Banda UHF celebra 40 anos com dois concertos e a edição de três álbuns em CD

A banda rock UHF, liderada por António Ribeiro, está a celebrar 40 anos, com dois espetáculos, em Lisboa e no Porto, em Dezembro, e a edição, em CD, este mês, de três álbuns até agora apenas disponíveis em vinil.

A 22 de Dezembro, os UHF atuam na Aula Magna da Universidade de Lisboa, e, a 29 de Dezembro, na Casa da Música, no Porto. Nestes dois concertos são convidados Ana Bacalhau, Frankie Chavez e The Legendary Tiger Man.

Antes destes dois espetáculos, no próximo dia 16, os UHF sobem ao palco do Teatro Avenida, em Castelo Branco, sem convidados especiais.

Além de António Manuel Ribeiro (voz e guitarra), constituem atualmente os UHF, António Côrte-Real (guitarra), Ivan Cristiano (bateria), Luís Simões (baixo), Fernando Rodrigues (teclas), “a formação mais consistente e duradoura da banda”, disse à agência Lusa António Manuel Ribeiro.

Um dos três CD a editar é “Persona Non Grata”, álbum de 1982, com os temas “Voo para a Venezuela”, “Um Mau Rapaz” e “Fim da Vida”, entre outros, e a faixa bónus “Amigos Até Logo”, inicialmente editada no lado B do ‘single’ “Um Mau Rapaz”.

A este junta-se o álbum “Ares e Bares de Fronteira” (1989), cujo CD inclui como faixas bónus “Chris”, que saiu originalmente no lado B do ‘single’ da etiqueta Orfeu (SINP 5), datado de 1983, e ainda “Puseste o Diabo em Mim” e “De Um Homem”, temas editados num ‘single’ Orfeu (SINP 19), de 1984.

O conjunto de três álbuns fica completo com “Ao Vivo em Almada. No Jogo da Noite” (1985), “o primeiro álbum ao vivo do rock português”, disse António Manuel Ribeiro. O CD inclui como faixa bónus “Rapaz Caleidoscópio”.

Este álbum, que o músico qualificou como “carismático” e “pioneiro”, foi gravado no Centro Cultural do Alfeite, base naval em Almada, onde a banda ensaiava.

Sobre a edição dos três CD, António Manuel Ribeiro afirmou à Lusa que foi a sua primeira celebração do 40.º aniversário da banda, e que se sentiu “mais emocionado do que se tivesse colocado cá fora um álbum de originais”.

Estes três álbuns em vinil foram editados pela discográfica Rádio Triunfo/Orfeu que, “entretanto, desapareceu”. “Ninguém sabe onde está a editora, não há comunicação, não saem discos novos, e não há nada”.

Os Long Play (LP), agora editados em CD, têm mais de 30 anos, tendo António Manuel Ribeiro decidido avançar para uma edição em CD, depois de ter feito uma leitura do contrato que assinou com a discográfica Rádio Triunfo, que mais tarde adquiriu a Orfeu.

“Decidi fazer uma edição, salvaguardando os direitos [autorais e conexos] de quem os apresentar, porque no fundo fiz um contrato com a Rádio Triunfo, que hoje não sei quem é o seu detentor, e se é que hoje existe alguém, legalmente, seu detentor”, disse o músico que realçou o “prejuízo enorme” que representou esta “ausência” dos álbuns no mercado.

A discográfica Rádio Triunfo e a etiqueta Orfeu, cujo espólio inclui nomes como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Sérgio Godinho, entre outros, foram adquiridas em 1979, pela Movieplay Portuguesa.

Os UHF começaram a editar na Rádio Triunfo/Orfeu a partir de 1982, altura em que deixaram a Valentim de Carvalho, e que Ribeiro qualificou como “o verão do ‘PREC’ dos UHF”.

Referindo-se à edição dos três CD, a partir de discos originalmente editados pela Rádio Triunfo/Orfeu, António Manuel Ribeiro afirmou: “Neste momento estamos a fazer história”.

“Este é um caso de lesa património cultural e lesa capacidade do artista e do autor, em poder realizar a sua obra e vendê-la. Não tem justificação, e tentei tudo. Tentei tudo, licenciar, comprar a obra, até que, em 2011, mandei uma carta registada e ninguém me respondeu, portanto acabou”.

“Eu assumo tudo, não são os UHF, sou eu, salvaguardando os direitos de autor, dos artistas. E quem aparecer como legal detentor do contrato [assinado entre os UHF e a discográfica] vai ter de negociar comigo, pois neste momento deve-me dinheiro”, desafiou.

Referindo-se à efeméride, e a projetar o novo álbum de originais dos UHF, António Manuel Ribeiro, em entrevista à agência Lusa qualificou o percurso artístico como “uma vida de entrega, uma causa uma forma de vida”.

“Quando começámos não havia nenhuma ideia, nem um sonho. Qual sonho?… É evidente que nós queríamos comprar uma guitarra, dar uns espetáculos, gravar um disco, mas eram sonhos muito próximos. Nem nunca pensei que pudesse durar dez anos, quanto mais quarenta”, disse.

Para o músico, a carreira foi fazendo-se, “vivendo, entendendo-se o país, a viver dentro deste país e com convicções”.

Sobre a longevidade da banda e os sucessos que teve, como “Rua do Carmo”, “Cavalos de Corrida” ou “Matas-me com o teu Olhar”, o músico afirmou que se deve ao facto de “ter tido os melhores professores da escrita mundial, nomeadamente os autores da canção de intervenção”.

“Nós temos grandes, grandes ‘cantautores’ em Portugal, seja o José Afonso, seja o José Mário Branco, o Adriano [Correia de Oliveira] ou a poesia do Manuel Alegre e do [José Carlos] Ary dos Santos. E, depois, tenho o ‘punk’, que é a devolução à rua, a quem não tem dinheiro, a demonstração de que a música se faz assim, sem meios, numa altura em que, após o 25 de Abril estava em moda o rock sinfónico e o rock jazz e, quanto ao resto, a rebeldia, é olhar à volta”, disse.

“Nós passámos a falar para a nossa geração com liberdade”, disse António Manuel Ribeiro, referindo que essa liberdade contrastava com o que se compôs nos tempos da Censura política, antes do 25 de Abril, que motivou “soluções de escrita fantásticas”, recorrendo os autores, então, à metáfora e ao uso da comparação.

Os UHF, originários da Costa de Caparica, no concelho de Almada, surgiram em 1978 na cena musical portuguesa. A formação inicial era composta por António Manuel Ribeiro (voz e guitarra), Renato Gomes (guitarra), Carlos Peres (baixo) e Américo Manuel (bateria).

O ‘single’ “Cavalos de Corrida”, o segundo da banda, saído em outubro de 1980, vendeu mais de 100.000 exemplares, tendo sido o primeiro da banda editado pela Valentim de Carvalho.

Em julho de 2017, a banda contabilizou 1.700 concertos em Portugal e no mundo, somava a venda de mais de 1,5 milhão de discos — entre álbuns, ‘extended plays’,’singles’ e cassetes — e a edição de quinze álbuns de estúdio.

Lusa