Augusto Louro de Miranda: “O Miralidades pensa as questões mirenses por outro prisma”

Dentre muitas atividades, Augusto Louro de Miranda é um dos administradores do Grupo Miralidades. Falando sobre tudo o que pensa, Augusto mostra aos leitores, o que pensa do atual panorama político local… e, não só!

1) De forma sucinta, pode dizer aos leitores do Jornal Mira Online “quem é” o Augusto Miranda? Como foi a sua infância e juventude? Como se define hoje?

Augusto Miranda é alguém que trabalha com crianças desde 1998. Sou licenciado em Ensino Básico – 1º ciclo, acumulo a docência com a condução de táxis em Aveiro e ainda sou dirigente dos escuteiros. Desde cedo habituei-me a trabalhar em diversas áreas. Enquanto estudante trabalhei numa fábrica no Corticeiro de Baixo em diversas valências, carpintaria e caixilharias de alumínio. Trabalhei também como monitor em colónias de férias e como vigilante num colégio interno.

Como os meus pais são ambos professores nasci e vivi em Águeda até aos cinco anos. Nessa altura o meu pai foi colocado definitivamente em Mira e a minha mãe no concelho de Vagos. Os meus pais são gandareses, o meu pai natural de Carapelhos e a minha mãe de Gândara (Freguesia de Fonte de Angeão). Fiz a minha instrução primária na escola da Parada de Cima (Fonte de Angeão) e no quinto ano fui para Mira. Foi uma mudança que me marcou profundamente pois nessa altura perdi algumas referências. Nessa altura a natalidade era bastante elevada, na minha escola éramos perto de cinquenta miúdos, eu frequentava a escola na Parada de Cima e a catequese na Fonte de Angeão. Nessa altura a rivalidade entre os dois lugares era intensa e algo feroz. Quando fui para Mira ainda me senti mais deslocado. Por volta dessa altura (1987) é fundado o agrupamento de escuteiros de Fonte de Angeão. Confesso que na altura entrei porque era filho de um dos dirigentes. No entanto com o tempo fui gostando. Em termos escolares continuei em Mira até ao 12º ano vivendo sempre entre Mira e Vagos. Por volta dos dezasseis anos afastei-me dos escuteiros algo de que me arrependo hoje em dia. Acabei por ingressar no ensino superior na Covilhã em engenharia, depois pedi transferência para Aveiro. Nesses anos acabei por me envolver em muitas coisas, muitas delas não muito boas. Resolvi mudar de curso o que desagradou os meus pais. Acabei por ser trabalhador estudante em Torres Novas distrito de Santarém. Nesses anos acabei por amadurecer, conhecer a minha mulher e de certa forma trilhar um rumo de vida.

Com 41 anos sou pai de duas crianças adolescentes ou pré adolescentes. Lecciono perto de casa, este ano em Febres, para o ano logo se vê. Nos tempos livres costumo conduzir um dos táxis da empresa do meu sogro. O meu sogro possui uma empresa de táxis que conta com quatro viaturas em Aveiro. Sou também o secretário do agrupamento de escuteiros de Fonte de Angeão que possui cerca de setenta elementos em que um terço são residentes no concelho de Mira.

2) Como consegue conciliar a família, os deveres profissionais e sociais?

Na família tenho a ajuda da minha mulher, o tempo disponível dela também é escasso, é educadora de infância e coordenadora do Centro de Bem Estar Infantil do Seixo de Mira e também dirigente no Corpo Nacional de Escutas, é responsável pelos lobitos. Também conto com os meus pais e com os meus sogros.

Em termos profissionais sou professor do primeiro ciclo e gosto muito de leccionar, reconheço que é uma profissão desgastante e cada vez menos reconhecida. Repare que estou no meu décimo sexto ano de trabalho e continuo no primeiro escalão quando deveria estar no quarto. Relativamente aos táxis é algo que descobri através do meu sogro. Quando namorava com a minha mulher ele incentivou-me a tirar o Certificado de Aptidão de Motorista de Táxi eu acedi porque cedo percebi que não devemos colocar os ovos todos no mesmo cesto. Quando ele adquiriu um segundo táxi percebi que teria de “entender” alguma coisa de táxis. Isto foi por volta de 2010 no início da “grande crise económica” que coincidiu com o início do “boom” turístico que Aveiro atravessa. Neste momento a empresa possui quatro viaturas. É algo que adoro pois conheço pessoas de diferentes estratos sociais e diferentes proveniências geográficas. Já vivi episódios bastante engraçados. Lembro-me de uns franceses que fui buscar num dia de jogo ao estádio de Aveiro. Como estava muito trânsito fui mantendo uma conversa em inglês com eles. Percebi que eles eram adeptos de rugby e não de futebol. Para os entreter referi que tinha visto um documentário recente sobre Sébastien Chabal a lenda francesa do rugby. Os franceses ficaram surpreendidos como é que em Portugal alguém sabia quem era Chabal, acabei por receber uma gorjeta choruda quando chegamos ao hotel com um valor bastante “inflacionado” no taxímetro devido ao tempo que estivemos parados.

Para além de tudo isto, ainda dou um pouco de mim para a sociedade num Agrupamento de Escuteiros. Sinto-me completamente realizado quer em termos familiares, profissionais e sociais.

3) O Miralidades é um grupo, sobre Mira, que existe nas redes sociais. Como surgiu o grupo?

O grupo surgiu entre mim, o Jhonny Ribeiro e a Anabela Quitério. Na altura chegámos a contactar a Marlene no entanto parece que ela não estava interessada. Foi por volta de 2011 ou 2012, como não estávamos satisfeitos com outros grupos. Queríamos um espaço para o contraditório, onde se pudesse debater mas sempre dando a cara. Acabamos por criar um espaço nosso e com as nossas regras. É um espaço com sátira, com escárnio, que pensa as questões mirenses por outro prisma, que pode dar ferramentas à sociedade para pensar por si. No fundo é um grupo que incomoda, aliás um dos administradores já foi ameaçado. Relativamente à “administração”, nem sempre é fácil, somos diferentes, sabemo-nos respeitar e respeitar o espaço de cada um. Nunca pedimos a ninguém para aderir ao grupo, no entanto aceitamos pedidos quase todos os dias. Tentamos fazer uma gestão cuidadosa e atenta. Entretanto acabou por surgir uma amizade entre os quatro administradores que representam as quatro freguesias mirenses.

4) Como cidadão, como faz a sua “intervenção política”?

Como cidadão sempre me lembro de intervir socialmente. Fiz parte da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Mira nos anos noventa. Lembro-me que enquanto estudava e trabalhava em Torres Novas de ter intervindo numa situação que acabou por incomodar o município local. Enquanto residi em Fonte de Angeão sempre me lembro de intervir localmente, inclusivamente ajudei a refundar o agrupamento de escuteiros que estava desativado e em risco de ser extinto. Sempre me senti bem em desafiar o “status quo”.

5) O que considera haver nos outros locais de Mira que faça falta na sua freguesia?

Faz falta muita coisa, mas parece-me que o que mais falta faz são pessoas. A Europa, Portugal e o nosso concelho atravessam uma “implosão demográfica” perceptível há algumas décadas. Carapelhos como uma freguesia pequena sente esta dinâmica de uma forma mais acentuada. Repare que a recente praça é utilizada na prática para funerais, aliás é praticamente uma praça funerária com o nome de uma pessoa viva. O que acaba por ser uma parábola da realidade desta freguesia. Tal como o cemitério que é o segundo mais antigo do concelho e o mais pequeno. Sempre gostei de ver cemitérios, os cemitérios acabam por nos mostrar como funciona socialmente aquela população, o seu estatuto económico, social e cultural. Temos cemitérios com jazigos e campas que são obras de arte em termos arquitectónicos. No entanto a minha família já sabe o que eu pretendo relativamente a isso.

6) Ao contrário, o que considera haver na sua freguesia que faça falta no resto do concelho?

A nossa vida é feita de etapas e estou há cerca de dez anos em Carapelhos. Tenho aqui grandes amigos e a minha família. No entanto sinto tanto Carapelhos, como Mira onde estudei e onde os meus pais vivem, como Fonte de Angeão onde os meus filhos nasceram, como Aveiro onde o meu sogro possui interesses ou até Águeda onde nasci. Existem pessoas em Carapelhos com mais energia e que sentem Carapelhos e Corticeiro de Baixo de outra forma, talvez até mais apaixonada que podem falar melhor sobre isso. Relativamente ao concelho posso dizer que é um concelho que se continua atrasar relativamente a Vagos e Cantanhede. Repare que estamos em 2018 e continuamos a discutir a falta de cobertura do saneamento. Algo que Cantanhede resolveu há décadas e Vagos há anos. Repare que a nossa Barrinha está cada vez mais poluída Cantanhede “resolveu” o seu problema mas Mira ficou com dois para resolver.

7) Alguma vez  já pensou candidatar-se para algum cargo público?

Nunca tinha pensado muito sobre isso até 2013. Em 2013 a comissão política do PSD de Mira desafiou-me a ser candidato, havia um problema com o presidente da junta de Carapelhos. Na altura algumas pessoas aconselharam-me a ter cuidado, pois iria desafiar uma pessoa perigosa e que eu não tinha experiência política. Aceitei ser candidato, acho que estive à altura. Consegui ficar em segundo lugar e tentei fazer oposição o melhor que sabia. Mas depressa me tentaram calar. Levantaram-me um conjunto de processos judiciais e profissionais que andei a resolver até há pouco tempo. Curiosamente todos terminaram arquivados e só um chegou a julgamento. O Ministério Público nunca acompanhou nenhumas das acusações. Na última a acusação cheguei a rir-me na presença dos guardas do posto de Mira. Relativamente à que chegou a julgamento, a sentença foi demolidora para a acusação. Os acusadores, nomeadamente Gabriel Pinho e o Fábio Ventura, nem sequer recorreram da decisão, provavelmente porque sabiam da falsidade dos argumentos. Fui ouvido recentemente num outro processo que decorre contra a juíza desse processo por queixa do principal patrocinador desses processo todos. Em suma percebi que na política não há espaço para pessoas honestas e verdadeiras. É uma gaveta que fechei na minha vida e que dificilmente voltarei a abrir.

8) Quando é atacado, nas redes sociais, como se sente? Tem sempre vontade de ripostar?

Quando sou atacado sinto que incomodo. Repare que um dos ataques recorrentes de quem não quer ouvir opiniões do Miralidades é que não temos mais que fazer… Por exemplo o Jhonny chegou a trabalhar em três sítios diferentes e consegue publicar questões e memes quase ao mesmo tempo… No entanto reconheço que o auge do facebook já foi e há vida para além das redes sociais. Tenho muitas atividades gosto muito de ler, gosto de cinema, de aquariofilia, de jardinagem, de electrónica e informática. Acabo sempre por andar absorvido com algumas destas questões. Gosto também muito de sociologia tal como de religião. Neste momento ando a ler e a tentar entender o Islão. O Islão é a única religião com uma forte vertente política. O Islão é antónimo de Democracia. Curiosamente é a religião que mais cresce no mundo o que é preocupante para a Democracia. Curiosamente o Cristianismo é a religião mais perseguida no mundo. Como escuteiro entendo que o escutismo poderia dar uma grande ajuda nestes tempos cada vez mais bélicos que vivemos. Baden Powel era protestante (anglicano) mas é talvez uma das personalidades mais conhecidas do mundo. O escutismo é um movimento “de” igreja e não “da” igreja. Existem escuteiros de todas as religiões. Repara que no conflito entre a Palestina e Israel existem atividades comuns entre os escuteiros palestinianos e israelitas. Os valores escutistas conseguem estar acima dos religiosos o que é assinalável.

9) Como define o atual momento político mirense?

Penso que caminhamos para um fim de ciclo. Precisamos de políticos honestos e verdadeiros e principalmente independentes de interesses económicos e partidários. Até há bem pouco tempo achava que os partidos políticos eram um mal necessário. Neste momento começo a achar que são dispensáveis. Repare que só em Portugal, é que o sistema político e partidário ainda não implodiu. Na Europa os partidos políticos tradicionais estão em cacos, continuamos sempre atrasados relativamente à Europa. Talvez porque temos uma população envelhecida. No entanto estamos rodeados de países que vivem em explosão demográfica, nomeadamente no norte de África.

10) Para finalizar… Há pessoas que gostam de intervir, fazendo comparações, mostrando imagens do que ainda está por se fazer… Considera ser, também, uma boa forma de chamar a atenção de todos?

Toda a intervenção política é saudável. Temos de ser exigentes com os políticos que elegemos afinal estão a gerir o nosso dinheiro. Temos que romper com algumas práticas, por exemplo gente que apropria de bilhetes que eram destinados a crianças é um sintoma dum regime que está a ganhar raízes tal como o anterior regime rosa. A única arma que temos é o nosso voto e cada vez pagamos mais impostos, logo temos de cobrar. É a norma em qualquer sociedade civilizada, veja o que se passou na Islândia e o que se passa nos restantes países escandinavos.

Jornal Mira Online