Cidadãos contra abate de árvores na Figueira da Foz falam em recuo “circunstancial” da autarquia

O movimento cívico contra o abate de árvores na Figueira da Foz alega que o recuo nessa intenção divulgado pela autarquia, é circunstancial e exige uma sessão pública de esclarecimento sobre as alterações ao projeto.

“Não aceitamos recuos circunstanciais, motivados pela concentração de algumas dezenas de pessoas que se uniram hoje para evitar um crime ambiental”, disse à agência Lusa o advogado Luís Pena, do movimento ambientalista Parque Verde, promotor do protesto realizado hoje contra o previsto abate de árvores na vila de Buarcos.

A autarquia da Figueira da Foz recuou hoje na decisão de abater 16 árvores em Buarcos, localizadas numa zona ajardinada junto ao mercado municipal daquela vila e vai reformular o projeto de requalificação urbana, cuja obra está em curso, disse o presidente da Câmara Municipal.

Em declarações aos jornalistas, João Ataíde (PS) assumiu que não sabia do corte de 16 plátanos, tílias e faias com cerca de 50 anos, localizadas num espaço ajardinado junto ao mercado municipal de Buarcos previsto para ser transformado em parque de estacionamento e garantiu que o abate não vai acontecer.

Num comentário às declarações do autarca, Luís Pena classificou de “extraordinário” o desconhecimento assumido pelo Presidente da Câmara.

“Então o dono da obra não sabe o que se vai fazer ali? Será que só o arquiteto e os técnicos sabem e os políticos não? É sintomático o desnorte de quem dirige os destinos desta cidade e que nem conhece o parque arbóreo do seu território”, argumentou Luís Pena.

“E mais extraordinário é que na Figueira da Foz, uma autarquia que se autointitula vanguardista em termos ambientais, os políticos que devem tomar conta dos destinos da cidade têm de estar à espera da ação de cidadãos atentos para que não acontecesse um verdadeiro crime ambiental, que seria da responsabilidade da própria Câmara Municipal”, alegou.

Em declarações aos jornalistas, João Ataíde classificou de “benéfico” o “alerta” dos cidadãos que se mostraram indignados com o abate das árvores.

“O alerta tem esse aspeto benéfico, obriga-nos a repensar o projeto. Sem dar por ela, podíamos estar a cometer aqui um dano sensível para a natureza”, frisou o presidente da Câmara.

Luís Pena argumentou ainda que a intenção de cortar as 16 árvores em Buarcos “não é um caso isolado” na cidade, aludindo à construção de uma rotunda, em 2017, junto a uma superfície comercial “que destruiu um jardim plantado anos antes” e o corte de amoreiras “quase centenárias” junto ao quartel da GNR por causa de uma obra urbana “que poderia perfeitamente ter sido compatibilizada com as árvores e não foi”.

Perante a intenção da autarquia em reformular o projeto e suspender o corte das árvores, o ambientalista anunciou que o movimento cívico pretende marcar presença na próxima reunião do executivo municipal, dia 30, e exige a realização de uma sessão pública de esclarecimento sobre as alterações ao projeto de Buarcos.

“Queremos saber em que termos querem harmonizar o projeto e também o que vão fazer no jardim Fernando Traqueia [situado do outro lado da rua da zona em questão e que também será intervencionado], que também tem árvores em risco de serem cortadas”, sustentou o advogado.

O movimento Parque Verde mantém ainda em aberto a eventual apresentação de uma queixa à Comissão Europeia sobre a intervenção camarária em Buarcos.

“Ao menor deslize da promessa feita de recuo [no corte de árvores] avançamos com a queixa, porque o financiamento comunitário destas obras é incompatível com atentados ao ambiente”, disse Luís Pena.

Lusa