que vêm para cá com a esperança de uma vida melhor que nas suas terras”. Entretanto, para a maioria deles, a COVID-19 acrescentou, ainda, um outro grande problema: a impossibilidade de continuarem os processos de legalização o que, para além de um grande transtorno burocrático, serviu também, para aumentar o drama de quem quer trabalhar e viver condignamente em Portugal.

Mas, como em todas as histórias de vida, também estes homens e mulheres eternamente agradecidos à generosidade com que são tratados, podem contar algo de bom. Este foi o caso ADRIANO DE SOUSA, um jovem vindo do longínquo Estado do Pará, no norte brasileiro que teve de “esperar, ansiosamente”, durante dois anos e sete meses repletos de incertezas e angústias, pela chegada da esposa e dos filhos.

“Foi… foi muito difícil mas, graças a Deus, exatamente na noite de hoje, iniciarei o meu trabalho, o que me enche de alegria e confiança num futuro melhor!” garante Adriano que, afirma categóricamente, estar “agradecido à Cruz Vermelha pela preciosa ajuda e pronto para ajudar a quem chega” pois ele bem sabe o que passou…

Os Adrianos, as Marias, as Paulas, os Josés… são pessoas. Seres humanos que necessitam de apoio permanente e que conhecem o poder da palavra gratidão. Eles reconhecem em cada uma das dez pessoas que, voluntariamente, dão-lhes os apoios necessários, uma espécie de anjo que está ali para que possam seguir em frente, mesmo com tantas dificuldades.

Não lhes falta o pão, o leite, o arroz, a massa ou a manta para o frio. Não lhes falta a palavra de conforto ou a mão que os ampare. E eles sabem que podem contar, por mais pequena que seja, com a ajuda que não os deixe dormir, nem aos seus filhos e netos, com a barriga vazia.

É nisso que os voluntários da Cruz Vermelha de Mira apostam. Sabem que a solidariedade é um bem que, quanto mais dividida, maior se transforma. É só isso o que lhes move!

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Como ajudar?

 

  • O armazém da Cruz Vermelha recebe donativos monetários e em mercadorias.
  • Pode contatar através do Facebook da Delegação da Cruz Vermelha de Mira ou…
  • ANA MARIA SOARES – Telemóvel 91 219 50 71
  • ZÉLIA MORAIS – Telemóvel 96 616 41 05